quinta-feira, 22 de julho de 2010

O SENHOR DE MONTRAGOUX

O senhor de Montragoux ainda chorava a primeira esposa, quando lhe sucedeu dançar, na festa das Guillettes, com Jeanne de La Cloche, filha do inspector criminal de Compiègne, que lhe inspirou amor. Ele pediu-a em casamento e foi no mesmo instante aceite. Ela gostava de vinho e bebia em excesso. Esse gosto aumentou de tal forma que em poucos meses parecia que lhe nascia um barril no lugar do rosto. O pior é que esse barril, dominado pela raiva, rolava perpetuamente pelas salas e escadas, soltando gritos, injúrias, soluços e vomitando a afronta e o vinho sobre tudo o que encontrava na frente. O senhor de Montragoux tombava aturdido de desgosto e horror.


[...]


Seis semanas depois do acidente [que vitimou sua esposa, Jeanne, o senhor de Montragox], desposou sem cerimónia Gigonne, a filha do seu caseiro Traignel. Ela não andava senão de tamancos e cheirava a cebola. Exceptuando o facto de ser estrábica e de coxear de um pé, era uma rapariga muito bela.

[Anatole France - As Sete Mulheres do Barba-Azul]