sexta-feira, 23 de abril de 2010

ELOCUBRAÇÃO QUADRAGÉSIMA NONA:

Ser culto es el único modo de ser libre

José MARTÍ (1853-1895)

Nota Prévia:

(1) Com efeito, a Ciência do Comportamento não reside, única e exclusivamente (como admitem alguns), nas observações dos animais selvagens em liberdade, com algumas experiências realizadas. Ela se compõe, outrossim dos dados inumeráveis recolhidos no laboratório, em condições, assaz rigorosas, seguindo um plano muito preciso.

(2) De sublinhar, por outro, demais, que a Ciência do Comportamento passa por graus insensíveis à Neurofisiologia, isto é, ao ensaio de interpretação dos comportamentos pelo substrato neuromuscular. Não há dúvida nenhuma, que apenas a Neurofisiologia detém a chave dos comportamentos. Sim, efectivamente, só ela os pode explicar adequadamente. Todavia, os etólogos, pelo contrário, sabem apenas o que é necessário explicar.

(3) Assim, em consequência das necessidades experimentais, os Neurofisiologistas são, sobremodo coagidos em considerar apenas comportamentos muito simples nas situações, assaz pobres (isto está a mudar com as técnicas de registo à distância – biotelemetria – e com a implantação crónica, no cérebro, de eléctrodos que podem ser excitados por via hertziana). Estas situações estão longe de compreender todo o Comportamento. Demais, muito, frequentemente mesmo, apenas se compreendem uma pequena parcela, o acento estando colocado, antes na Fisiologia das vias nervosas.

(4) E, para concluir esta Nota Prévia, vale a pena referir aos dois tipos de situações que se apresentam, logo à primeira, ao Etólogo. Ou seja:

a. As em que o animal é confrontado com um problema (depredação, construção, orientação) e

b. As em que ele se encontra em conexão, quer com o seu cônjuge e as suas “crias”, quer com os outros membros do grupo. Isto vai fornecer três (3) sub divisões: O estudo dos comportamentos do animal isolado;

i. O estudo da família;

ii. O estudo das conexões sociais.

(I)

Do Conceito/Noção/Definição da Etologia:

Etimologia:

--- Do latim: ethologia “etopeia”;

--- Emprestado do Grego: ethologia (“etopeia”).

-- Segundo o clérigo regular da Ordem de São Caetano, Rafael BLUTEAU (1638-1734): “representação ou discurso, em que se descrevem os bons e os maus costumes dos homens, as paixões humanas”, acepção essa que procede directamente do Latim. Em contrapartida, as acepções científicas: do Inglês Ethology; outrossim o reaproveitamento da lavra do filósofo e economista inglês, John Stuart MILL (1806-1873), no sentido de “ciência que estuda a formação do carácter, entendido como conjunto de traços psicológicos e/ou morais”.

Donde: Etologista: que ou aquele que se dedica ao estudo da evolução.

Etólogo: especialista em Etologia (ou, outrossim, pessoa versada em Etologia).

(II)

Segundo a Enciclopédia PÚBLICO (volume 8, 2004): Etologia (Ramo da zoologia) é Ciência do comportamento dos animais no seu respectivo meio natural. Estuda o conjunto das condutas inatas ou adquiridas, pelas quais um animal vence e resolve as dificuldades e os problemas que lhe impõe o ambiente, físico, biológico, para viver, sobreviver e reproduzir-se.

(III)

a) O comportamento dos computadores constitui a única analogia com o comportamento animal. Podem mudar de programa, em caso de necessidade, isto é, ao chegar a um fim por meios dissemelhantes: os animais, identicamente (o caso do rato que aprendeu um labirinto, caminhando e que pode percorrer, em seguida, nadando sem se enganar, conquanto com um modo de locomoção inteiramente dissemelhante).

b) Donde e daí, resulta que a observação minuciosa dos gestos dos animais não constitui, quiçá o único fim, nem tão pouco, o fim mais relevante, da etologia. Deste modo, se afigura mais oportuno, estudar provavelmente, as possibilidades últimas da máquina orgânica, observando os problemas complexos, ipso facto, mais instrutivos que os simples.

