domingo, 5 de dezembro de 2010

NA ILHA DOS AMORES











Sigamos estas Deusas, e vejamos
Se fantásticas são, se verdadeiras.−
Isto dito, veloces mais que gamos,
Se lançam a correr pelas ribeiras.
Fugindo as Ninfas vão por entre os ramos,
Mas, mais industriosas que ligeiras,
Pouco e pouco, sorrindo e gritos dando,
Se deixam ir dos galgos alcançando.

Qual cão de caçador, sagaz e ardido,
Usado a tomar na água a ave ferida,
Vendo no rosto o férreo cano erguido,
Pera a garcenha ou pata conhecida,
Antes que soe o estouro, mal sofrido,
Salta n’água e da presa não duvida,
Nadando vai latindo: assi o mancebo
Remete à que não era irmã de Febo.

[De Os Lusíadas de Luís de Camões – Canto IX, Estrofes 70 e 74]