quinta-feira, 24 de setembro de 2009

ELOCUBRAÇÃO SEXTA:

“Ser culto es el único modo de ser libre”.
José MARTÍ (1853-1895).

Cada Sociedade tem o Governo que merece…

Da “Actuação” dos jornalistas:

Os jornalistas são contestados, concretamente, no atinente ao seu grau de liberdade a respeito dos “homens das finanças”, dos proprietários e dos dirigentes de médias, das suas técnicas de selecção, de construção e de difusão da Informação. Em suma: as condições e os meios de informação são julgados, tão importantes como os determinantes ideológicos, de alcance imediatamente políticos.
Sim, efectivamente, numa Sociedade, numa democracia amplamente edificada sobre a opinião, a possibilidade de agir sobre esta, de aproveitar da sua mobilidade, conta tanto como a verdade do seu conteúdo. Durante uma campanha eleitoral, de desafio de elevado grau de importância, o relacionamento com os jornalistas capazes de actuar, com eficácia sobre a opinião volátil de numerosos eleitores; pode ser decisivo.
Demais, ainda, no âmbito desta dinâmica, o comentário político das sondagens repetidas, relativas às escolhas e às intenções de voto, possui um efeito, quase imediato, por interpretação das etapas da corrida perseguição avocada pelos candidatos principais.
De sublinhar, entretanto e avisadamente, que mais notável ainda é a relação de proximidade, de familiaridade, de convivência estabelecida entre um candidato e os jornalistas acreditados, colocados sob o controlo dos conselheiros de campanha.
Na verdade, cada grupo de jornalistas, que segue um determinado candidato, na sua campanha pessoal, acaba por lhe estar progressivamente vinculado, visto que o segue, em permanência…
Todavia, o que é facto é que “a democracia desejada” deveria ser participativa pelo menos, enquanto representativa. O que conduziria, a não deixar unicamente aos jornalistas, o estabelecimento dos factos e da sua interpretação respectiva. Sim, pelo contrário, em complementar o seu profissionalismo e a sua experiência vivida, em contacto com os cidadãos. No entanto e, sem embargo, este jornalismo da cidadania poderia constituir apenas um mero artifício.

A despeito de tudo, não há dúvida nenhuma, que a Internet, por ser, assaz acessível, a um núcleo vasto de cibernautas, opera no imediato [se questiona, responde; se exprime, transmite], representa, actualmente média, que mais pode transformar uma campanha eleitoral, lato sensu.
Sim, efectivamente, é o tempo dos “sites” e dos “BLOG(S)”, dos jornais pessoais ou das personalidades abertas à permuta. Sim, é o tempo das redes, onde todas as informações, inclusive, os rumores e as mentiras manipuladores podem, massiva e continuadamente circular.
De feito, estamos perante um fenómeno, assaz interessante, em que o écran informático concorre com o denominado écran catódico. Concorre, aliás, mais geralmente, com médias tradicionais, na idêntica medida da desconfiança aposta acerca dos jornalistas, que não souberam manter uma boa distância, garantia das boas práticas de ofício. De facto, a Tecnologia da Informação e da Comunicação comanda, uma e outra, tornando, actualmente acessível a Todos, uma determinada construção do social.
Eis porque, mais que nunca, os jornalistas sentem então coagidos, a inventar uma nova fórmula de cumplicidade com os receptores das suas informações e das suas análises respectivas, correndo o risco de acrescentar novas razões de mal-entendido e de desconfiança.
É, no âmbito desta dinâmica e perspectiva respectiva, que os homens políticos, os seus agentes de marketing, compreenderam o “interesse de investir no mundo virtual”, visto que neste estão, obviamente, as “metamorfoses” que se movem, porém, são as de homens reais e constituem, ipso facto, simultaneamente uma mesma e idêntica realidade. Pode-se já imaginar o modo de agir e de actuar por um (o virtual) para influenciar o outro (o encarnado). Enfim, a colocação em situação trivial ou ridícula dos políticos, que constituía a função dos humoristas, a utilização dos “bonecos animados”, etc., constituem, outrossim, ocasiões de se realizar, com a cumplicidade instrumental das novas tecnologias.
Na verdade, todos estes tipos de processos e jogos, não possuem, meramente, apenas uma função de divertimento de temática política. Assinalam, outrossim, uma mudança no relacionamento com os políticos e, por extensão óbvia, com a própria política, lato sensu. Estes (referindo-se aos políticos) já não pertencem a um espaço dissemelhante, separado em que eles próprios, tornados diferentes pela sua indumentária, feita de simbólico e de sacralidade, designadamente, atingir o cargo supremo. Em suma: são recolocados, num espaço mais comum: tornando-se próximos ou relevam de uma proximidade simulada, a que os jogos de simulação e as montanhas vídeo manifestam. Todavia, praticando-a em excesso, no desígnio de caricatura, ordinariamente.

