segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Na Peugada de NOVOS RUMOS:

Peça Ensaística Trigésima, no âmbito de
Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895)


Acerca do comportamento de Nicolas Sarkozy em relação ao Continente Africano:

PARTE PRIMEIRA:
(I)

                O Mundo inteiro tomou nota do insulto/humilhação, que o actual Presidente francês, Nicolas Sarkozy infligiu ao Povo do nosso Continente Africano, na data de 26 Julho 2007, a Dakar (Republica do Senegal), através de um discurso “histórico”, consoante o seu conselheiro especial, Henri Guaino. Este discurso, a despeito de tudo pode servir de fio condutor para a refutação do pensamento dominante, a propósito das causas da emigração africana, o autêntico cavalo de batalha de Nicolas Sarkozy.
                Este (referindo-se, obviamente ao actual Presidente francês), visitou numerosos, outros países, após a sua passagem a Dakar, no entanto, em parte alguma, aliás, se mostrou tão arrogante e condescendente. Na Rússia, face a Poutine, o Presidente francês deveu pôr muita água no seu vinho, no atinente a Tchétchénia e outros assuntos que ofendem.

(II)
                Todavia, no âmbito da sua visita sobre as terras africanas e mediterrânicas da Líbia e de Marrocos, sabia que não tinha lições a dar. Porém, na companhia do actual Presidente Senegalês, Abdoulaye WADE, jogando com um pau de dois bicos (ou seja: ora, dizendo uma coisa, ora dizendo outra), significou, sem pestanejar, que o “problema Africano” era que os Africanos não tinham “pas assez entrés dans l’Histoire”. Eis porque, provavelmente, por este motivo, que as sucessivas leis sobre a imigração (que fez votar pela Assembleia Nacional francesa) privilegiam a triagem e a expulsão, com um tratamento, particularmente violento, quando se trata dos Africanos.

(III)
                Na verdade, os exemplos abundam e, de que maneira! Hélas! E, como ilustração do acima expendido, eis, conquanto, sem ser exaustivo, um certo número de factos que o atestam, cujos os eventos de Ceuta e de Melila, o naufrágio das embarcações de recurso e a resistência às expulsões, no aeroporto Charles de Gaulle, são assaz convincentes. Aliás, o ministro, Brice Hortefleux e os deputados do UMP que defendem o recurso aos testes ADN, no quadro do reagrupamento familiar, não escondem que esta ideia lhes veio ao espírito à partir de realidades administrativas, social e cultural da África.

                                                E, reflectindo, avisadamente e, em Voz Alta:
                                                Nada será perdoado, nem poupado aos
                                                Africanos. Cada um aí vai pelo seu emblemazinho
                                                Para se dar o sentimento de ser o melhor e de ter
                                                Razão.

(IV)
                De feito, os Africanos (em França) são estigmatizados, a propósito dos testes ADN, como acontecera, durante a última campanha Presidencial francesa. De sublinhar, que a subcontratação da violência aos países tampões, no âmbito da gestão dos fluxos migratórios Africanos, se verifica, identicamente nas missões confiadas aos franceses de origem africana. Nicolas SARKOZY mandar-lhes-á fazer, nos arrabaldes, no âmbito de franco fonia e do co-desenvolvimento o que ele estima ser justo e coerente com as suas promessas eleitorais. Chamar-lhes-á a atenção, se lhe acontece, por momentos sentir, que estão mais próximos dos imigrantes sem documentos ou dos sem-abrigo como da emenda acerca dos testes ADN. Homens e mulheres álibis ocupam, em suma postos em que podem maquiar a face hedionda de um governo que promete expulsar, isto é, humilhar 25 000 pessoas por ano, cuja uma maioria são Africanos, evidentemente.

