quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

ELOCUBRAÇÃO TRIGÉSIMA QUARTA:

“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895)

Uma breve Nota acerca da Poligamia em África:

Antes de mais, um pertinente Ponto Prévio:
Antropologicamente, exprimindo, o vocábulo Poligamia designa o matrimónio de uma pessoa com várias. Teoricamente, este termo aplica-se ao facto de alguém desposar vários homens (Poliandria, extremamente rara) ou várias mulheres (Poliginia, vocábulo pouco usado).
A poligamia, neste sentido de poliginia, praticada pelos Hebreus dos tempos bíblicos, foi condenada pela Antiguidade greco-romana e ulteriormente pelos cristãos. De anotar, que uma seita protestante, os Mórmones, tentou repô-la em uso, no século XIX, porém, o Congresso norte-americano declarou a poligamia ilegal, no ano de 1862.
Admitida, actualmente, por um grande número de povos, a Poligamia não implica forçosamente a rivalidade das esposas. Muitas vezes aliás, é a mulher mais velha quem escolhe as outras companheiras do marido. E, com muita frequência, outrossim a dos filhos.
De consignar, que se denomina Polígamo o ou o homem casado ao mesmo tempo com mais de uma mulher.

(1) Com efeito, nas aldeias africanas é, em princípio, útil que o homem desposa, pelo menos, duas mulheres. Permitem ao homem ter um número importante de filhos, a despeito das condições difíceis de vida e as epidemias respectivas que explicam uma taxa de mortalidade infantil, assaz elevada. Estas crianças, em crescimento ou desde a tenra idade, constituem para as suas mães, uma “mão-de-obra” da qual depende a sobrevivência da família em sociedades, onde os meios de produção são ainda, em termos gerais bastantes rudimentares. Para as mulheres, conquanto a presença de uma co-esposa seja, frequentemente frustrante, a poligamia possui aspectos positivos que a justificam.

(2) Na verdade, quando são duas mulheres (ao menos) para o mesmo homem, cada uma das esposas, vê na sua co-esposa respectiva, uma colaboradora, uma espécie de ajuda para o conjunto dos trabalhos domésticos e campestres. Ela pode viajar, caso seja necessário. Pode, outrossim, repartir junto dos seus pais, por um longo lapso tempo, se isto se tornar útil. Ela sabe que haverá uma mulher para se ocupar do marido e de todas as crianças. Se estiver enferma, a sua co-esposa se ocupa dela, evidentemente.

(3) Quando ela dá a luz, pode amamentar o seu bebé até à idade de dois anos, até mais, sem ser coagida a ter relação sexual com o seu marido. Este aceita ou impõe tanto mais, facilmente, um longo período de abstinência sexual à mãe do bebé, pois que dispõe de uma outra (disponível). As condições de vida e de produção nas aldeias são, em geral, bastantes difíceis e a poligamia permanece aí uma solução para determinados problemas. Deste modo, muitas mulheres consideram as congéneres urbanas, que criticam este sistema, como autênticas transviadas, como as que nada compreenderam, obviamente. Aliás, não é, por acaso, que algumas esposas obrigam o seu marido a desposar uma segunda mulher. Elas lha escolhem, (elas próprias), por vezes, por razões óbvias.

(4) A Sociedade rural considera, outrossim a poligamia como uma prática normal, por que não, até mesmo, obrigatória. Eis porque, em determinadas circunstâncias, a situação de um homem monógamo não seja bem visto, pelo contrário. A sua família, pode até exercer pressão sobre ele para que despose, pelo menos, duas mulheres. Senão, se o considera, como um homem que a esposa dominou, ao ponto de o impedir de desposar uma segunda. Aliás, a poligamia e os “casamentos forçados” permitem às sociedades rurais de manter uma determinada ordem, oferecendo a todas as mulheres e a todos os homens a possibilidade de se casar. O celibato praticado aí é bastante escasso, para que não dizer mesmo nulo.

(5) De anotar, que quaisquer que sejam as taras físicas de uma mulher ou de um homem, encontrar-se-lhe um homem ou uma mulher. Mesmo, que exista mais mulheres em idade de se casar que homens adultos, cada uma delas terá um marido, pois que, um único homem pode desposar várias mulheres. De feito, permitindo à todas as mulheres a possibilidade de se casar, previne-se a decomposição do tecido social pela degenerescência dos costumes. Eis porque, se pode concluir que, na verdade, o desregramento sexual seria mais elevada nas cidades, por causa, outrossim do número elevado de mulheres assumindo o celibato.

(6) Se o Islão (sendo, este, grosso modo, religião e civilização dos muçulmanos, pregada pelo profeta MAOMÉ e edificada sobre o Alcorão), teve muito êxito em África é porque sobre este ponto, não se opôs as práticas locais. Outorgou-lhes, antes, pelo contrário um quadro novo, uma nova dimensão. Deste modo, se tornou corrente asseverar, presentemente, que quando se fala, em Africanos, significa dizer, que o Islão lhes permite possuir quatro mulheres cada um. De anotar, contudo, que todos os Africanos não são muçulmanos. Demais, mesmo se considerássemos o caso preciso dos muçulmanos, verificar-se-á, que as coisas não são sempre tão simples. De feito, na verdade, o Islão só autoriza a poligamia em determinadas condições, assaz difíceis de cumprir, na prática por um homem. O Alcorão proíbe, por exemplo, a poligamia, a todo homem, não podendo ser considerado “justo”, no respeitante as suas esposas. Na realidade e, na verdade, o Islão, que não se encontra, absolutamente, na origem da poligamia em África, teria antes limitado as possibilidades por causa das novas restrições que esta prática acarreta. Com efeito, é claramente afirmado no Alcorão o seguinte:
a. “Outorgai os vossos bens aos órfãos; não substituis o bom pelo mau.
b. “Não comeis os seus bens com os vossos; é um grande pecado, realmente!
c. “E, se receais não poder ser rigoroso com os órfãos, pois bem, aceitai esposas, por dois, por três, por quatro, entre as mulheres que vos agradam. Porém, se receeis não ser justo, então, uma única, ou as escravas que possuis.
d. “Outorgai as esposas o seu salário como de direito.

Enfim e, em suma: A prática da Poligamia nas Sociedades africanas que se referem actualmente ao Islão é, por conseguinte, por vezes, não conforme às regras desta religião. De feito, em determinados meios muçulmanos, há homens que desposam duas mulheres, pelo menos e se mostram a este respeito, abertamente injustos. Preferem uma e menosprezam a outra ou as outras. Alguns de entre eles, são muito pobres e sustentados pelas suas esposas, enquanto o Alcorão exige deles que, por seu turno, sustentem decentemente estas últimas.

Lisboa, 24 Fevereiro 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).
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