sábado, 14 de agosto de 2010

Peça Ensaística Vigésima Oitava, no âmbito de

Na Peugada de NOVOS RUMOS:


Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).

                                Nota preliminar:

                                Com efeito et pour cause, não há dúvida nenhuma, que a superioridade da Economia europeia sobre a da China figurou longamente como evidente, em particular, entre os historiadores ocidentais. Todavia e, sem embargo, no momento em que a actualidade proclama o que existia de transitório nesta supremacia, merece ser relevada a questão, que se prende, com o seu carácter inelutável.
                                Mais que nunca, a ideia, que uma tal hierarquia consiste em procurar nas civilizações elas mesmas, deve ser rejeitada liminarmente, visto que a questão de fundo deve incidir sobre o modo como cada uma soube resolver os problemas económicos, ecológicos e geopolíticos, que se lhes foram deparando (e colocados) pelos processos de desenvolvimento e pelo impulso e progresso respectivo da Indústria.
                                Enfim e, em suma: Tendo em conta, os conhecimentos idóneos, assentando sobre Investigações, assaz probas e seguras, conhecimentos que pôs em causa, muito das ideias recebidas, tanto acerca da Europa como sobre a China, a Índia ou das duas Américas, se passou, deste modo, a compreender, que foi a desproporcionada alocação geográfica dos recursos do carvão e a conquista do Novo Mundo que deram o impulso final à Economia europeia.

(1)      As demonstrações da tese que a Economia da Europa ocidental era a única capaz de originar a transformação industrial se repartem em dois (2) conjuntos.
a.       Os defensores do primeiro conjunto cujo o arquétipo é o Trabalho da lavra e autoria do Professor inglês, Eric L. JONES (n-1936), sustentam que, por detrás de uma similitude “pré-industrial”, de pura aparência, a Europa do século XVI ao século XVIII, se encontra já, muito adiantada em relação ao resto do Mundo, em termos de acumulação do capital, tanto humano como físico. No cerne deste modo de encarar, se encontra a convicção que diversos métodos de controlo da fertilidade inscritos nos usos sociais (casamento tardio, celibato dos clérigos, etc.) tinham permitido à Europa escapar ao regímen, por outro lado, universal da “fertilidade pré-moderna” e, por conseguinte, à uma situação universalmente propalada, na qual o crescimento demográfico absorvia a quase totalidade de todo o incremento da produção. Por essa razão, a Europa sozinha tinha sido capaz de adaptar a sua fertilidade aos períodos difíceis e incrementar as suas reservas em capital por cabeça (e, tão pouco, unicamente global), no longo prazo.
b.       Eis porque e, deste modo, consoante esta tese, ora enunciada, as particularidades dos comportamentos demográficos e económicos do comum dos agricultores, artesãos e mercadores originaram à uma Europa capaz de:
                                                                           i.      Conservar, em maior número (mais tempo), os não cultivadores, equipar a sua população com melhores ferramentas (sem olvidar a posse de uma maior quantidade de gado);
                                                                         ii.      A tornar melhor nutrida, mais e mais produtiva;
                                                                        iii.      E criar um vasto mercado de bens, melhores e mais diversificados que o estrito necessário.

(2)      De anotar, todavia, que trabalhos idóneos recentes consagrados às taxas de natalidade, à esperança de vida e a outras variáveis demográficas, no caso (concreto), da China, Japão e (de modo mais especulativo) da Ásia do Sudoeste transformaram, cada vez mais e mais, o que foi qualificado de êxitos singulares da Europa, amplamente propalados em traços…
(3)      O alcance e impacto respectivo destas descobertas está longe de ser plenamente avaliado, porém, elas foram, em parte, reconhecidas como único aditamento de relevância à tese do factor demográfico: Os seus detentores admitiram que houve, efectivamente crescimentos económicos acentuados, assim como uma elevação dos níveis de vida, num ambiente pré-industrial, fora da Europa. Todavia, se obstina em apenas outorgar a estes fenómenos o estatuto de florações efémeras, em que uma mudança política podia as levar, ou mesmo os seus efeitos, enquanto inovações produtivas não bastavam para antecipar os incrementos de populações suscitados pela prosperidade.
(4)      De anotar, antes de mais, que estes trabalhos, constituem, todavia, um notável passo em frente, atendendo a Literatura mais antiga: esta última defendia, de modo implícito ou explícito, que o Mundo inteiro era pobre e a acumulação ínfima, até à entrada europeia da época moderna. Entre outras virtudes, coagiram os investigadores a reflectir no atinente ao “declínio da Ásia”, paralelamente à “ascensão da Europa”. Todavia, estas formas de ver, pecam, amiúde, por anacronismo, cada vez menos, em dois planos fundamentais.

Continua
Lisboa, 11 Agosto 2010
KWAME KONDÉ
(intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).