Para quem não saiba, o jornal Diário de Lisboa era uma referência da Esquerda e tinha imensa saída entre os estudantes da época (antes e depois do 25 de Abril de 1974).
Propriedade da família Ruella Ramos, nele pontificavam: Piteira Santos (director) e redactores como os escritores Luís de Sttau Monteiro, Fernando Assis Pacheco e outros. O Diário de Lisboa era o meu jornal ― na altura era assim: “tinha-se” um ou mais jornais ―; eu gostava também de ler O Século mas não tinha os dez tostões para mais esse gasto, lia-o quase sempre no dia seguinte, como sobra.
Já o Diário de Lisboa, rendia-me muito na altura: guardava-o para o dia seguinte, e logo de manhãzinha, pelas 7h mais ou menos, “oferecia-o” ao cobrador do autocarro 34 da Carris, que fazia a carreira Benfica Hospital de Santa Maria. Havia entre mim e esse cobrador um acordo tácito muito seguro ― ele recebia o jornal e só me tirava o bilhete caso aparecesse um revisor a fiscalizar os títulos de viagem dos passageiros; de contrário eu viajava sempre à conta do Diário de Lisboa.
Mas é preciso contar como surgira o acordo tácito a que referi. Certo dia, vendo o cobrador interessado em ler qualquer coisa no jornal que eu levava, ofereci-lho de bom grado pois já o lera na véspera. Então o homem não me cobrou bilhete. Daí para o futuro foi como já contei...