(V)
                Sim, efectivamente, acossados, presos, rejeitados, aniquilados são
 Vítimas: da triagem, das expulsões forçadas e da obrigação de residência fixa imposta em nome da segurança da Europa. Todavia, quem dará ouvidos aos gritos e aos lamentos mudos destes “indocumentados”, compulsivamente transformados em “sem voz”?
                De feito, para a África, a História está a balbuciar, visto que pelo passado, transformados em meras mercadorias, os Africanos foram objecto de rapinas, triagens, separações e partidas forçadas. Todavia, era, então em direcção de céus donde, presentemente, podiam ser expulsos por causa da sua não rentabilidade económica.

(VI)
                Na verdade, no momento do Capitalismo globalizado, é como se os vencedores da guerra-fria tivessem empurrado a Terra toda para subir a bordo de um navio e embarcar ébrio e louco, em que os e as que são reputados pouco aptos para servir os seus interesses são internados no fundo do porão e selecionados, sendo os perdedores da selecção, arremessados à água.
                E, explicitando, um pouco melhor as nossas ideias, com efeito, temos então que:
                --- Inúteis os novos náufragos amontoados em embarcações de recurso supostos provenientes das costas africanas, rumo a terra firme da Europa. Hélas!...
                --- Invisíveis, constituindo a epidemia dos desesperados que atravessam o Inferno do Deserto.
                --- Indesejados constituem os inoportunos, que, entre os passageiros da “Air-France”, algemados pelos pulsos, são reconduzidos para os seus países de origem.
                --- Culpados/réus, os que, a bordo dos aviões ou dos navios, escutam os seus apelos de infortúnio e lhes estendem a mão.
                --- Enfim, Inaudíveis, os gritos dos que estão internados nos campos que brotam (tais cogumelos), em torno e no seio da Europa praça-forte. Oh, se pudessem, unicamente não existir!

O
OOOOO

Eis então, que o Ministério da Imigração, da Integração, da Identidade nacional e do Co-desenvolvimento (do qual a França se dotou), sabe como infligir a morte social, separando os “integráveis” dos “rejeitáveis”, sendo estes últimos reconduzidos, a bem ou a mal (quer queiram quer não), para os seus países de origem. Na verdade e, na realidade, os factos são de uma extrema gravidade e as perspectivas demasiado inquietantes. De uma ponta a outra do Continente Africano, assistimos, incomodados, todavia (quiçá), assaz “impotentes” (?) ao seguinte:
                --- A criminalização dos jovens constrangidos à emigração, na clandestinidade, pelo facto de serem oriundos de uma situação económica,
  política frequentemente desigual, visto que imposta por estes mesmos países ricos, que se protegem com barricadas. Neste particular, não há dúvida nenhuma, que o filão algodoeiro, que liga a França e as suas antigas colónias de África, assim como os acordos de parceria económica (APE), que a União europeia tenta impor aos países Africanos, ilustram, magistralmente esta situação quão estulta e assaz surrealista”.
                --- A banalização da violência, sob todas as suas formas (as mais variegadas possíveis), com particular incidência, nos pontos mais vulneráveis das nossas gentes e populações: As mulheres e os jovens, amiúde, oriundos das zonas desfavorecidas e do meio rural, constituem o alvo privilegiado. Eis porque, a sua manutenção sob constrangimento em país, onde não têm emprego para lhes oferecer, é algo de natureza conducente ao agravamento da pobreza, a destabilização dos Estados e à provocação de novos conflitos.
                --- A externalização das fronteiras da Europa e a subcontratação da violência, tanto nos países de trânsito como nos países de origem, fragiliza os equilíbrios, já precários, entre os Estados e dispõe as populações umas contra as outras.
                --- A prossecução da obstinada posição neo-liberal como resposta ao desemprego, à indigência e ao exílio, tudo isto permitirá aos ricos de se enriquecerem, cada vez mais e mais, incrementando as injustiças e as desigualdades, que desesperam os jovens e os incitam à tomar o rumo da emigração.

Lisboa, 15 Agosto 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).