quarta-feira, 16 de setembro de 2009

ELOCUBRAÇÃO TERCEIRA:

No cerne da Mundialização das desigualdades:

(I)
A escala Mundial, não é surpreendente que a extensão das desigualdades dos ganhos e das fortunas tenha, outrossim mudada de escala de valores. O concurso dos rendimentos dos proprietários e dirigentes de empresas (financeiras ou não), os dos ídolos em todos os géneros, negociando em hasta pública os seus retratos, os seus juízos de cybercafé, os seus vestuários de um dia, a sua presença física, mesmo em meias não vestidos, os prestidigitadores de dinheiro negro, explica a emergência de uma coorte já fornecida de ricos Mundiais, de todas as obediências nacionais ou raças, dispondo, em comum, de meios financeiros, outrora indispensáveis.
Enfim, representando, puramente o “individual”, alguns, nascidos em berço de oiro da Sorte, do seu trabalho ou do seu Génio, acedem, enquanto vivo (termo da lógica do Mercado salvador) a um estatuto próximo da Santidade religiosa.

(II)
Uma Nova desigualdade oriunda da Mundialização, se acrescenta, doravante a às tradicionais de um Capitalismo que favorece muito legitimamente as aptidões individuais cujos os titulares de um QI médio, entre outros se recusam a considerar a raridade. A evolução dos rendimentos da Economia de mercado, por excelência, a dos Estados Unidos da América é significativa: o crescimento não é para todos, ou nada de modo idêntico.
O salário real médio americano é quase igual ao seu nível de há, aproximadamente, três décadas. O rendimento de um homem de trinta (30) anos é inferior de 12% ao que era há trinta (30) anos. A quase totalidade dos frutos do crescimento foi aos 5% para os mais ricos, pioneiros dos actuais”verdadeiros ricos”.
Eis porque, um indivíduo sobre vinte (20) pode sonhar americano, enquanto os dezanove (19) outros se adaptaram (constituindo esta capacidade a qualidade fundamental do humanóide), antes de mais, fazendo trabalhar as mulheres (inclusive as amas de cor), trabalhando mais bastante tempo, se endividando, enfim, o que teve para efeito, através dos proventos bancários, de alimentar o bacinete dos 5% e, in fine, provocar a crise actual dos empréstimos hipotecários que não podem ser reembolsados. Em suma: a acumulação do passado, favorecendo a evolução do consumo, permitiu o fundamental desta adaptação.

(III)
Que existe de mais necessário, que se ocupar de si próprio e, antes de tudo, do seu Corpo, deste corpo cujos os tormentos, mesmo congeminados, prejudicam ao único objectivo que granjeia: a sua felicidade, melhor, o seu bem-estar? Corpo que enclaustra em si próprio, a aziaga ideia de envelhecer, por vezes, durante bastante tempo (demasiado mesmo?) ante uma extinção, que não é preciso afrontar.
Representemos, de modo individual, relaxemos, diminuamos a tensão, após termos nutrido Bio, ter bebido uma água verdadeiramente pura, estarmos afastados de todos os vapores perigosos das energias não renováveis. Sejamos verdadeiramente verdes, antes de outorgar ao nosso psique, uma atenção que ela não reclama, aliás, não antes que tenhamos dispensado todos os cuidados devidos ao nosso “Hardware”!

(IV)
Esta evolução dos modos de vida norte-americanos precedem, como, se amiúde, a dos Europeus, seria completamente admirável, se não tivesse incitado alguns caturras, cada vez mais e mais numerosos, a associar, duas disposições, que exprimem muito, vinculados a mercantilização: o anti-intelectualismo e o anti-racionalismo.
E, explicitando, de modo consentâneo as coisas, temos que:
(1) O primeiro assenta no postulado que “saber demasiado é perigoso”, saber demasiado, outrossim, como apreciar demasiado o que os Europeus, no âmbito da história mais longa, denominam Cultura. Este princípio é quiçá excessivo, porém não desprovido de alguma sensatez. Tantos seres vivem como podem, sem saber grande coisa e correm o risco de se sentir destabilizados, se estudam. As vidas vegetativas, num nível de desenvolvimento idêntico ao dos países denominados desenvolvidos se desenrolam muito bem, sem nenhum sentimento de culpabilidade e sem comentários. Este postulado releva, em parte, de uma verificação e outorga boa consciência ao grande número, o que favorece, aliás, a ordem Social.
(2) O segundo é quiçá mais pernicioso, em todo o caso, coloca problema, tendo em conta, o seu renascimento na Nação, onde o Progresso científico foi, nestes últimos anos, o mais rápido. O êxito crescente deste anti-racionalismo se compreende facilmente. Este postula, que nenhum facto, nem nenhuma ideia, releva de um saber científico irrefutável, sim, na verdade, só existe meras opiniões. Esta atitude, por sua vez, legitima todas as seitas: o incógnito, se aspirando a todas as opiniões possíveis, assim como, a todos os recuos, como o que traduz o Criacionismo. Subsiste então, o facto que, aproximadamente, metade de cidadãos norte-americanos, são evangelistas e o facto que o Mundo foi criado tal dia a tal hora, por uma potência divina se encontra doravante, sob a sua pressão, é ensinado nas escolas. Os caturras correm o risco de o permanecer demasiado tempo e a Idade que denunciam se revelar duradoura (mais que o seu próprio ambiente).

