“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895)
Acerca da Gestão Intercultural:
Um Ponto prévio:
a) O termo “intercultural” é mais, geralmente utilizado em oposição à “multicultural”, não unicamente como pertencendo a meios de origem distintos, outrossim, porém, como exprimindo duas perspectivas distintas:
a. Uma, mais exactamente, descritiva;
b. A outra, mais centrada, na acção.
b) A este propósito, a distinta docente universitária francesa, M. Abdallah-Preitcelle define o Intercultural como uma “construction susceptible de favoriser la compréhension des problèmes sociaux et éductifs, en liaison avec la diversité culturelle”, enquanto o multicultural, conquanto reconheça “la pluralité des groupes”, se preocupando evitar “l’éclatement de l’unité collective”, não possui intenção educativa.
c) Os dois termos se refeririam, por conseguinte, a contextos dissemelhantes. Ou seja: se a migração das populações corresponde a exigências de sobrevivência materiais e existenciais, os factores conducentes a esta planetarização das relações humanas ultrapassam, à larga, as capacidades de controlo, não unicamente dos indivíduos, mas outrossim, dos poderes locais. Eis porque, deste modo, o intercultural se definiria então como uma escolha pragmática face ao multiculturalismo que caracteriza as sociedades contemporâneas. É, precisamente a impossibilidade de manter separados grupos que vivem em contacto constante que acarreta a necessidade de construir modalidades de negociação e de mediação dos espaços comuns.
d) A abordagem intercultural representa, presentemente uma resposta possível ao repto lançado pelos novos cenários sócio-culturais: “L’emploi do mot “intercultural” implique nécessairement, si on attribue au prefixe “inter” sa pleine signification, interaction, échange, élimination des barrières, réciprocité et véritable solidarité. Si au terme “culture” on reconnaît toute sa valeur, cela implique reconnaissance des valeurs, des modes de vie et des représentations symboliques auxquels les êtres humains, tant les individus que les sociétés, se réfèrent dans les relations avec les autres et dans la conception du monde. » In Conseil de l’Europe, L’Interculturalisme : de l’idée à la pratique didactique et de la pratique à la théorie, Strasbourg, 1986.
Sendo, por seu turno, GESTÂO :
Grosso modo: Ciência da técnica de direcção e de gestão da empresa.
E, já agora, Duas pertinentes MARCAS:
1) Com a mundialização, os confrontos das culturas no meio profissional se multiplicam, se tornando necessário, uma abordagem intercultural da Gestão.
2) Por outro, de sublinhar, que a Gestão tem, progressivamente levado em conta a diversidade das culturas o que pressupõe, a necessidade da formulação de um conjunto de formas concretas de organizar o seu encontro no mundo da empresa, que evolui doravante num ambiente multicultural.
POSTA PRIMEIRA:
(I)
O Management Intercultural (leia-se, outrossim, Gestão Intercultural), enquanto conjunto de práticas, diz respeito, em primeiro plano, às empresas internacionais. Ele se edifica na análise das diferenças culturais dos termos que só assume sentido, definindo o conceito de cultura e desenhando áreas culturais que permitem o cotejo das culturas.
Ora, o conceito de Cultura remete para uma gama enorme de sentido. Ou seja:
a) As Ciências Sociais mobilizam o termo, identicamente quando for questão de identidade, de património hereditário, produções artísticas e materiais como símbolos e demais outras representações. Outrossim, analisam e comparam culturas de classe, culturas de empresa, culturas dominantes e contra-culturas, definindo, deste modo, o objecto de estudo das áreas culturais como geometria visível.
b) Identicamente, se restringirmos ao domínio da Antropologia, que fez da Cultura um objecto privilegiado, a noção permanece associada a realidades múltiplas, desde o projecto colonial, até ao ideal de comunicação entre os povos.