c) De feito, a construção é um destes problemas. Exemplificando:

a. Entre os frigânios, que reparam o seu revestimento, se vê claramente que usam todas as espécies de métodos, variáveis com os indivíduos e, num mesmo indivíduo.

b. Entre as abelhas, as reparações (as mais complicadas) são efectuadas, seguindo a solução óptima, por um processo complexo e variável, em que indivíduos intervêm, de uma forma, que falta definir.

c. Entre as formigas acontece o mesmo.

d. Finalmente, por seu turno, as aves oferecem construções de uma singular complexidade, como, aliás, entre os ptilonorhynques.

(IV)

Com efeito, a aprendizagem animal não se limita, completa e absolutamente às técnicas simples e ingénuas dos primeiros experimentadores. O problema actual é, muito menos, discutir, a perder de vista, acerca do papel do reforço ou estabelecer a curva de extinção, num rato que saber se, na verdade, como o parece, os macacos podem dialogar com homens.

O animal pode reencontrar o seu poiso a distâncias, por vezes, fantásticas. O que é importante já, não é estudar os tropismos, visto que o problema real da orientação o ultrapassa, muito longe. Explicitando:

a) Significa, compreender os mecanismos do retorno ao ninho no pombo;

b) Do retorno ao sítio de postura do salmão;

c) Não se olvidando que a cada instante, o animal faz uso de uma pluralidade de estímulos que o seu organismo integra consoante as circunstâncias e, de uma forma variada. Aliás, é inútil rejeitar toda a responsabilidade da orientação num único estímulo.

(V)

Uma das actividades fundamentais do animal consiste na reprodução. Inumeráveis são os métodos de aproximação sexual utilizados pelos animais. Por seu turno, os disparadores são apenas um deles e, devem se combinar com as preferências individuais, no âmbito da escala hierárquica, etc. De sublinhar, que o comportamento sexual constitui um domínio de escolha para o cotejo com o Homem.

Demais, outrossim e, ainda, presentemente, se estuda a afectividade animal, na sua ontogénese, com o auxílio de “stress” pré-natais e pós-natais. Entre os macacos, se consegue sintetizar perturbações do tipo do autismo por isolamento do jovem. E, pelo mesmo método se pode estudar as perturbações do sentimento maternal. O que é importante, neste caso, é a abertura possível para uma psico-patologia experimental, que se podia partir unicamente das experiências de frustração do rato condicionado.

(VI)

Todavia, de anotar, que o animal vive muito escassamente isolado, formando, a maior parte do tempo, grupos, mais ou menos, numerosos. A aproximação dos indivíduos dá lugar a diversos fenómenos psico-patológicos, designadamente:

1) O Efeito de grupo;

2) Depois, as hierarquias;

3) E, enfim, ulteriormente: surgem, tipos complexos de organização, onde, podem, aparecer, fenómenos de tradição e de invenção.

(VII)

Finalmente, o problema das comunicações animais, se consegue estudar, presentemente, por uma gama enorme de métodos e por um grande número de biólogos. O que é importante, neste caso é o seguinte:

1) O estudo avançado das comunicações entre os macacos na Natureza, que lembram, frequentemente, de modo perturbador, as comunicações de tipo humano;

2) Estabelecer o papel da tradição e da inovação nestas sociedades, afim de compreender (quiçá) melhor um dia o que foi a hominização.

3) É, outrossim e, ainda, obter dados mais precisos acerca do canto das aves. É analisar os tipos de linguagem que utilizam as abelhas e as formigas

E, como Remate assertivo:

Sim, efectivamente, sobretudo: Evitar o simplismo e o reducionismo, aceitando a Etologia pelo que é: uma Ciência muito próxima do seu advento, ainda, completamente na infância e, que não se pode permitir teorias, demasiadas ambiciosas, demasiadas gerais.

Lisboa, 21 Abril 2010

KWAME KONDÉ

(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo)

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