“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895).
(1) Todavia, se o estado de precariedade no qual vivem a maioria dos países Africanos, se tornou uma fonte de preocupação para o outro (cuja fibra humanitária parece desenvolvida à altura das suas ambições hegemónicas) é, outrossim (e, sobretudo) para as filhas e os filhos de África (primeiras vítimas do que se denomina subdesenvolvimento) e que, no quotidiano, suportam uma precariedade social, económica e política, que coloca, em perigo, a vida das populações do Sul.
(2) De sublinhar (antes de mais), que o subdesenvolvimento já foi explicado de mil e uma maneiras, designadamente:
a. Uns situam a sua origem fora do Continente (denominar-se-á “exógena” este tipo de explicação), assentando-se, em programas imperialistas externas cujo fim é a pilhagem do Continente e o modo de acção: a violência, brutal ou dissimulada, por políticas neo-coloniais de cooperação fingida.
b. Outros situam esta origem no Continente, nos actos ou/em políticos (corrompidos, incompetentes, megalómanos), ou ainda, por comunidades incapazes (elas próprias), de agir, de modo organizado, eficaz e eficiente sobre o mundo que as envolve para satisfazer as suas necessidades (as mais elementares).
c. Entretanto, na realidade, o problema fundamental do Continente se define (por conseguinte), por um estado de impotência crónica para produzir (por e para si próprio), riquezas; para gerir as suas riquezas naturais ou as recebidas por perfusão e criar um conforto visível para todos (sem excepção).
(3) De feito, face ao subdesenvolvimento da África, que deve se entender (antes de mais), como precariedade multiforme, como insegurança certa nos domínios alimentar, sanitário, educativo, cultural, económico e político, as explicações se acotovelam, da incriminação do outro à suspeição de si, da denúncia da má governação nacional e internacional, à estigmatização dos entraves sócio-culturais, religiosos ou técnicos do desenvolvimento.
(4) Na verdade, as organizações internacionais edificadas após a Segunda Guerra Mundial para arbitrar as relações entre as nações não são instituições verdadeiramente democráticas, nem filantrópicas. Na verdade, existe nos países Africanos uma tensão (assaz) forte, uma reversão entre representações tradicionais e modernas do Mundo, do Homem e da História, que entravam a dinâmica do desenvolvimento. Na verdade, os valores religiosos, tradicionais ou importadas, frequentemente constituíram obstáculo à toda procura do bem-estar, do conforto material, por manifestações de desconfiança ante (do que se denominava desenvolvimento) e que é percebido como representando um risco maior de alienação económica dos homens e das mulheres.
(5) Com efeito (todavia, aliás), a todas estas razões, se ajunta, uma outra mais subtil, dissimulada na profundidade (tornada indolente) do nosso ser ou ainda no inconsciente colectivo do mundo negro, que teria à ver com a qualidade da relação à si (confiança em si ou desprezo de si), mediatizada pela relação do outro à si (relação despiciente e traumatizante do Branco ao Negro)?
(6) Eis nos, deste modo, ipso facto, conduzido para o conceito de “NEGROFOBIA”e que significa: “ódio, medo, desprezo do Negro pelo Branco e mesmo pelo Negro”e que é o Barómetro de uma desorganização completa da identidade africana que (unicamente), demorou demasiado.
(7) Todavia, o que é importante, sublinhar é que não se trata de soçobrar na “autovitimização” (em moda na Europa), visto que a negrofobia compromete, finalmente a própria responsabilidade do homem negro, tão bem, em relação à possibilidade de sair desta situação para se reconciliar com si próprio e com o outro (demasiado amiúde), apresentado como um “bode expiatório” perfeito.
Lisboa, 31 Janeiro 2011
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).