P’RÓ CAIXOTE DO LIXO
Com 35 anos de experiência e uma especialidade de que Portugal mais tem falta (Obstetrícia), estou em casa faz hoje 42 dias, de perna traçada (é uma forma de dizer porque tenho passado os dias a ler, a estudar e a blogar).
Apesar de ter feito há dois meses um check-up médico completíssimo que, felizmente para mim, me deu como apto a 100% ― decidi pela reforma antecipada. Já não aguentava constatar, ver desfazer-se em meu redor a capacidade formativa e assistencial do meu e de outros Serviços do hospital onde comecei a trabalhar desde o dia da sua inauguração.
Na altura em que saiu a notícia da corrida às reformas antecipadas em que se disse que 300 médicos pediram a reforma numa só semana, uma Pediatra (outra especialidade com escassez de médicos) me confidenciou ― juro pela minha honra ― «Já meti os papéis para a reforma antecipada, mas ainda não disse nada à Directora do meu Serviço; estou à espera que os papéis dêem entrada na Caixa Geral de Aposentações para só depois a informar porque senão ela ainda era capaz de me obrigar a retirar o pedido».
Este é o ambiente entre os médicos mais experientes nos muitos hospitais (quiçá em todos os hospitais públicos: de Lisboa pelo menos). Falo com médicos, da minha geração, de todos esses hospitais, e sei muito bem o que sentem e pensam. E a solução não passa nem passará pela contratação de médicos aposentados. Muito poucos trocarão a sua posição de aposentados (de pessoa finalmente "livre") por dinheiro; ainda por cima regressando ao Serviço, agora em posição subalterna, com miúdos a mandarem nele.
Assobia-se para o lado e vai-se arranjando desculpas esfarrapadas, não reconhecendo que o que falta nos hospitais é pessoal ― pessoal qualificado e em número suficiente ―. Mas um dia qualquer no futuro, se por acaso os responsáveis do poder não acordarem a tempo para esta realidade, ainda serão capazes de já terem à porta a Maria da Fonte.
Quais são os responsáveis por isto?! São os sucessivos ministros da saúde dos últimos sete oito anos. Mas são sobretudo os Governos que definiram a política de Saúde aplicada por aqueles ministros. Pressionados ou não por interesses económicos instalados. Mas satisfazendo-os claramente.
Quero fazer justiça à actual Ministra da Saúde, Dra. Ana Jorge, Pediatra, que tal como eu trabalhou sempre e apenas no Serviço Público; que quando entrou para o Governo já encontrou a terra quase completamente queimada. Eu sei! Muito tem tentado fazer esta Ministra para evitar a morte do Serviço Nacional de Saúde. Mas ela própria já deve ter consciência que não tem nem terá os apoios necessários para inverter o rumo dos acontecimentos.
É que o problema agora já não é sequer o de qual o Modelo de Saúde para o País; é mais complexo: é mais que o “vamos privatizar a Saúde porque assim prestaremos melhores serviços à população” (o que é uma refinada mentira! E seria ou será um desastre). O problema, quer se trate do sector público ou do sector privado, é já ― e vai passar a ser ainda mais ― um problema de capacidade nacional para; e de qualidade assistencial para; acudir com equidade e universalidade a população deste Portugal onde os mais velhos estão praticamente abandonados à sua sorte. O caso dos doentes oncológicos, por exemplo, é preocupantíssimo ― demasiadas vezes não chega a resposta em tempo oportuno.
É por isso que, quando oiço um político falar em «os que mais precisam» ― francamente! ― O que me apetece é cortar-lhe a língua e dá-la ao gato.
P.S. Este blogue tem sete anos de existência. E nunca eu disse em qualquer posta aqui publicada qual era a minha profissão. Mas hoje senti-me na obrigação de o dizer ― no que é a primeira, e espero que seja a única vez. Porque sei que eu não interesso para nada. O que interessa é a Saúde dos portugueses. E é o que a mim me interessa também.
E já agora se me permitem: desde de 1976 que não sou filiado em qualquer partido político. Voto e opino segundo a minha consciência, e mudo às vezes de opinião. Já votei em mais que um partido. Só sou ortodoxo numa coisa: sou adepto do Sporting, sou sportinguista dos mil costados ― «forever», como disse o outro.
