sábado, 18 de dezembro de 2010

BEM HAJAS, KWAME KONDÉ

Passados 50 anos sobre o início das descolonizações dos territórios africanos pelo Ocidente, já vai sendo mais que tempo de responsabilizarmos também os africanos pela imagem que se tem de África; pela destruição de culturas ancestrais que até resistiram ao colonialismo; pelas tragédias humanas que assolam aquele continente e por grande parte da miséria que sabemos que lá existe.

Isso quer dizer que não podemos deixar de falar dos ditadores e das oligarquias cleptocráticas que desgovernam África; das guerras fratricidas entre tribos e povos, guerras alimentadas pela ganância de africanos pelo domínio dos recursos naturais de outros africanos e por aí fora.


Culpe-se ― e com “todíssima” razão ― o Ocidente colonizador pelos horrores e pilhagens praticados no passado; culpe-se o Ocidente quanto aos aspectos culturais e sociais destruídos pela sua passagem por África; mas culpe-se redobradamente os ditadores africanos, os cleptocratas africanos, os vendilhões actuais das riquezas dos seus próprios países em detrimento e para sofrimento, e até, em certos casos, pelo extermínio de grande parte dos seus povos pelas doenças, a insalubridade, a miséria, as guerras e a fome que a sua acção desumana e criminosa tem provocado. Culpe-se também quem mantém a África no subdesenvolvimento e na desgraça sem cuidar sequer de pensar que os que sofrem todos os males, até são sangue do seu sangue, são gente que eles se propuseram governar para as resgatar da humilhação colonial e da predação da sua riqueza ― mas que hoje submetem e conduzem a piores abismos porque desígnio nacional nenhum perseguem.

Vamos lá pegar este discurso ― este “vamos” que digo e escrevo pretende ser apenas uma figura de estilo, porque o que quero fazer com ele é incitar-te, a ti cuja dedicação à (e conhecimento da) cultura africana é tamanha e sobeja para a tarefa ― a pegar o “touro” por esta outra parte e a trazer-nos ao conhecimento também a culpa do homem negro no subdesenvolvimento e na miséria por que passam muitos povos africanos, sendo que muitos desses povos, uma grande parte deles, são oriundos e habitantes de vastíssimas e riquíssimas terras de África e apesar disso sofrem hoje tanto ou mais que no passado colonial. Peço-te isto porque me parece que o Ocidente, antigo colonizador, não pode pagar as favas todas; as favas de hoje devem ser debitadas a quem as apanhou e apanha desde há cinco ou menos décadas. Cinquenta anos, quarenta anos, trinta anos é muito tempo...! (*)

Bem hajas, meu caro amigo e colega, Kwame Kondé.

E BOM NATAL!

(*) Reconheço que em parte, embora de forma “diluída”, tens abordado a questão da “culpa” do africano no seu próprio “sofrimento”. O desafio, agora, é que sejas claro e contundente para com os nossos irmãos negros quanto às suas responsabilidades não ou mal assumidas.