(…) “Toute culture peut être définie comme
un espace élémentaire d’affrontements, farouches
ou feutrés (on dégrade, mutile, dépèce, massacre,
brûle les corps), entre expressions et exigences du
corps érotique, et les dispositions et dispositifs
anérotiques qui s’emploient à l’avilir, blesser, mortifier,
châtrer, supprimer ».
(A)
As Teorias e Representações do CORPO em vigor no seio das Comunidades Negro Africanas tendem a rejeitar a oposição Corpo Alma/Espírito, postulando uma osmose total das dissemelhantes componentes do Ser Humano, ele próprio, aliás, considerado como uma parte integrante de um Corpo Social, na sua acepção mais lata. Deste modo, se celebra a Ideia de uma fisiologia cósmica na qual cada Corpo é apenas uma fracção de um conjunto visível e invisível. Indo, para além, do dualismo Corpo Alma, uma tal démarche não concebe o indivíduo sem a Sociedade à qual pertence.
Eis porque, o Filósofo e Pastor Anglicano (especialista em filosofia cristã, denominado o “Pai da Teologia contemporânea”), o queniano, Jonh Samuel MBITI (N.- 1927) ironiza acerca do Cogito ergo sum de DESCARTES, da seguinte forma: “Eu sou porque somos; e visto que somos, então, eu sou”. O Corpo de um indivíduo é, por conseguinte, apenas o elo de uma cadeia que seria necessário apreender como um Todo, se pretende fazer disso uma representação exacta. Demais, se focalizar unicamente na análise de Corpo, ignorarão as conexões sociais, o que significa se enganar no objecto, falhar na perspectiva e praticar sociologia das aparências.
(B)
A Alma é, por conseguinte, considerada como fazendo parte integrante do Corpo, do mesmo modo que o Espírito. Toda a Espiritualidade e todo o Saber são elementos do que se é. As Tradições peule e bambara consideram, aliás, que a Pessoa Humana é uma espécie de receptáculo complexo, que “implica uma multiplicidade interior, planos de existência concêntricos ou sobrepostos (físicos, psíquicos e espirituais em dissemelhantes níveis), assim como uma dinâmica constante” (A. HAMPATÉ BÂ). A Pessoa Humana, jamais se encontra reduzida, nem ao Corpo, nem à uma Entidade monolítica. É uma Dinâmica permanente, por conseguinte, o CORPO é, concomitantemente, o reflexo e o Símbolo.
(C)
Esta Filosofia do CORPO não impediu, todavia, a Emergência de um Determinismo Biológico, que serviu, ao longo dos anos, a justificar a construção da diferença. Como em muitas outras sociedades, as morfologias corporais têm, deste modo, servido para validar categorizações sociais, hierarquizar grupos étnicos, santificar linhas de partilha do poder, legitimar abordagens dinásticas e justificar o domínio sexual e a exclusão.
No entanto, por seu turno, o CORPO produtor de discurso é, outrossim, lugar de expressão dos preconceitos. A cor da pele, a forma dos olhos, da boca ou do nariz, tornara, formas de categorização da Alma. Na verdade, encontramo-nos longe do Reducionismo genético de uma certa Sócio-biologia Darwiniana, que reputa o CORPO como o principal indicador, não unicamente do Destino do indivíduo, porém, identicamente do seu Percurso Social.
(D)
E, rematando, pertinentemente, MILLIE, a Mãe do famoso músico, actor e activista social Americano, Haroldt George “HARRY” BELAFONTE (N-1927), não teve necessidade de ler “Assim falava Zaratrusta” para considerar o seu corpo como uma interface com o Mundo, como um vector por intermediário do qual Ela queria definir a sua relação com o Mundo. O seu corpo era o lugar de expressão das suas responsabilidades familiares e das suas ambições sociais, o depositário dos seus sonhos de grandeza, o espaço privilegiado de uma Encenação da aparência e dos jogos subtis da sedução e o ponto de ancoragem do Si. Cuidava constantemente a Imagem para romper com as humilhações da escravatura e da Memória.
Lisboa, 07 Dezembro 2009
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).
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