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Apesar de ter feito há dois meses um check-up médico completíssimo que, felizmente para mim, me deu como apto a 100% ― decidi pela reforma antecipada. Já não aguentava constatar, ver desfazer-se em meu redor a capacidade formativa e assistencial do meu e de outros Serviços do hospital onde comecei a trabalhar desde o dia da sua inauguração.
Na altura em que saiu a notícia da corrida às reformas antecipadas em que se disse que 300 médicos pediram a reforma numa só semana, uma Pediatra (outra especialidade com escassez de médicos) me confidenciou ― juro pela minha honra ― «Já meti os papéis para a reforma antecipada, mas ainda não disse nada à Directora do meu Serviço; estou à espera que os papéis dêem entrada na Caixa Geral de Aposentações para só depois a informar porque senão ela ainda era capaz de me obrigar a retirar o pedido».
Este é o ambiente entre os médicos mais experientes nos muitos hospitais (quiçá em todos os hospitais públicos: de Lisboa pelo menos). Falo com médicos, da minha geração, de todos esses hospitais, e sei muito bem o que sentem e pensam. E a solução não passa nem passará pela contratação de médicos aposentados. Muito poucos trocarão a sua posição de aposentados (de pessoa finalmente "livre") por dinheiro; ainda por cima regressando ao Serviço, agora em posição subalterna, com miúdos a mandarem nele.
Assobia-se para o lado e vai-se arranjando desculpas esfarrapadas, não reconhecendo que o que falta nos hospitais é pessoal ― pessoal qualificado e em número suficiente ―. Mas um dia qualquer no futuro, se por acaso os responsáveis do poder não acordarem a tempo para esta realidade, ainda serão capazes de já terem à porta a Maria da Fonte.
Quais são os responsáveis por isto?! São os sucessivos ministros da saúde dos últimos sete oito anos. Mas são sobretudo os Governos que definiram a política de Saúde aplicada por aqueles ministros. Pressionados ou não por interesses económicos instalados. Mas satisfazendo-os claramente.
Quero fazer justiça à actual Ministra da Saúde, Dra. Ana Jorge, Pediatra, que tal como eu trabalhou sempre e apenas no Serviço Público; que quando entrou para o Governo já encontrou a terra quase completamente queimada. Eu sei! Muito tem tentado fazer esta Ministra para evitar a morte do Serviço Nacional de Saúde. Mas ela própria já deve ter consciência que não tem nem terá os apoios necessários para inverter o rumo dos acontecimentos.
É que o problema agora já não é sequer o de qual o Modelo de Saúde para o País; é mais complexo: é mais que o “vamos privatizar a Saúde porque assim prestaremos melhores serviços à população” (o que é uma refinada mentira! E seria ou será um desastre). O problema, quer se trate do sector público ou do sector privado, é já ― e vai passar a ser ainda mais ― um problema de capacidade nacional para; e de qualidade assistencial para; acudir com equidade e universalidade a população deste Portugal onde os mais velhos estão praticamente abandonados à sua sorte. O caso dos doentes oncológicos, por exemplo, é preocupantíssimo ― demasiadas vezes não chega a resposta em tempo oportuno.
É por isso que, quando oiço um político falar em «os que mais precisam» ― francamente! ― O que me apetece é cortar-lhe a língua e dá-la ao gato.
P.S. Este blogue tem sete anos de existência. E nunca eu disse em qualquer posta aqui publicada qual era a minha profissão. Mas hoje senti-me na obrigação de o dizer ― no que é a primeira, e espero que seja a única vez. Porque sei que eu não interesso para nada. O que interessa é a Saúde dos portugueses. E é o que a mim me interessa também.
E já agora se me permitem: desde de 1976 que não sou filiado em qualquer partido político. Voto e opino segundo a minha consciência, e mudo às vezes de opinião. Já votei em mais que um partido. Só sou ortodoxo numa coisa: sou adepto do Sporting, sou sportinguista dos mil costados ― «forever», como disse o outro.
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