sábado, 5 de setembro de 2009

VAMOS E VENHAMOS

A coisa é muito simples. Mas também é séria.

Quem conhece e seguiu o percurso político, a prática e a composição directiva do Partido Socialista desde o 25 de Abril de 1974 até hoje, não pode deixar de tirar esta conclusão:

As sucessivas direcções do PS foram mudando o partido desde então, adaptando-o aos novos tempos que foram surgindo, com sucessivas e constantes guinadas ao centro e à direita ― sendo que a primeira mudança de fundo sucedeu com Mário Soares quando o mesmo “meteu o Socialismo na gaveta” ―.

José Sócrates, politicamente inculto e sem qualquer ideologia (é ouvi-lo e lê-lo nos discursos e nas entrevistas para se tirar esta conclusão), escaqueirou completamente o que restava do património histórico e ideológico do Partido Socialista e hoje é um homem só: nenhum dirigente histórico do PS claramente respeitado, com peso político incontestado, veio até hoje defendê-lo abertamente, dar a cara por ele de forma evidente, veemente e dura como seria de esperar; ficou apenas com o seu ministro Santos Silva, qual bombeiro incendiário, lançando ontem gasolina no fogo e hoje sem mãos a medir para atenuar as labaredas que já estão às portas do castelo.

Sócrates descredibilizou a Escola atirando alunos e pais contra professores e achincalhando estes através da sua ministra da educação, Maria de Lurdes Rodrigues; permitiu e incentivou, através do seu ex-ministro Correia de Campos, a sangria nas instituições do Serviço Nacional de Saúde, sobretudo nos hospitais públicos, ― com a saída dos melhores médicos, desmantelando sem qualquer alternativa válida as Carreiras Médicas e lançando incertezas e enormes dificuldades no funcionamento e idoneidade de Serviços Hospitalares essenciais, alguns hoje tão desfalcados que grande parte das vezes têm mais de 60% de elementos externos ao hospital, contratados sem qualquer avaliação interna, a assegurarem as urgências ―; atacou os juízes e os funcionários públicos num falso combate àquilo que ele chamou de “privilégios”, retirando-lhes com isso parte da sua dignidade e credibilidade.

Os ataques às “corporações” (como se disse então) foram também acompanhados por ataques individuais (feitos por “funcionários” solícitos pretendendo apresentar serviço) que levaram alguns de nós e relembrar os tempos da PIDE.

Quem não se lembra do “Caso Charrua”: em que o professor Fernando Charrua foi denunciado por um bufo e depois punido por superior hierárquico por puro delito de opinião (PRIVADA): fizera em privado um comentário jocoso sobre a licenciatura do primeiro-ministro. Só isso.

Quem não se lembra da demissão da directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho por a mesma ter permitido (ainda por cima sem o saber) a colocação de um cartaz em que se adicionava a uma entrevista do então ministro da Saúde, Correia de Campos, a frase «Façam como o ministro, não venham ao SAP».


Não se pode ter a memória curta. E se, como se diz, “cá se fazem cá se pagam”, então Sócrates merece pagá-las cá.

Mas agora, calma que eu não vou bem por aí!

Por aquilo que Manuela Ferreira Leite fez no passado quando foi ministra da Educação e depois ministra das Finanças (péssima em ambas as pastas) e por aquilo que lhe temos ouvido em sussurro (porque não fala claramente de nada ― limita-se apenas a martelar a palavra “verdade” em jeito de anúncio publicitário tipo “água mole em pedra dura” ―), um Governo de Manuela Ferreira Leite agravará a maior parte dos problemas criados por Sócrates (sobretudo nas áreas da Saúde e da Educação) e, ao tentar criar um Estado minimalista ― propósito, aliás, que se depreende de várias declarações dispersas daquela senhora ― levantará clamor popular. Creio que é nisto que estava a Pensar Medina Carreira quando disse que se se mantiver o mesmo rumo na governação do país, no período 2015/2020 «o regime democrático será substituído».

O problema é este: Eu não sei escolher o sentido do meu voto neste momento. Terei que meditar muito para saber o que vou fazer com ele (o voto).

O que me apetece é dizer aos partidos políticos: baralhem e dêem de novo.
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