quinta-feira, 15 de julho de 2010

Peça ensaística Décima Sétima, no âmbito de

Na Peugada de NOVOS RUMOS:


Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).

“…L’homme noir n’est pas un être particulier, pas
Plus que l’Afrique n’est une terre particulière ».

« En Afrique, chaque vieillard qui meurt est une
Bibliothèque qui brûle ». AMADOU HAMPATÉ BÂ
(Escritor malinês – 1901-1991).

(1)      O lugar do idoso, nas Sociedades Africanas é um dos raros aspectos destas Culturas a ser, quase unanimemente reverenciado. Eis porque, só se pode entendê-lo, sobremaneira, se recordando que, sobre terra a velhice marca a derradeira etapa, na esfera dos avoengos, guardiães da identidade dos Povos, dos quais se tornam, desde então (por essa razão) os referentes.
(2)      De anotar, que esta “idade avançada” (leia-se, outrossim, velhice) não possui a mesma significação que no Ocidente. A partir dos cinquenta, ou seja, à partir do momento em que o individuo se encontra na idade de se tornar avô, os Negros Africanos se classificam eles mesmos, entre “pessoas idosas”. Adoptam determinados princípios no atinente à indumentária (é o retorno os vestuários tradicionais ou supostos como tais) e frequentam a Mesquita ou a Igreja, de modo, muito mais assíduo que antes.
(3)      Qualquer que seja a sua idade, o velho é a criança e o adulto de ontem. A velhice confere novas funções e novas prerrogativas ao indivíduo, no seio da Comunidade. A pessoa idosa, todavia, só merece consideração se cumpriu convenientemente a sua tarefa de adulto. Aquele que recebeu e não retribuiu não é, com efeito, digno de respeito.
(4)      Ao longo do tempo, o indivíduo adquire uma experiência e um savoir-faire bastante significativos. Não se casa, não se baptiza uma criança, não se sepulta um semelhante, não importa como (de qualquer modo). Sem a presença de das pessoas idosas, estas cerimónias são sem interesse e, sobretudo, sem fundamento. Há gestos a executar, fórmulas a recitar, uma prática ancestral a perpetuar da qual apenas se reconhece a direcção unicamente à pessoa idosa. Ela constitui caução de verdadeiro, de legitimidade e de conformidade com o pacto ancestral, pois que pela sua longevidade, conhece a história de cada família da Comunidade, as convenções não escritas que regem esta última. De feito, o idoso é o nó fundamental que liga a criança ao ancião, para que o anel seja fechado.
(5)      Não há dúvida nenhuma, que é, em virtude deste papel excepcional, que ele merece ficar sob o encargo dos familiares e parentes mais chegados e, outrossim e, ainda pela própria Comunidade. Existe, aliás, sempre alguém ao pé dele para o apoiar e superar as suas dificuldades inerentes à sua idade.
(6)      Em suma: a idade, em África, não poderia constituir (antes pelo contrário), um motivo de exclusão, como acontece no Ocidente. E, visto que a pessoa idosa constitui um elo fundamental da cadeia de vida, a reforma não existe. Donde, se impõe, sublinhar, com ênfase, que, no dia em que as “casas de reformados”aparecerão em África, os Negros Africanos terão mudado de Filosofia e de modelo de Sociedade, obviamente.
(7)      E como Remate assertivo: todavia, não se preserva toda a idealização, visto que, como todo o comportamento humano, o respeito acordado à idade, conquanto ética moralmente louvável, se torna problemático à partir do momento, em que, ignorando o tempo e a evolução, se tem tendência a apresentar como um princípio imutável, até na forma. Eis, com efeito, o grande repto/desafio que deve releva a África. Ou seja: adaptar o lugar e o papel dos idosos na evolução da Sociedade, sem lesar ao respeito, que lhe são devidos.

Lisboa, 13 Julho 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).