sábado, 11 de setembro de 2010

A ORIGEM DA VIDA

Ao longo do tempo têm sido identificados aminoácidos nas amostras de meteoritos que caíram na Terra. Os aminoácidos são o princípio da vida tal como a conhecemos. Até agora o Homem só produziu em laboratório meia dúzia de aminoácidos bastante primitivos.

«De qualquer forma, o verdadeiro problema não é criar aminoácidos. O problema são as proteínas.»

«As proteínas são aquilo que se obtém ao encadear aminoácidos, mas são precisos muitos aminoácidos. Ninguém tem bem a certeza, mas deve haver cerca de um milhão de tipos diferentes de proteínas no corpo humano, e cada um deles é um pequeno milagre. Segundo todas as leis das probabilidades, as proteínas nem sequer deviam existir. Para fazer uma proteína é preciso juntar aminoácidos (a que, segundo uma longa tradição, sou obrigado a referir-me aqui como "blocos de construção da vida") numa determinada ordem, da mesma ma­neira que se juntam letras de uma certa forma para criar uma palavra.»

«O pro­blema é que as letras no alfabeto dos aminoácidos são normalmente muito longas. Para soletrar colagénio, o nome de uma proteína comum, precisamos de nove letras dispostas na ordem certa, mas para fazer colagénio precisamos de or­denar 1055 aminoácidos numa sequência absolutamente rigorosa. Mas — e este é um ponto óbvio mas crucial — não o podemos fazer. Ele faz-se a si próprio, es­pontaneamente, sem instruções, e é aqui que surgem as improbabilidades.»

«As probabilidades de uma molécula com uma sequência de 1055 como o colagénio se formar espontaneamente são, na verdade, zero. É simplesmente impossível que aconteça.»

«Resumindo, as proteínas são entidades complexas. Que acontecimentos fortuitos venham a produzir uma só proteína parece uma total improbabilidade — como um pé-de-vento que passasse por um ferro velho e dei­xasse montado atrás de si um avião Jumbo, para usar a colorida imagem sugerida pelo astrónomo Fred Hoyle.»

«E, contudo, estamos a falar de várias centenas de milhar de tipos de proteí­nas, talvez um milhão, cada uma única em si própria, e, tanto quanto sabemos, vital para manter um indivíduo são e feliz. E é daí que tudo parte. Para ser útil, uma proteína precisa não só de reunir aminoácidos na sequência certa, como também de se lançar numa espécie de origami químico, dobrando-se a articulan­do-se numa forma muito específica. Mas mesmo depois de conseguir esta complexidade estrutural, uma proteína de nada serve se não se conseguir copiar a si própria, e o facto é que não consegue. Para isso é preciso o ADN. O ADN é um mágico da replicação — pode fazer uma cópia de si mesmo em segundos — mas não pode fazer praticamente mais nada. Portanto, temos aqui uma situ­ação paradoxal. As proteínas não podem existir sem ADN, e o ADN não ser­ve para nada sem as proteínas. Devemos então concluir que eles aparecem simultaneamente com o objectivo de se apoiarem mutuamente? Se assim é, é espantoso!»

As bactérias são a forma de vida replicável mais antiga que se conhece. Algumas bactérias têm por função decompor substâncias químicas, das quais, tanto quanto se sabe, não retiram qualquer benefício.

«Tem-se encontrado bactérias a viver em lugares e condições absolutamente improváveis, em poças de lama a ferver e em lagos de soda cáustica e de ácido sulfúrico. Uma espécie chamada Micrococcus radióphilus foi encontrado a viver alegremente nos tanques de resíduos nucleares, devorando plutónio e tudo o mais que lá encontrava.»

«A Deinococcus radiodurans é quase imune à radioactividade. Se destruirmos o respectivo ADN por radiação, os fragmentos obtidos reconstituir-se-ão imediatamente como os membros irrequietos de um morto-vivo nos filmes de terror.»

[Bill Bryson, A Short History of Nearly Everything.]

BOA TARDE!