quarta-feira, 18 de novembro de 2009

ELOCUBRAÇÃO DÉCIMA SEGUNDA:

“A Ética do Acto Humano
Depende, antes de mais, do seu
Conteúdo objectivo,
Depois, da intenção subjectiva, das
Circunstâncias e das consequências respectivas”.


Não há dúvida nenhuma, que, mais que nunca, se afigura, quão oportuno conhecer, apropriadamente, as motivações e os comportamentos dos Hiper-ricos.

(I)
Já se conhece, aliás, a trajectória, assaz frequente, conducente aos cujos os rendimentos se incrementam para satisfazer as suas necessidades fundamentais, em seguida para se procurar os bens materiais de conforto, depois para “faire droit” a desejos de luxo (que, por vezes, podem conduzi-lo à se “cultivar”), enfim, em adquirir bens de puro prestígio, em geral, especulativos, mulheres, entre outros, a fim de desafiar (provocando com desprezo e escárnio) os demais outros hiper-ricos. O derradeiro estádio, o em que todas as acumulações desejáveis e as razões de tornar invejoso e ciumento, se encontram esgotados, por isso mesmo, mais problemático.
Eis porque, deste modo, várias vias se abrem, então aos hiper-ricos:
--- A primeira consiste em contar, cada chavo, com ou sem os próximos, a sua fortuna e, sobretudo, o seu incremento. A utilidade marginal da moeda não é sempre decrescente à medida que a riqueza se aumenta. É mesmo, frequentemente, crescente. Demais, quanto mais se tem, mais se deseja e mais contente se está de poder possuir, cada vez mais e mais. A sua taxa de poupança não cessa de aumentar e, se o comportamento fosse generalizado, incrementaria o da poupança Mundial, com os seus efeitos negativos conhecidos sobre o crescimento.
--- A segunda consiste na procura da glória perante os homens e, se possível, ante Deus, se acredita Nele. Pode-se, então consagrar a sua fortuna na construção de palácios, museus, fundações humanitárias, novas igrejas, porque não? Visto que se vê nisso, uma razão de ser absolvido dos seus pecados eventuais ou perdoado de ter sido demasiado dotado ou bafejado pela sorte. Destarte, mesmo Deus, deve ter necessidade de um ministro das finanças!
--- A terceira consiste na busca de um poder social. Esta via seduz mais, os mais activos dos hiper-ricos. O conforto, mesmo espectacular, perde o seu charme com o tempo (salvo, se vier a faltar), o que é pouco concebível, no caso presente. A fortuna tornaria incomensurável, não bastando exorcizar a certeza da morte, nem em ocupar os dias, tanto mais, que determinada agitação vê a sua frequência diminuir com a idade.
Donde, se impõe questionar, avisadamente. Ou seja:
Que resta, por conseguinte, aos hiper-ricos decadentes (que envelhece), tendo conservado algumas das suas disposições físicas e intelectuais, senão a mostrar em exemplos para legitimar a sua vontade de adquirir um poder social cujas as vias são, elas, outrossim, múltiplas, das mais carismáticas até às mais políticas? De anotar, no entanto e, sem embargo, que sendo o charme uma qualidade muito mais aberta aos pobres que aos ricos, a via política, oficial ou melhor, oficiosa (implicando esta, menos exposição popular e mediática), se abre então completamente aos que se obstinam, absolutamente em mandar fazer à sua riqueza dissemelhantes promessas do que financeiras.

(II)
A hiper-riqueza Mundial não poderia favorecer a Ordem Social, Local ou Mundial. Coloca, com efeito, em causa, as condições desta Ordem, no interior das Nações já industrializadas em que algumas já operaram a sua mutação para as actividades de serviço (caso particular do USA).
Alguns verdadeiros ricos mudarão pouca coisa à Sociedade norte-americana, que não conheceu as ideologias europeias da “luta de classes” e onde as desigualdades provisoras do “sonho norte-americano”, vinculadas à abertura progressiva de um Continente rico em matérias-primas, a pouco e pouco, pentearam a famigerada “democracia norte-americana”de um número restrito de indivíduos, onde se cotam titulares de grandes fortunas, dirigentes de empresas, elites intelectuais das grandes Universidades e membros influentes da vida política. Sem dúvida e, sem exagero de espécie alguma, nada mais, nada menos, mais de 100 000 indivíduos, seja 2% da população total.
Além disso, dispondo, outrossim e, ainda, de meios financeiros apreciáveis, de uma capacidade de influência mediática e de propaganda bem conhecida e atributos habituais do poder (moeda, armamentos, redes de comunicação…) esta minoria governa este Continente sob constrangimentos políticos menores e sob as, cada vez mais e mais, robustos, da religião (onde várias religiões) cristã norte americanizada: os evangelistas (mais de metade da população), os muçulmanos, “sábios” budistas, alguns cientologistas mediatizados.