(II)
Não há dúvida nenhuma, que nestes derradeiros anos, aparece claramente, que a sensibilidade às questões interculturais dos responsáveis das empresas internacionais e os esforços realizados para as tratar, adequadamente, progridem. O desenvolvimento rápido das formações, no âmbito da gestão intercultural, quer se trate de formação contínua ou inicial, está presente para atestar o facto.
De anotar, todavia, que, no momento actual, os conhecimentos mobilizados e as experiências conseguidas são ainda demasiado escassos para que as práticas tenham atingido à maturidade. Na verdade, se muito dos discursos consideram, a tida em conta das culturas, como um factor de êxito, a utilização deste princípio se resume, amiúde, em se agregar às operações de gestão, que permanecem fundamentalmente idênticas a um verniz intercultural pouco eficaz. Donde e daí, um longo percurso resta a percorrer para que as empresas tomem acto do facto, que as culturas afectam profundamente as representações e coagem a renovações de práticas de Gestão.
(III)
Identicamente, a investigação deve progredir para ajudar as empresas a elaborar modos de gestão adaptados à interculturalidade. Trata-se, em primeiro lugar de estender a análise dos contextos culturais de gestão a novos países. A extensão do campo de estudos permitirá, não unicamente melhorar as práticas em cada lugar, alimentar outrossim as análises comparativas e aperfeiçoar as tipologias de áreas culturais.
Enfim, a investigação em gestão intercultural ganharia em combinar uma variedade de disciplinas e em mobilizar trabalhos conexos. Com efeito, numerosos domínios, designadamente, a Educação, o Trabalho Social ou os Médias estão em conexão estreita com problemáticas interculturais.
(IV)
Primeiramente, a Gestão Intercultural pode ser definido pelas questões às quais tenta trazer respostas:
1) Que dificuldades as diferenças culturais suscitam no âmbito da gestão de empresas e, sobretudo, quais as vias concebíveis e possíveis para ultrapassar estes obstáculos, poder, outrossim, beneficiar da diversidade cultural?
2) Mais precisamente, a gestão intercultural visa, em primeiro lugar, as interacções interculturais em meio laboral, melhorias que se medem pela vara da performance técnica e económica das equipas multiculturais, porém que remetem, outrossim para a experiência subjectiva das pessoas implicadas? Com efeito, a análise de depoimentos de imigrantes e expatriados revela o potencial de frustração, sofrimento até da patologia que encerra a imersão num universo cultural estranho e desconhecido.
3) Eis porque, se pode afirmar, avisadamente que a Gestão Intercultural consiste, por conseguinte, em construir articulações entre portadores de culturas dissemelhantes afim de minimizar as consequências negativas das diferenças para os indivíduos e as empresas e beneficiar dos recursos potenciais que oferece cada cultura.
(V)
A gestão intercultural recorre, identicamente ao estudo e a gestão das transferências internacionais, de ferramentas/utensílios de gestão, onde o choque cultural para ser menos visível não se afirma menos frontal.
De feito, os utensílios de gestão não são, nem neutros, nem universais, porém veiculam uma concepção da organização e do trabalho próprio do contexto cultural, que os viu nascer. Por exemplo:
a) Tal utensílio de controlo de gestão se edifica numa representação específica das conexões hierárquicas e dos papeis de cada um.
b) Mais precisamente: define implicitamente que deve prestar conta a quem, sobre que assunto e com que precisão.
De facto, não há dúvida nenhuma, que por detrás do utensílio técnico se perfila uma concepção da autonomia e da responsabilidade dos utilizadores. Quando estes utensílios impregnados de concepções culturais se encontram a disposição de pessoas oriundas de um outro contexto cultural, um choque cultural, de forma correcta, se realiza, mesmo que não assume a forma de contactos directos entre pessoas. A gestão intercultural se vincula, então às modalidades de execução local, adaptação e apropriação pelos actores destes utensílios importados.
Lisboa, 05 Maio 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo)
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