“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895)
Acerca das Classes Sociais Emergentes:
Peça ensaística segunda:
(1) Na verdade, vemos emergir uma formação global distinta composta por uma miscelânea de indivíduos, de categorias de população e organização diversas. Independentemente, de uma diversidade intensa marcada por uma ausência de interacção patente, existe nesta formação, condições objectivas e dinâmicas subjectivas partilhadas. O que se afigura pertinente, consignar é que esta formação não pode ser pensada como equivalente de uma sociedade civil global, mesmo se ela é, em parte, em momentos específicos e mesmo se o imaginário de uma tal sociedade civil global for uma condição subjectiva significativa, partilhada por algumas das pessoas e alguns dos projectos implicados. O que é, particularmente interessante para o propósito deste estudo, é o facto, que a maioria das pessoas interessadas, são inteiramente imóveis. Não fazem parte de uma classe transnacional de viajantes e das elites internacionais da nova sociedade civil global. Todavia, pertencem, realmente, quer objectivamente, quer subjectivamente, às formas específicas da globalidade.
(2) De feito, uma das preocupações que está na base de abordar a categoria de desnacionalização diz respeito aos tipos de redes inter-fronteiriças que os indivíduos e as organizações privados de recursos podem construir e juntar, mesmo que não são móveis. A chave do problema se deve ao facto que as lutas localizadas dos activistas podem ser globais, mesmo, estando confinadas num ambiente local em que os seus membros não teriam nem os meios, nem a permissão de viajar como quiserem (a seu gosto, à sua vontade).
(3) Pode considerar, entretanto, estas lutas como localizações da Sociedade civil global, sendo os espaços importantes para tais localizações das cidades globais que abrigam múltiplas organizações e redes diaspóricas ou activistas. Os actores destas lutas podem incluir diversos sectores desfavorecidos. Toda uma variedade de reagrupamentos e organizações que possuem recursos limitados, que só têm pouco ou nada de poder e, (não são, amiúde, mesmo oficiais). Por outro, de sublinhar são, frequentemente invisíveis para a política nacional e a sociedade civil nacional, não sendo reconhecidos, enquanto actores políticos ou cívicos, não sendo, outrossim, autorizados pelo sistema político.
(4) As cidades, que são fundamentais para a sociedade civil global, contêm, pelo menos, dois espaços chaves.
a. O primeiro é o espaço concreto das actividades políticas ou cívicas (distinto do espaço fortemente formalizado da política nacional e da sociedade civil nacional).
b. O segundo constitui o ambiente de ponta construído para as funções de controlo e a reprodução social do canal de empresa, que torna visível o sector de empresa global, cada vez mais e mais, evanescente.
i. Por outro, na verdade, o espaço parcialmente desterritorializado das redes electrónicas globais e, outrossim fundamental.
ii. Por seu turno, de anotar, que a Internet de acesso público assume aqui uma importância enorme. Permite uma comunicação e uma distribuição fáceis (a baixo preço) e, de modo crucial, a criação dos domínios electrónicos em que múltiplos actores oriundos de localidades dissemelhantes podem ser reencontrados.
(5) Oriundos destas condições (ora enunciadas) cinco (5) problemas podem ser identificados. Ou seja:
a. O primeiro diz respeito às formas de compromisso político e cívico, que se tornaram possíveis para os desfavorecidos nas cidades globais: Estas são, pelo menos, em parte, facilitadas pela globalização e o regímen dos direitos do Homem.
b. O segundo problema se deve ao facto que a presença de comunidades de imigrantes produz formas de caucionamento transnacionais específicas, inclusive diásporas globalizadas.
c. O terceiro problema diz respeito aos modos de confronto tornados possíveis na cidade global entre os desfavorecidos e o poder de empresa global.
d. O quarto problema consiste em determinar em que medida o acesso aos Médias (em particular, a Internet) permite aos dissemelhantes grupos ou os impele em transnacionalizar os seus esforços.
e. O quinto problema visa determinar em que medida tais compromissos e tais actividades múltiplas contribuem para a desnacionalização da cidade global e promovem, deste modo, formas de consciência e de pertença mais globais, mesmo entre os desfavorecidos e os imobilizados. Todos estes elementos fazem parte de micro estruturas localizadas da sociedade civil global.
Enfim e, em suma:
As massas de pessoas provenientes do Mundo inteiro, que, frequentemente se reencontram, pela primeira vez nas ruas, nos locais de trabalho e nos bairros das cidades globais, presentemente, produzem uma espécie de transnacionalismo in situ. Estes reencontros podem ser as de pessoas da mesma etnia, tendo empregos de altíssimo nível (isto é, reencontros de classes). Deste modo, se observa um reconhecimento emergente da globalidade, amiúde talhada pelo conhecimento das lutas e das iniquidades recorrentes de uma cidade para outra. Este conhecimento tornado possível, concomitantemente pelos Médias globais e a utilização, cada vez mais e mais propalado da Internet entre os activistas, funciona, aliás, como um facto, que como uma formação subjectiva. Esta dimensão subjectiva permitiria , cada vez mais e mais, aos desfavorecidos e aos localizados reconhecer a presença do global nestas cidades e a sua participação neste fenómeno. Deste modo, o global se torna visível, pondo, por conseguinte, numa posição ambígua, entre o nacional e o global, a maioria dos actores desfavorecidos, localizados e activistas.
Lisboa, 29 Abril 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo)
.