(III)
Antes de mais, vale a pena, sublinhar, que o nascimento e a evolução da democracia à americana terão sido favorecidos pelo suicídio de um Continente dilacerado durante um século por guerras intestinas. Este regímen evoluiu progressivamente para uma espécie de “fascismo soft”tal como o Pai BUSH terá feito, exactamente, pelo filho interposto, o que prometera realizar após a Guerra do Golfo.
As Nações europeias tentaram imitar este augusto exemplo. A sua estrutura social se aproxima todos os dias dos USA, conquanto a sua história específica, as suas ideologias tradicionais, a sua cultura, identicamente atenuam este contágio.

(IV)
Se afigura, outrossim, quão pertinente, questionar se tudo isto, não ameaça a Sociedade dos Países emergentes, num futuro próximo? Se pode duvidar disso! A mundialização actual, que se prolongará, sem dúvida, numa boa metade deste século XXI, em curso, só o permitirá dificilmente. Os Países Emergentes, em particular, os do Continente Asiático, possuem a vontade política que é a chave do seu próprio desenvolvimento, concomitantemente, que o motivo fundamental da adesão de países já “emersos”, à sua admissão, no seu clube respectivo.
Na evidência, estes (os USA, na qualidade de vanguardista de choque e de dimensão) delegam as produções industriais a estes novos proletários, se reservando doravante as actividades de secretaria, nitidamente melhor protegidas.
Donde, se afigura, pertinente ponderar, ipso facto, como estes recém-chegados evitarão conhecer algumas das perturbações que as Nações europeias experimentaram durante todo o século XIX, tanto mais que, ainda estão a viver a sua emigração rural (que, no caso dos dois grandes países Asiáticos, deveria implicar mais de um milhar de indivíduos) e que os seus “capitalistas” terão a possibilidade (para alguns, já é o caso) de se tornar hiper-ricos?!...
Luta de classes ou não, reminiscência robusta dos regimes denominados “comunistas” ou não, mais ou menos, grande passividade das massas camponesas: é difícil não prever perturbações sociais de grande envergadura, tanto mais que os Mercados Mundiais exercerão enorme poder de atracção e de sedução, sem contar que estas novas sociedades de mercado não estão ainda afectadas por evangelistas empreendedores (audaciosos), que deveriam sentir, outrossim, tentados pela sua própria mundialização.

(V)
Todavia, qualquer que seja, a intensidade das perturbações sociais que deveriam conhecer as Nações à Emergência tardia, os efeitos precisos do seu respectivo crescimento, tão rápido como presentemente e da hiper-riqueza Mundial nas décadas vindouras são difíceis de antecipar. Vão depender, aliás, das Sociedades nacionais por muito tempo, politicamente representadas, com o advento de toda uma nova classe (ou coorte? Categoria social? como se queira) de hiper-ricos Mundiais à qual se abre a possível conquista de um poder económico político ele mesmo de âmbito Mundial.

(VI)
O objectivo do “Conglomerado de poder” norte-americano no princípio da mundialização é assaz evidente: Exportar por toda a parte do Texas e instaurar um modo de poder Mundial homotético do deles, no seu espaço continental, no qual ele exerceria um poder dominante nesta instância indefinida, indeterminada variável consoante as heranças (públicas e privadas) oficiosa à capacidade de dissimulação, quase total, no plano, tanto económico como político, se afirmando com força o seu “carácter democrático”. Este objectivo será indiscutivelmente atingido, se a vontade desta oligarquia em via de construção rápida acaba por ceder à tentação de instaurar uma tirania “suave”, porém firme. O instinto de rebanho da nossa espécie poderia conduzir a isso.

E, Rematando:

--- É concebível que o levantamento antecipado surpreendente dos USA sobre o resto do Mundo (alguns 7 000 milhares de dólares neste dez últimos anos) possa ser indefinidamente renovado?
--- E, este levantamento antecipado não constitui a face aparente de um sistema político que, desde mais de cinquenta (50) anos, cauciona e organiza a Guerra-fria (tépida ou quente), como outrora Roma, nos dois primeiros séculos da Era Cristã?
--- Existe um outro povo que tenha tido, deste modo, a necessidade (sem dúvida) enviar os seus soldados, um pouco por toda a parte, no resto do Mundo?
--- Não existe, de feito, a necessidade de um inimigo para viver à semelhança das Nações europeias) durante um bom século?

Enfim! Enfim!...Enfim!...
O Sonho e os caixões: dois soberbos cimentos,
Um de Vida, o outro de Morte!...

Lisboa, 18 Novembro 2009
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).
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