quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Epístola Décima Sexta:

Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).


(1)      Com efeito, além da precariedade multiforme que vivem e combatem, como podem, amiúde (com os meios de bordo), os Africanos devem enfrentar um outro adversário de peso, quão perigoso como o próprio subdesenvolvimento. Tudo isso (aliás), subentende as representações veiculadas desde séculos (senão milénios), no mundo europeu, particularmente na literatura, acerca da identidade negra e as suas (in)capacidades, que a afectam.
(2)      De consignar, que esta tela de representações, que se denomina (por comodidade) de “ideologia negrófoba”, manifesta numa panóplia de escritos pluridisciplinares. A Filosofia (tida como uma disciplina nobre) e fora de toda a suspeição (porque se pretende ser exercício crítico e de autocrítica da razão), aparece, no âmbito, desta ideologia sob uma imagem desfocada, visto que os filósofos mergulharam as suas penas numa tinta negra da ignorância (para não dizer do desprezo pelos Africanos).
(3)      De anotar, neste sentido, que algumas figuras “relevantes”, se tornaram, tristemente célebres, por assumir posições desmesuradas, desprovidas de razão, que suscitam nos leitores africanos, ora a surpresa irritada, ora a condenação em bloco da filosofia (dita ocidental), então (suspeita) de convivência com a ideologia negrófoba que, por assim dizer, teoricamente contribuiu para preparar e/ou justificar a submissão histórica dos Negros (Escravatura, Colonização).


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(4)      Prosseguindo, avisadamente esta nossa Peça ensaística (sempre, aliás, sob o imperativo eminentemente pedagógico), se nos afigura pertinente, propor, uma via segura de desenvolvimento, nada mais, nada menos, que a Filosofia em África (enquanto “Antropologia pragmática”), como compasso para empurrar (em ritmo compassado), o Continente à se auto-promover, à transcender a sua própria consumação. Trata-se de um poderoso instrumento, que poderia (muito utilmente), ajudar à consecução da Libertação mental dos Africanos (apanhados na ratoeira da ideologia “negrófoba”), podendo, deste modo, levar a cabo (o mais célere possível), a sua descontrução e a sua desmistificação respectiva.
(5)      Sim, efectivamente, o papel histórico da Filosofia do comprometimento em África, sem ceder às sirenes de um militantismo cego e sectário, que não honra a dignidade da reflexão filosófica, poderia contribuir para o esforço comum dos Intelectuais Africanos na desconstrução do complexo de superioridade colonial. Outrossim e, ainda, para interrogar a boa consciência eurocentrista que envolve a literatura negrófoba e superar as frustrações legítimas induzidas por esta literatura, desbloqueando possibilidades de uma dinâmica mental e comportamental nos Africanos.
(6)      Donde e daí (deste modo), a Filosofia comprometida em África poderá fazer frutificar (até mesmo) as páginas (as mais “negras” e as mais estéreis) da literatura negrófoba europeia para o cômputo dessas mesmas a quem (ela) não deixava (ainda) nenhuma oportunidade de abandonar a infância, se emancipar da primitividade (primeiras formulações) do que se denomina (presentemente) subdesenvolvimento da África.
(7)      E, em jeito de Remate assertivo:
a.     Os Intelectuais de África não poderiam perder de vista, que (eles), não são os únicos em fazer a crítica da escravatura, do colonialismo (ideologias da negação do outro), pela cor da pele, pela diferença da sua cultura. Não! Estariam (unicamente) de má fé, como fariam, identicamente prova de desonestidade intelectual e correriam o risco de se privar de aliados para vencer o monstro (responsável e culpado) dos hediondos crimes praticados contra a Humanidade.

Lisboa, 02 Fevereiro 2011
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).