Eis porque, se afirma, reiterando à saciedade, que, hodiernamente, as campanhas eleitorais (lato sensu) se jogam com os meios da Internet, concretamente, com a sua competência e capacidade mobilizadora, pois que libertam a palavra, a argumentação e a demonstração que permitem, outrossim as perversões da busca épica de influência, a mentira, o rumor, a manipulação.
De anotar, que neste assunto, os primeiros são os norte-americanos. De feito, foram os primeiros a experimentar a utilização intensiva da Internet, numa campanha eleitoral, multiplicando as equipas de benévolos cibernautas, que nutrem o positive campaining para o seu candidato e o negative campaining contra o seu adversário. (…).

O que é facto é, que:
Os Estados-Maiores de campanha, os conselheiros em marketing
Político, têm a certeza que a Internet terá muito rapidamente
Idêntico impacto que a Televisão, no decurso da década de 1960.

Não há dúvida nenhuma, que a contribuição da Internet na campanha eleitoral é, assaz evidente. O seu volume e a sua intensidade respectiva, fornecendo a prova têm sido, todavia, tão decisiva? Nada é menos seguro...

E, Rematando adequadamente:
A Idade de médias se tornou, no das dramatizações das grandes encenações do político, da “Teatrocracia” extrema. Já não estamos, unicamente, num tempo agonístico, sim, efectivamente, num momento de confrontação dos projectos e dos programas. Trata-se, sim, efectivamente, de um período de exasperação do espectacular. E, num nível de intensidade, sem precedente, em que a oportunidade de prosápia, de aposta na imagem, de estar em destaque é aproveitada e, de que maneira.
Donde, as reuniões públicas, as televisões e as rádios, os jornais e os magazines pelas montanhas imagens, a Internet e uma dramaturgia acessível, em contínuo (pelos textos, as imagens, as paródias e os jogos de conteúdo político) contribuem, em conjunto, na construção dramática da campanha.
E, explicitando assertivamente:
--- O eleitor é reduzido a um mero espectador e jogador, em que o seu interesse se sustenta desta conexão contrária aos efeitos do tédio, da lassidão, da desilusão.
--- Por seu turno, os candidatos são promovidos a condição de actores, de talentos desiguais. Todavia, jamais se reduzem ao estado de um actor político austero, se preservando unicamente a expressão das suas convicções e do seu programa eleitoral.
--- Entretanto, vale a pena, sublinhar, que o seu “jogo de cena” importa tanto (mais) como o próprio conteúdo das suas propostas.
--- Enfim e, em suma: A construção mediática, a dramatização pelo afrontamento dos suportes da imprensa, talham pelos textos, pelas fotografias, pelas imagens live, a figura dos heróis ou das personagens.

Finalmente, para cada um dos candidatos, não existe igualdade das oportunidades, neste domínio e, por razões que não têm em conta a desigualdade dos meios disponíveis. O “físico”, o talento do actor e o papel pelo qual se define, a sua capacidade de tirar proveito das situações imprevistas, contam mais. E, no atinente, concretamente, aos candidatos “dominantes” sob observação e comparação contínuas, se espera, sobremodo, performances.
De feito, os seus papéis se elaboram, a pouco e pouco, à medida das peripécias da campanha, visto que um papel principal assegura a continuidade:
--- Para Sócrates, o herói em movimento, sempre lá, onde se desenrola a acção (where the action is, segundo a fórmula norte-americana);
--- Para Manuela, o da heroína que surge, escuta, recebe a inspiração ao serviço da salvação de “todos”;
--- Para Paulo Portas, o do herói que Portugal profundo guia (que vem do interior);
--- Enfim, Loução e Jerónimo de Sousa, quiçá e, porque não, os “autênticos offside (s)!...

Assim, aparece o casting e a starisation da vida lusa, neste Portugalex de sempre!... Ai Jesus!

Lisboa, 22 Setembro 2009
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).
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