sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Peça Ensaística Quadragésima Quarta, no âmbito de

Na Peugada de NOVOS RUMOS:


Ser culto es el  único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).

RaçaRacismo”:
(I)

(A)

                Se o vocábulo “racismo” é de aparecimento, relativamente recente, é, pelo facto, que só se tornou a doutrina oficial e central de movimentos e partidos políticos (designadamente, o partido nazi, na Alemanha que fez dele o centro do seu programa), após o nascimento dos regimes políticos modernos, das organizações de massa, que envidam em mobilizar ideologicamente grupos.
                Demais, ao mesmo tempo, que nasciam partidos, movimentos e associações racistas, se formavam Organizações que inscreviam o combate contra os preconceitos de “raças”, no seu programa. Sabe-se:
1)       Que em França, o famigerado “caso DREYFUS” conduziu, por tabela (melhor dito, como corolário), ao advento da Liga dos Direitos Humanos.
2)       E que, ulteriormente, após a Segunda Guerra Mundial (concretamente), na sequência da condenação dos horrores perpetrados pelo nazismo, um grande número de Instituições Internacionais e de Países passaram a estigmatizar, pública e oficialmente o “racismo” como um crime, ou seja, como uma autêntica doutrina de ódio.
3)       Eis porque, no âmbito desta dinâmica, a Carta das Nações Unidas de 1945, no seu capítulo I, indica como um dos fins primordiais da Organização, que, após a vitória sobre o totalitarismo nazi, se implante o seguinte: “Réaliser la coopération internationale en résolvant les problèmes internationaux d’ordre économique, social, intelectuel ou humanitaire, en développant et en encourageant le respect des droits de l’homme et des libertés fondamentales pour tous, sans distinctions de race, de sexe, de langue ou de réligion”.

(B)
                Todavia e antes de mais, se impõe, sublinhar a existência de um paradoxo, que merece ser descodificado. Ou seja: Os que pretendem combater o “racismo”, utilizam, necessariamente o vocábulo “raça”, enquanto, em termos gerais, pensam que este vocábulo não corresponde a uma realidade, ou seja à existência de grupos humanos, que possuem caracteres físicos ou psíquicos comuns (hereditários), grupos que se poderiam, aliás, hierarquizar consoante uma escala de valor.
                Demais, por outro, de consignar, adequadamente, que o “racismo” assenta, de facto sobre esta pretensão de atribuir a um grupo de homens (por causa de possuírem caracteres biológicos transmissíveis, de geração para geração), uma superioridade sobre outros grupos e reclamam, ipso facto, para este “grupo superior” um estatuto, direitos e vantagens (que recusam aos outros), pois que reivindicam, designadamente a condição da supremacia, como pertença exclusiva (inata) dos Arianos ou dos Brancos.

(C)
                A História do Ocidente, ao longo do seu percurso evolutivo, se encontra atravessado por dois (2) grandes modelos de “racismos”:
                --- O “Racismo”, que afirma a inferioridade dos Negros e escora uma forma de dominação radical: a escravatura.
                --- O Anti-semitismo, que, se apoiando na tradição cristã, considera os Judeus como “pérfidos” (os suspeita), os afasta e vai até ao ponto de os considerar como sub homens, que, por isso mesmo, devem ser destruídos.
                Enfim e, em suma: O Ocidente organizou as cruzadas contra os muçulmanos, no momento fundador, não sem resultados, em paga (leia-se, outrossim, como recompensa e compensação). Porém, o que é facto é que, efectivamente existe uma “epidemia” de “racismos”, como o “racismo” dos conquistadores do Novo Mundo, relativamente aos Índios, ou o “racismo” dos Gregos da Antiguidade, que se pretendiam superiores aos “Bárbaros”. Tem-se a haver, em PLATÂO (329-347 a. C.), por exemplo, num discurso dissemelhante do que o do “racismo” moderno, em que “raça” se apoia na Zoologia ou na Psiquiatria.

