domingo, 18 de maio de 2008

CURA RADICAL


'DJARFOGO PA RIBA TUDO


Acabei de passar três semanas de férias em Cabo Verde. Três semanas em que não tive o mais pequeno, o mais ínfimo contacto com televisão ou jornais portugueses.

No fim fiquei com a pleníssima certeza de que faz bem à saúde andar longe, longe da comunicação social portuguesa.

E para além de pretender que isso me continue a acontecer, aconselho a si que me lê e consome dessa comunicação social que faça por ter um dia qualquer uma experiência semelhante à minha. Verá que anda doente e não sabe.

Com essa minha experiência compreendo agora aquilo que antes achava ser um snobismo de Carlos Magno quando diz que não lê (ou lê muito pouco) os jornais portugueses preferindo antes o diário espanhol El Pais.

É que a comunicação social portuguesa é um factor de doença pior que muitas bactérias e vírus. Porque estes costumam matar, enquanto a comunicação social portuguesa moe-nos literalmente o juízo, nos enlouquece e nos maltrata perenemente até ao mais longínquo dos nossos dias futuros preservando-nos da morte para que soframos quase eternamente.

Interessante e sobre o mesmo fenómeno é este artigo de Pacheco Pereira no Público de 17/05/08.

De que respigo algumas breves passagens:

FUTEBOL,
FUTEBOL,
FUTEBOL, FUMEI, PEQUEI, VOU DEIXAR DE FUMAR, A ESMERALDA ENTRE O PAI AFECTIVO E O PAI BIOLÓGICO, FUTEBOL, DIRECTO DO ACIDENTE NA A1 QUE PROVOCOU TRÊS FERIDOS, OS PAIS DA PEQUENA MADDIE, FUTEBOL, TENHO UM CANCRO-TIVE UM CANCRO - VOU TER UM CANCRO, o resto, FUTEBOL, FUTEBOL, FUTEBOL


«Eu sei que já escrevi sobre isto, a mais quixotesca das minhas actividades, ainda pior do que a do PSD, mas isto é mais grave do que se pensa. É um sinal de descontrolo cívico, de atraso político e social, de retrocesso da nossa democracia e da nossa vida pública. Não é só na economia que estamos a andar par atrás, é na cabeça. A cultura da irrelevância está a crescer exponencialmente e todos já esperam que o mesmo aconteça nos próximos meses, em que mais uma vez o país vai parar porque há um Campeonato.»

«O mundo agressivo e brutal do futebol, com a sua pedagogia de grosseria e violência, ordinário e vulgar, movimentando poderosos interesses políticos, nacionais, autárquicos e regionais, servindo uma economia paralela, que para nosso mal ainda é a única que funciona em muitos sítios, imerso em corrupção, não aflige nem preocupa ninguém. A começar pelos nossos deputados, que dão a caução institucional da Assembleia da República a um dirigente desportivo acabado de sancionar por "corrupção tentada" e que saía de uma acareação num tribunal.»

«A cultura da irrelevância está impante como nunca, espectáculo e pathos brilham no sítio que anteriormente ainda era frequentado, de vez em quando, pela razão, pelo bom senso, pela virtude. Esta é, obviamente, a melhor comunicação social, a melhor televisão para os governos, e o actual cuida bem que não lhe falte dinheiro para as suas quinhentas horas de futebol. Compreende-se: a bola não pensa, é para ser chutada.»