segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

ELOCUBRAÇÃO VIGÉSIMA QUINTA:

“Ser culto es el único modo de ser libre”.
José MARTÍ (1853-1895)

Para Principiar:
Os dois (2) termos: mundialização e globalização
São duas versões alternativas de um mesmo substantivo
Anglo-saxónico (globalization), outrossim, aliás, polissémico.
Donde, por conseguinte, não existe gradação possível
(em todo caso, em inglês),
entre os dois termos, o que conduziria à considerar
o uso de um ou outro, como estritamente indiferente.
Todavia, na medida em que, aliás, que a expressão
“História global”parece, hodiernamente, sensu lato (e que
a designação “história mundial” reenviaria, mesmo muito, à
Ideia de um grande récita consensual) é preferível, quiçá,
Conservar o termo de “mundialização” para descrever a
Sinergia entre “expansão geográfica”e “mudança institucional”.
Enfim e, em suma: Exprimindo-se, deste modo, de “História global”de um lado e de processo de”mundialização, de outro,
Evitar-se-á, sem dúvida, lamentáveis confusões…

Primeira Parte:

(A)
Na verdade, a mundialização é, antes de mais, um fenómeno contemporâneo e a sua Definição respectiva aparece, por essa razão (como convém), historicamente situada. Se a focalizarmos, aliás, na sua dimensão económica, a mundialização é analisada, frequentemente, não como uma mera colocação em colocação dos mercados nacionais, sim, como a criação de um verdadeiro mercado Mundial de “segmentado”, dizendo respeito aos bens e serviços, outrossim, porém, aos factores de produção (terra, trabalho, capital) e constrangedor em compensação das economias nacionais.
(B)
Donde e por motivos óbvios, a mundialização é, por conseguinte, muito mais que uma mera internacionalização dos mercados na medida em que os espaços económicos nacionais perdem doravante uma parte da sua pertinência, enquanto entidades económicas representativas. De anotar, que, não apenas o Mercado Mundial constrange estes espaços (é, designadamente o caso do mercado financeiro unificado), porém, ainda, as firmas transnacionais os dissolvem pelas transferências que realizam no seio da Estrutura (ou da rede) que reata os dissemelhantes pólos da sua actividade. Todavia, mais recentemente, se pôs em evidência este mesmo poder de negação das entidades económicas nacionais através da atenuação das regulações estatais, num território dado e a sua transferência, num nível, amiúde, supra-nacional, quer de direito (OMC, BCE) ou ainda, de facto (FMI).
(C)
Vinculados a este advento do Mercado Mundial, fenómenos de convergência dos preços dos bens e serviços, como preços relativos dos factores, foram particularmente colocados numa enxerga, facto que levaria, grosseiramente a considerara a mundialização contemporânea como um processo de redução da diferença salarial entre países emergentes e países outrora desenvolvidos. Sabe, entretanto, que a realidade é nitidamente mais matizada. Ou seja: Criação de desigualdades internas às economias nacionais, a maior parte das vezes, em detrimento do factor de produção, relativamente escasso; atenuação ou aceleração desta recuperação em função do crescimento dos países parceiros da sua trajectória demográfica; distinção a estabelecer entre produto por cabeça e rendimento do trabalho, etc.
(D)
Demais, se sairmos do cotejo, entre salários, é óbvio, que as desigualdades existentes, entre os mais pobres e os mais ricos do Planeta se incrementam. É, aliás, de facto, verdade que para a corrente neo-clássica, indicadores precisos de convergência caracterizam a mundialização contemporânea. Nesta base, assaz geral (criação de um Mercado Mundial e fenómenos de convergência, por uma lado e dissolução parcial dos espaços económicos, por outro), é, assaz óbvio, que apenas duas (2) fases de mundialização são claramente identificáveis, historicamente (exprimindo), desde, meados da década de oitenta (80) do século XX pretérito.
(E)
Além disso, outrossim e, ainda, o ataque frontal aos espaços nacionais era apenas, sobremaneira embrionário no fim do século XIX, no decurso da primeira mundialização, mesmo se o funcionamento do padrão ouro permitiria regular a Economia Mundial, independentemente dos poderes estatais nacionais. Antes de 1860, parecia totalmente, excluída falar de mundialização, na acepção definida por estes dois grupos de critérios. É o que se denomina de definição da mundialização, senu strictu.
(F)
No entanto, é possível se colocar num nível mais abstracto, abandonando estes indicadores empíricos, assaz redutores. Revelam, com efeito, a implantação nos períodos de mundialização supracitados de uma sinergia particularmente forte entre uma expansão geográfica dos produtos destinados às permutas (não necessariamente, vendáveis), por um lado e, uma progressão da regulação comercial, por outro, isto é, uma coordenação descentralizada do conjunto das actividades através dos preços. Ao ponto, de resto que é amiúde difícil dissociar os dois fenómenos.
(G)
Demais, no âmbito desta dinâmica, desde meados da década de 1980,assistimos,desta forma, à uma expansão espacial das permutas económicas (conversão da China ao “socialismo de mercado”, desintegração do “bloco soviético”, reintegração progressiva dos países um tempo sobre endividados da América Latina e da África subsariana) em concomitância com uma hegemonia mais marcada do Mercado sobre a Organização Económica do Mercado Mundial, o advento de instâncias reguladoras (particularmente market-oriented), penetração dos nossos comportamentos pela “racionalidade económica”). E, a um outro nível de abstracção, por conseguinte, generalizando a mundialização se identifica na sinergia entre estes dois fenómenos, na sua dialéctica, sui generis e peculiar, sob formas, aliás, sempre renovadas. É evidente (nem é preciso, aliás, dizer) que esta sinergia desempenha, outrossim, nos anos de 1860-1914: expansão geográfica com a integração da China após as guerras do ópio, embargo e penhora britânica da América Latina independente, expansões coloniais, por um lado, progressão da regulação comercial com a liberalização do comércio, os primeiros movimentos de capitais na qualidade do investimento de carteira de títulos, a regulação rígida própria ao padrão, por outro.

Continua:

Lisboa, 25 Dezembro 2009
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).
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