(V)
Estas duas disposições, enunciadas e estudadas, podem parecer sobremaneira paradoxais. O anti-racionalismo, designadamente, tendo em conta o papel das elites cientificas norte-americanas, do domínio militar até à Biologia, passando pelo conjunto das descobertas físicas que permitiram o advento da Internet.
Paradoxo aparente, unicamente na medida em que se vê, muito bem, como podem se articular, no domínio político, a coexistência de uma minoria hiper-racionalista e de uma grande maioria ignorante da História e da Geografia, fora da sua rua, onde se encontram estes arquétipos da vida social norte-americana: donas de casa periodicamente desesperadas cujas as preocupações não parecem ultrapassar o seu estrito interesse, sem mesmo passar pela sua cozinha. Esta desigualdade cultural, a do saber, se acrescenta relativamente à desigualdade económica e à da riqueza. Se adicionam, aliás, sem se corresponder. Os ricos texanos, segundo o que nos ensinava este extraordinário Dalas, que virtualmente a vulgarizou antes da Hora do Mundo desenvolvido, só aprovam para o conhecimento do seu ambiente dissemelhante do que feminino ou petrolífero, um interesse apaixonado.

(VI)
Não há dúvida nenhuma, que as duas Américas, a dos Prémios Nobel e a das “donas de casa exploradas”, dos seus esposos (evidentemente), amiúde frustradas e dos seus progenitores condenados à mesma sorte, só fazem favorecer o exercício, assaz racional, do poder económico político concentrado nas mãos de alguns. Estamos ante uma pseudo democracia (uma democracia sonhada que se presta ao estatuto de produto de apelo à exportação).

(VII)
Na verdade e, na realidade, os USA suplantaram para sempre, a “Bona velha Albion” cuja a influência é, cada vez mais e mais, reduzida no perímetro londrino.
Antes de mais, de elucidar, que o vocábulo Albion é um nome alternativo, de conotação poética da Grã-Bretanha, ou da Inglaterra. É uma helenização renovada do nome da Grã-Bretanha, Alba.
E, reatando, o fio da nossa elocubração e raciocínio respectivo, de feito, para apreciar o poder ideológico do Mercado, basta substituir os Estados Unidos da América pela Inglaterra, no trecho da obra “Para além do bem e do mal” em que o filósofo alemão Friedrich NIETZCHE (1884-1900), assertivamente avisa, nestes termos: “No fundo, todos os moralistas estão decididos a dar razão à moralidade [americana], na medida em que esta moral será útil à Humanidade ou à felicidade do maior número […]. Pretenderiam, custe o que custar, se persuadir que o esforço para a felicidade [americana] quero dizer o conforto e a moda (e, em última instância), um assento no [Congresso], que tudo isso, se encontra precisamente na senda da virtude, enfim, que toda a virtude que jamais existiu, em qualquer parte do Mundo, se encarnou num tal esforço. Nenhuma destas vagarosas bestas de rebanho da consciência perturbada (ou comprada), (que empreenderam fazer observar a causa do egoísmo como a do bem-estar geral), jamais quis compreender e pressentir que o bem-estar geral não é um ideal, um fim único, uma escolha concebível de um modo qualquer, mas tudo simplesmente um vomitório”.

(VIII)
De consignar, todavia, que NIETZCHE não era nisso, menos demasiado filósofo, demasiado europeu, sim, assaz pragmático, o que os herdeiros imigrantes norte-americanos são e permanecerão muito tempo. Aliás, sem o dizer, nem o escrever, alguns de entre eles sabem que “existe uma hierarquia entre homem e homem e, por conseguinte, outrossim entre moral e moral”, se opondo firmemente ao juízo do filósofo alemão acerca dos Anglo-Saxões, segundo o qual: “é uma espécie de homens modestos e forçosamente medíocres como estes [Americanos] utilitários […] sem entusiasmo nem graça […], sem génio e sem espírito” (salvo os que ocupam o vértice da hierarquia que compreenderam perfeitamente que o exercício do seu poder é tanto mais tranquilo e proveitoso, se a base for anti-intelectual e mesmo anti-racional…?!).

Lisboa, 14 Setembro 2009
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).
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