(II)
(1)        Por seu turno, o vocábulo/lexema “raça” encerra, um leque de significações, que variam, visto que, quer o vocábulo (em si e de per si), quer a organização do campo lexical mudam de uma língua para outra.
(2)        Todavia, sejam quais forem as variações de sentido, o termo implica a Ideia de um grupo que possui um fundo biológico comum. Eis porque, deste modo, se fala:
a.        Dos reis da primeira “raça”, o que significa, muito simplesmente, a primeira das famílias reais, cronologicamente (estamos ante a utilização do termo por MONTAIGNE ou por MONTESQUIEU, concretamente, este último, na sua obra: De l’esprit des lois, que fala das leis da primeira, segunda ou terceira “raça”).
b.        Identicamente, se emprega “raça” para os animais que pertencem a um mesmo grupo, sendo o critério, ordinariamente assumido, assentando-se, na ideia que os, que são da mesma “raça” são os animais que se reproduzem entre si.
c.        Porém, por vezes, se denomina “espécie” o grupo (na acepção mais lata) e “raça” (por seu turno), um grupo de animais, que possuem caracteres, que os permitem identificar entre si, como um grupo de semelhantes.

De anotar, aliás, que certos cruzamentos parecem originar animais de menos boa qualidade, conquanto “de raça” signifique, de uma “raça” pura, ou seja, que não conheceu mistura alguma.
De consignar, por outro, que, do ponto de vista da Genética e da História natural, cujo o objectivo assenta no estudo da Evolução das espécies tal qual foi proposto pelo Naturalista inglês, CHARLES DARWIN (1809-1882), a noção de “raça pura”não tem grande sentido, visto que os seres vivos são, sempre os produtos da Evolução de seres vivos anteriores: A girafa tem antepassados que não eram girafas, os Homens descendem de uma (ou de várias) espécie (s), que não eram homens e os povos civilizados têm por avoengos grupos humanos, que não o eram, sublinha, avisadamente o autor da relevante Obra, que é, efectivamente, “Da Origem das espécies”, que apareceu no já longínquo Ano de 1859, cujo Título original, em inglês é: THE ORIGIN OF SPECES BY MEANS OF NATURAL SELECTION.

(3)        As interrogações sobre a etimologia do vocábulo “raça”mostram, assaz bem a ancoragem da noção, na Zoologia. Vejamos então:
a.        O vocábulo português “raça”, etimologicamente é oriundo do Italiano (razza: conjunto de indivíduos de uma espécie animal ou vegetal, com características constantes e com competência para serem transmitidas aos descendentes). No entanto, tradicionalmente o lexema, ora é considerado oriundo do Latim (generatio, õnis: “geração”), com aférese, ora proveniente do Latim (ratio, õnis: natureza, motivo, causa, etc.). No século XX passado foi levantada a hipótese de o vocábulo derivar do francês antigo (haraz, século XII), francês (haras): estabelecimento destinado à reprodução do cavalo.
b.        Por sua vez, o vocábulo francês (race), provem (parece) do Italiano (razza). Por vezes, o termo é remetido ao lexema latino (radix), que quer dizer (“racine”: “raiz”), ou bem a um outro vocábulo latino (“ratio”), que quer dizer (“raison”: razão), como princípio de classificação.
c.        De referir, no entanto, que, uma outra etimologia foi proposta que não vincula “race” e razza a um vocábulo latino, todavia, a um termo de origem escandinava, que se encontra no francês medieval e que se emprega sempre em francês moderno: (“haras”), isto é, como uma expressão, que se refere a rebanho de garanhões (animais de cobrição) e de jumentos, destinado à reprodução e à melhoria das qualidades dos animais.
d.        Finalmente, de feito, a actividade de selecção, tendo em vista, o aperfeiçoamento das espécies vivas é um dos aspectos fundamentais da domesticação dos animais pelo homem, muito antes que a Genética não engendre uma técnica racionalizada. Demais, sem dúvida nenhuma, o Homem é a única “raça” animal, que se preocupa em actuar sobre a evolução das outras “raças” e pode imaginar melhorar a sua.

Lisboa, 10 Setembro 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).