segunda-feira, 5 de abril de 2010

ELOCUBRAÇÃO QUADRAGÉSIMA QUARTA:

A comunicação Social e a Medicina:

Ser culto es el único modo de ser libre

José MARTÍ (1853-1895)


Um Ponto Prévio, para Principiar:


Os Médias, todos nós, vê-los muito bem. Ocupam, actualmente um lugar central, no nosso espaço político, social, económico e cultural. Estamos, contudo, melhor informados ou sobre informados? To be or not to be that is the question…De feito, esta questão, em todos os casos e circunstâncias respectivas, tem repercussões directas no âmbito do exercício quotidiano da Medicina, porque os pacientes vivem neste momento da comunicação mundial e querem, precisamente estar, na verdade, informados acerca das suas enfermidades. Todavia, o que, infalivelmente (sem falta), no século XXI, vai transformar a Medicina, são as possibilidades da Internet, de que se vê já, no hospital, as aplicações práticas.


PEÇA PRIMEIRA:


a) É, assaz evidente, contudo, por vezes, encontramos na obrigação de dever precisá-lo: Todos nós estamos, particularmente vinculados à democracia de opinião, à pluralidade e à liberdade de expressão da imprensa, como, outrossim, à livre Informação dos Cidadãos. Um Povo bem informado, em particular acerca dos problemas de Saúde que dizem respeito a questões vitais, é um Povo adulto. Pode-se, aliás, estabelecer uma linha de partilha no Mundo entre os povos, relativamente bem informados acerca da Saúde e os que continuam a suportar os efeitos deletérios dos regímenes ditatoriais, “fazendo batota” com a sua opinião pública sobre esta questão.

b) Posto isto, se impõe abordar o assunto que se prende com a conexão entre Saúde e Médias, de modo assaz pragmático, considerando três (3) ângulos, designadamente:

a. Em primeiro lugar, no século XXI, que tipo de interactividade se pode imaginar entre o mundo da Saúde e o Médico, visando fazer compreender aos nossos concidadãos que a eles compete uma quota-parte de responsabilidade individual no atinente ao seu estado de saúde, simultaneamente que existe grandes desafios/reptos colectivos? Se, a priori, os médias replicam que não estão ali para educar, mas para informar!...

b. Na sequência, se afigura necessário, reflectir sobre o modo do qual, voluntariamente ou, de forma instrumentalizada, os médias se vêm reduzidos a servir tal lobby económico ou tal capela médica.

c. Enfim, é preciso se interrogar sobre o facto de saber em quê as novas técnicas da comunicação e a possibilidade de receber informações instantaneamente, desde, não importa qualquer ponto do planeta podem modificar a distribuição dos cuidados e as abordagens em matéria da investigação médica.


c) A função/missão fundamental do média é informar e bem. O que é que isto significa concretamente para um assunto como o da Saúde, em que se deve respeitar um certo e determinado número de valores de carácter ético? Aliás, não se deve prometer aos pacientes falsas esperanças, que se traduzem, na realidade, por sofrimentos suplementares e ao fim de contas, a desesperança (leia-se ausência de esperança). Não temos o direito de brincar com uma situação tão íntima e, assaz delicada!

d) No entanto, o que é grave é que, infelizmente médias, por todas as espécies de razões, cultivam a ambiguidade. De feito, no âmbito da imprensa escrita, é suficiente o teor sensacional de um título que deixa entender aos leitores sofredores que se encontrou uma solução para os seus males, enquanto o artigo correspondente explica, precisamente que se trata apenas de uma investigação teórica não possuindo, no momento actual, nenhuma aplicação prática. Enfim e, em suma: Multiplica-se, outrossim, as apresentações sensacionais de tal ou tal operação anunciada, a cada momento, como uma primeira Mundial. Donde, por conseguinte, médias deveriam prestar muito mais de atenção ao que ao que é dito e escrito no domínio da Saúde.

e) Finalmente, de sublinhar, com ênfase, que ao lado das questões éticas, há que ter em conta os problemas económicos relevantes, ou seja: se está, continuamente, à procura de fundos para financiar despesas novas perfeitamente justificadas e, se encontra, outrossim, em busca de meios para alimentar as indispensáveis despesas da investigação. Todavia, quando ao lado disto, se emociona contra as práticas médicas ou comportamentos abusivos perante a Segurança Social, é de concluir que o público não vê bem que se trata do interesse colectivo. É culpa de médias? Não, com certeza! Sim, claro, a culpa é, seguramente do sistema em que médias fazem parte. Aliás, quantas vezes, se pode verificar estas situações… Eis porque, pode-se desenvolver, em teoria, fortes críticas ao sistema de cuidados médicos, no entanto, quando se encerra uma Maternidade virada perigosa e, que, ipso facto, não é necessário manter aberta, os médias, fazem do facto “uma”, pois é um assunto conflituoso (leia-se, melhor ainda, que envolve conflito), susceptível de fornecer uma audiência, fazendo disso, o ensejo para coagir a chorar, no seio de todas as famílias…Porém, a realidade que é mostrada, num tal caso, é normalmente, assaz truncada, visto que, a despeito de tudo, encerrar uma Maternidade perigosa, constitui, algumas vezes, salvar vidas das crianças e preservar as das mães. De feito, neste caso, em concreto, existe uma verdadeira responsabilidade de médias que, habitualmente, se quedam à superfície dos eventos, quão sérios e delicados.

Finalmente, no âmbito da problemática da Saúde, devemos todos, sem excepção, ser abertamente hostil ao sensacional porque existe, por detrás da esperança e do sofrimento, a Vida e a Morte.


Lisboa, 05 Abril 2010

KWAME KONDÉ

(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo)

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