domingo, 14 de novembro de 2010

Peça Ensaística Sexagésima Segunda, no âmbito de

Na Peugada de NOVOS RUMOS:

Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).

            “A educação é uma resposta da finitude da infinitude. A educação é possível para o homem, porque este é inacabado e sabe-se inacabado. Isto leva-o à sua perfeição. A educação, portanto, implica uma busca realizada por um sujeito que é o homem. O homem deve ser o sujeito de sua própria educação. Não pode ser objecto dela. Por isso, ninguém educa ninguém”.
                                   Paulo Freire (1921-1997).

Nos meandros do Diagnóstico do Estado actual da EDUCAÇÃO:

            --- De feito, presentemente, são as próprias condições de possibilidade do Empreendimento Educativo que vêem postas em causa pela Evolução das nossas Sociedades.
            --- Na verdade, toda uma série de dados que se afiguravam quão evidentes e que serviam de supedâneo e esteio à Instituição Escolar foram abalados e, até estão em via de desaparecer. Não se trata de lastimar o desvanecimento de um passado para o qual nenhum retorno não seja imaginável, nem desejável. Trata-se, sim, de evidenciar (tornar explícito) uma série de transformações relevantes e fazer sobressair o repto que representam. É apenas a este nível que se pode, verdadeiramente compreender as dificuldades às quais a Educação é alvo e se acautelar ante a tarefa de refundação que se encontra a nossa frente.


            Tendo em conta, o arrazoado, acima enunciado e exposto, uma Analise de envergadura e de cariz, dialecticamente consequente deve se processar, incidindo, avisadamente sobre quatro Vectores, designadamente:
            --- As relações da Escola com a família;
            --- O Sentido dos saberes que ela dispensa;
            --- A Autoridade de que ela necessita;
            --- Finalmente, o seu lugar na Sociedade.
            Vejamos, então a substância enformadora de cada um destes Vectores:
(A)      Da Relação Família/Escola: Esta relação era tida como um dado adquirido, que a Família e a Escola puxavam na mesma direcção e se partilhavam os aspectos de uma tarefa. Ora, esta aliança (aparentemente “natural”) se rompeu. Com efeito, as evoluções recentes da família induzem-na a se desonerar do seu prístino papel de socialização na Escola, incitando-a a contestar esta e as suas regras institucionais em nome dos seus próprios valores afectivos. Este divórcio estrutural sobrecarrega e fragiliza (concomitantemente) a Instituição Escolar, retirando-lhe um dos seus pilares mais indispensáveis.   
(B)      Do Sentido dos Saberes: Se houvesse, realmente, pelo menos, um apoio que parecesse sólido, constituiria o valor intrínseco dos Saberes dispensados pela Escola e, outrossim, a evidência de os adquirir, constituindo o único problema facilitar o acesso a ela. Era, aliás, na realidade, o produto de uma configuração histórica cujas bases se esboroaram. A Cultura e o Conhecimento perderam o lugar que, tradicionalmente lhes pertencia, no âmbito da Ideia do Homem e nos ideais colectivos e a função nova que lhes é transferida não suscita a mesma apetência. Já não basta “transmitir”, quando as razões de aprender constituem o problema.
(C)      Da Função da Autoridade: Desde que ela existe, a Pedagogia tinha a imposição autoritária por inimiga. Deste ponto de vista, os trinta derradeiros anos representam um término. Com pouca diferença, que a questão da autoridade se revela mais complicada que a denúncia dos seus abusos não o deixava aceitar nem de longe. Confundiu-se o autoritarismo na Escola, a ponto que não há lugar para lamentar, com a autoridade da Escola, em que ela não pode se passar. Se o reino da obrigação sem justificação se encontra, felizmente volvido, o exercício da Educação supõe o apoio de uma Instituição reconhecida pela Colectividade na sua missão.                     
(D)      Da Articulação Sociedade/Escola: As Sociedades modernas têm necessidade de Educação. É, aliás, um dos seus traços distintivos. O seu modo de funcionamento exige uma formação apropriada dos seus actores assegurada por um Aparelho especializado, aparelho cuja importância não cessou de crescer. O problema é que, se separando, deste modo, a preparação para a vida social, acabou por perder esta de vista. A sua função baralhou-se, numa Sociedade, onde, aliás, o Trabalho se tornou, simultaneamente invisível e abstracto, sob o efeito das transformações da economia e das mudanças da cidade. Para quê, exactamente prepara a Escola? A sua conexão com a actividade colectiva obscureceu. Disto procede uma enorme incerteza sobre o que convém fazer aí. Mais, amplamente qual é o conteúdo real da experiência quotidiana da criança, no Mundo compartimentado onde evolui? A solidão alardeada poderia esconder um empobrecimento pouco propício para uma dinâmica educativa.  
(E)      Posto isto, se nos afigura, quão pertinente e, assaz oportuno, asseverar, pedagogicamente o seguinte:
a.     Sobre cada um destes Vectores (ora, definidos), será necessário reconstruir, pela reflexão ponderada e vontade colectivas, as bases, que permitam o seu Exercício efectivo.
b.    Não se trata (evidentemente) de, com um catálogo de reformas, quando muito, que se supera um empreendimento desta natureza e envergadura. Tem-se visto, demasiado, neste âmbito, respostas, assaz prematuras e quão precipitadas, concretamente, no atinente a questões mal colocadas
c.     Donde, ipso facto, a urgência exige, sim, efectivamente uma reflexão adequada e dialecticamente consequente.  

Lisboa, 13 Novembro 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).