segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Peça Ensaística Sexagésima Oitava, no âmbito de

Na Peugada de
NOVOS RUMOS:


Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).

                        NP:

            Presentemente, em algumas Sociedades de África negra como, outrossim (aliás) as do Próximo Oriente e da Ásia do Sudoeste, o domínio masculino se afirma, de modo assaz violento, através do controlo do prazer feminino. Infibulação e excisão, entre outras, têm como único objectivo (seja o que for que se diga), submeter a mulher ao desejo do seu esposo e senhor.
            Pela ablação ou pelo enfraquecimento de um órgão votado ao prazer sexual, o homem pensa “tornar sensata” a mulher, torná-la fiel e dócil. Numa palavra: controlável!
            Com efeito, no Continente Africano, para encobrir uma ignóbil e detestável realidade, se legitima o acto. Em primeiro lugar, se ensina a mulher que tais práticas datam dos tempos imemoriais e que elas emanam da vontade do antepassado. Desde logo, que pais ousariam romper a longa cadeia que vincula a sua filha ao avoengo? Demais, não mandar excisar a sua filha, é condená-la ao celibato, por conseguinte à vergonha.
           

 Na verdade, o isolamento, a marginalização constituem o grande medo dos Negros Africanos. Numa comunidade, onde todas as mulheres são excisadas ou infibuladas, a que não o é, não existe. Ela é “imunda”, “repugnante” e “imprópria”… (para realizar o acto sexual). De anotar, outrossim (aliás), que acontece o mesmo com o rapaz. Ou seja: enquanto não for circuncidado, não pertence ao grupo dos adultos. A mulher (ela) não possui nenhuma legitimidade para se tornar Mãe, enquanto (ela) não sofreu a ablação do seu clítoris.
            O argumento religioso, sobretudo, nos países islamizados, vem consolidar a prática. Reputada como “impura”, a mulher não excisada não pode rezar. Deus (ele mesmo) a rejeita, por conseguinte.
            Donde e daí, nestas condições, ver na excisão, apenas uma mera prática “bárbara” não permite, nem compreender o fenómeno, nem sequer lograr remediar o facto. Esta prática abriga, com efeito, atrás de uma argumentação, tão engenhosa e tão elaborada que toda a tentativa de resposta racional está, ab initio, votada ao fracasso e malogro.

            Por seu turno, as ONG e as associações ocidentais, assim como os seus homólogos africanos, têm, antes de mais, erguidas, provas científicas para apoio, designadamente, os riscos sanitários para a mulher, não unicamente, no momento da operação, mas, outrossim, no âmbito do processo de procriação.
            Todavia, como responder aos seus detractores, que avançam com a evidência do crescente constante das populações africanas? Este “argumento”, não é, por certo, uma demonstração e pode mesmo passar por simplista. Ora, as populações em relação as quais se revezou são mais sensíveis ao discurso científico.

                        Enfim e, em suma:
            Demais (e, sobretudo), a excisão é apresentada como uma vontade do avoengo. Se um ocidental ou um Negro africano ocidentalizado se ousa opor ao facto, será acusado de querer prosseguir o grande projecto da colonização: A destruição das sociedades africanas. Eis, porque, as campanhas contra as mutilações sexuais contristam para atingir o seu objectivo, visto que são as próprias mulheres que estão encarregadas pela sociedade (pelos machos, dever-se-ia asseverar) cuidar da ordem milenar. De facto, a excisão é, com efeito, sempre praticada por mulheres, jamais por homens.
            E, rematando, avisadamente, na verdade, a erradicação desta prática só pode vir, por conseguinte, dos próprios Negros Africanos, o dia em que (eles) se capitulam à evidência dos factos, que não, unicamente, (ela, a excisão) não se justifica, de modo algum, mas ainda, que (ela) é altamente mutiladora, em todo ponto de vista.

Continua na próxima “posta”. O.K!

Lisboa, 09 Dezembro 2010
KWAME KONDÉ

(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).