segunda-feira, 26 de abril de 2010

ELOCUBRAÇÃO QUINQUAGÉSIMA:

Ser culto es el único modo de ser libre

José MARTÍ (1853-1895)

Das Classes sociais Emergentes:

Peça ensaística primeira:

(A):

O conceito de classe, que utilizaremos, nesta nossa Peça ensaística, assume o desígnio de “agregar primordialmente, toda uma variedade de grupos, que começam a assumir formas sociais globais coerentes”. Donde e daí, efectivamente, que a formação destas classes revela uma dinâmica que desagrega, em parte, o nacional do interior. Estas classes assumem a forma de Instituições bem específicas, designadamente:

1) No Aparelho do Estado;

2) Na Economia e na

3) Sociedade, na acepção, mais estrita do termo e da expressão respectiva.

De sublinhar, outrossim e, por outro, que esta desagregação debilitou a influência que a Política, os sistemas e os programas nacionais exerceram historicamente sobre os grupos particulares que englobam estas classes emergentes, obviamente. Simultaneamente, as características destas classes, em particular, a sua posição ambígua entre o global e o nacional indicam uma implantação prolongada, mesmo que parcial, no âmbito dos domínios nacionais. Por conseguinte, se os descreve melhor, asseverando que são classes parcialmente desnacionalizadas, interpretação que contesta, outrossim a noção dominante, segundo a qual as classes globais são cosmopolitas, precisamente porque se encontram fora do alcance do nacional.

E, tendo em conta, que “classes globais” é o termo corrente utilizado na literatura erudita é o que utilizaremos, ipso facto, neste nosso Estudo ensaístico.

(B)

a) ---As classes globais novas são provavelmente concebidas, ou melhor, enquanto forças sociais emergentes. De anotar, antes de mais, que a sua inserção respectiva, nas nossas Sociedades, não se opera, presentemente através dos quadros institucionais, desde há muito tempo, estabelecidos ou de lutas políticas (as que são conduzidas pelos partidos políticos e os sindicatos). Um ponto-chave da análise, neste capítulo, consiste em mostrar que, conquanto, sendo globais, estas classes estão implantadas em graus diversos nos ambientes nacionais e, por conseguinte, melhor compreendidas, enquanto são parcialmente desnacionalizadas. Esta distinção é fundamental para compreender a sua articulação com a estrutura de classe nacional e para saber se ela perturba esta última.

b) --- Eis, então, que uma primeira questão se nos depara e que diz respeito às conexões destas classes e dos ambientes nacionais. Existe, de modo evidente, diferenças importantes quando se trata da sua inserção nos contextos nacionais. Todavia, esta classe se encontra, muito mais fixada no lugar que o não deixaria pensar o seu imaginário ordinário.

Porém, no atinente, à classe heteróclita dos trabalhadores desfavorecidos, a situação é praticamente inversa. Ou seja: esta classe se encontra muita mais implantada, no que se pode considerar como o local de trabalho global, onde a política transnacional que não se podia esperar por isso através do imaginário associado a estes trabalhadores.

Enfim, a proliferação das redes de responsáveis governamentais especializadas pode ser encarada como a construção do capital social internacional para os Governos implicados. Porém, extrair a utilidade deste capital social exigirá construir pontes entre as políticas nacionais e internacionais, por um lado e, por outro, a política sobre questões que foram, em geral, pensadas como nacionais. O que significa, que será necessário reconhecer que o global se constitui, em parte, em ambientes nacionais.

c) --- As três classes, cada uma, na sua forma de ver, estão fortemente inseridas em contextos bem delimitados territorialmente: as cidades globais e os governos nacionais. Poder-se-ia asseverar que cada uma delas é um agente que torna o global parcialmente endógeno para ambientes específicos nacionais. De anotar, avisadamente, que esta análise ora enunciada tem consequências outrossim para a análise de classe como para a política governamental nacional. Estas consequências estão em oposição às que poderiam estar associadas às noções de classes cosmopolitas livres de todo apego e de toda a necessidade nacionais.

d) --- Uma segunda questão diz respeito à conexão entre as classes globais novas e as estruturas de classe nacionais.

Esta conexão vale fundamentalmente para a classe profissional e para os trabalhadores espoliados. Há muito a dizer acerca do assunto, porém, por economia de espaço, vamos concentrar sobre dois aspectos, assaz relevantes. Donde, então:

-- O primeiro consiste no facto, que estas duas classes globais fazem parte de um processo de estruturação económica profunda, que contribui para uma procura acrescida de profissionais altamente qualificados e de trabalhadores a baixo salário, nos serviços e na produção. Esta procura bimodal de mão-de-obra se torna evidente (concomitantemente, na rua e nos dados estatísticos) e, nas cidades globais mais que não importa onde algures. A este respeito, as formas actuais de globalização económica reforça a desigualdade e produzem, mesmo, novos tipos de desigualdades. Eis porque, reconhecer as interacções das formas sociais e das situações que, usualmente se julga sem relação é um verdadeiro desafio para a análise.

Exemplificando, adequadamente: Nos centros financeiros internacionais ultramodernos, nas cidades, como Nova Iorque e Londres dependem, de feito, de uma gama de trabalhadores e empresas, muito mais vasto, que não se o supõe, em geral: todas as espécies de empregados de serviço a baixo salário trabalham nestas cidades globais. A opinião pública e as nomenclaturas políticas classificam estes empregados a baixo salário, integrando-os nos sectores atrasados da economia. Eis, efectivamente, um erro crasso! De feito, uma análise, em termos de classe, distinta de uma análise das estratificações ou dos grupos profissionais, seria centrada sobre as interacções sistémicas.

e) --- Um terceiro aspecto fundamental, em conexão com as classes globais e as estruturas de classes nacionais, consiste no facto que as novas segmentações são filtradas através das culturas políticas e administrativas distintas, nomeadamente:

-- Uma cultura neo-liberal que abre um país aos circuitos profissionais do capital global, por um lado;

-- E, por outro, as políticas de imigração que fecham um país o acesso ao mercado do emprego à baixo salário.

De sublinhar, que filtrar os novos processos através destes quadros políticos, que são mais antigos e vetustos, em muitos aspectos, tem para fim obscurecer precisamente estes aspectos da globalização, que se pretende esclarecer, de modo consentâneo e consequente, designadamente: o apego geográfico, mais que evidente da nova classe profissional e a globalidade mais evidente da nova mão-de-obra desfavorecida.

De feito, estes dois quadros políticos não conectados contribuem para obscurecer o facto que consigna, que os novos tipos de segmentação que estas duas classes globais inserem no tecido político e cívico de um Sociedade pertencem ao capitalismo avançado.

Finalmente, assertivamente, não há dúvida nenhuma, que a análise, em termos de classe, deve ter em conta, as estruturas deste último pelo facto que, presentemente, mais que não importa qual outro momento do século XX pretérito, elas funcionam, em conformidade com uma geografia global aos sítios múltiplos. Deve, enfim, levar em conta o facto, que a classe global dos trabalhadores a baixo salário é mais global e, por conseguinte, mais indicativo do futuro, antes que de um passado findo, que não consente imaginá-lo.

Lisboa, 25 Abril 2010

KWAME KONDÉ

(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo)

.