Na Peugada de NOVOS RUMOS:
“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895).
2008, Ano em que a População Mundial se tornou maioritariamente Urbana (…):
(I)
Não há dúvida nenhuma, que (nós) somos os coetâneos da mais profunda mutação que tenha conhecido a Humanidade desde o Neolítico. Donde e daí, que seria quimérico, pueril e ilusório comportar-se e agir como se os mesmos problemas se colocassem em termos idênticos, no âmbito de um colóquio secular de filósofos desvinculados destas contingências. De feito este Evento, de uma rapidez fulminante, tem, com efeito, transformado, de alto a baixo, a Existência Humana, a tal ponto que se afigura, assaz difícil identificar o que permanece da História Antiga. Ou seja: numa época em que a Igreja Católica submete as mais santas das suas relíquias a testes de datação ao carbono 14 e análises palinológicas, a própria religião sofreu o domínio da Técnica e se encontra abalada pelo facto.
Enfim e, em suma: A vida de um Homem, presentemente, já só possui uma remota conexão com o que era a vida dos seus avoengos (dois séculos mais cedo) e o até na intimidade das suas crenças.
(II)
Procurando ser mais explícito, segundo um Relatório publicado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2008, pela primeira vez, na História da Humanidade, a População Mundial se torna maioritariamente urbana. Sem mesmo considerar o mero facto, que uma tal verificação seja possível (ou seja: que a Humanidade possa, simultaneamente se quantificar e se localizar), esteja, deste modo, integralmente submetida aos caprichos da estatística, um tal Evento não é, quase nada, equiparável à passagem do nomadismo ao sedentarismo, que define a ruptura paleolítica e neolítica. Demais, de sublinhar, que este último se cumpriu, muito lerdamente, consoante um processo (denominado de Neolitização), que principia na Síria Palestina (no décimo milenário) para só ganhar a Grécia do Norte e os Balcãs no Sexto Milenário, enquanto (por seu turno), a urbanização da Humanidade se traduziu por um verdadeiro êxodo (dito rural), que em dois (2) séculos (apenas) deslocou centenas de milhares de homens e mudou a face da Terra.
(III)
Eis porque, se define, actualmente, a Condição urbana (por conseguinte) como a Condição do Homem, o site no qual ele se mantém como urbano, sendo a primeira exigência de um pensamento que se quer e se deseja lúcido, se assumir, como sinónimo de algo susceptível de elucidar esta situação nova. De anotar, por outro, que o traço característico de um tal site é de ser construído, fundado e edificado. Donde, verificar que o Homem vive em site urbano é averiguar que ele evolui, num meio, integralmente artificial.
(IV)
Na verdade, o espaço no qual ele se movimenta, a velocidade das suas movimentações, o ritmo das suas actividades, as imagens e os sons que se lhe impõem, as mensagens que recebe continuadamente, as matérias que toca, o alimento que consome, até o ar (condicionado ou poluído) que respira, tudo é resultado de uma produção artificial. Eis porque, no âmbito desta dinâmica, a sua conexão com outrem se encontra mediatizada pelo sistema da telecomunicação, sendo os seus próprios humores reprimíveis (à vontade), pelas moléculas de síntese da indústria farmacêutica.
(V)
E à guisa de Remate pertinente:
Eis nos então perante o seguinte facto. Ou seja, que a averiguação/verificação se impõe, segundo o qual o Homem já não vive no seio da Natureza, sim, efectivamente, num sistema de objectos produzidos para uma utilização, provavelmente determinada, visto que a Natureza desapareceu, ficando circunscrita aos “espaços verdes”, aos “recursos naturais” e ao “ambiente”, isto é, reduzida à uma mera função, que lhe é atribuída por este espaço urbano. A distinção entre o natural e o artificial foi, pela primeira vez, formulada no pensamento helénico, no qual se opunha “o que é por natureza” e o que é “pela técnica”. Deste modo, a oscilação da Humanidade da vida rural à condição urbana, que a arranca de um ambiente natural para a mergulhar num ambiente artificial, pode se definir pelo advento do reino da Técnica.
Lisboa, 02 Novembro 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).