Um país cujos cidadãos não conseguem ou são incapazes de se comunicar é um país doente.
Vem isto a propósito de ter constatado que mais de 98% (98,4%) dos emails pretensamente “trocados” comigo nos últimos dois anos e meio consistem em Forwards (os célebres FW) de conteúdos insólitos ou cómicos, ou pretensamente insólitos ou cómicos.
Durante esse tempo guardei todos os emails que me foram enviados. Os que se auto-denunciavam pelo título nem sequer foram abertos; todos os outros foram abertos para se constatar da natureza do seu conteúdo.
E o resultado final foi a triste constatção que fica acima descrita: 98,4% era lixo digital circulando na Net.
Vários contactos por mim feitos ao longo deste período de dois anos e meio (com pessoas amigas, conhecidas e desconhecidas) permitiram-me concluir que com todas essas pessoas, exceptuando uma ínfima percentagem, se passa o mesmo: recebem “carradas” de emails FW.
Mas essas pessoas, elas mesmas, também enviam “carradas” de emails FW.
Temos assim um país ― que já se sabia de anedota na ponta da língua ― transformado num país de foliões autistas atirando “bateladas” de emails FW uns aos outros enquanto a orquestra vai tocando e o seu Titanic vai afundando.
Cheguei a descobrir com desgosto e com muita apreensão que existem indivíduos superiormente formados que são incapazes de manter um diálogo escrito coerente mínimo . Mínimo.
Alguns vão ler-me com certeza. Mas não é por isso que me coíbo de escrever isto. É, no meu entender, demasiado grave para que se não diga aos próprios que assim não pode ser. Que assim Portugal não vai lá.
O que faz falta às pessoas é: LEITURA.
Pouco ou nada leram até hoje. E pouco ou nada lêem hoje em dia. Por isso não conseguem escrever.
Mas o pior, para mim, é ver o tempo que se gasta com a pseudo-anedota e o pseudo-insólito. Como se isso valesse alguma coisa; como se isso trouxesse valor à vida social. Antes pelo contrário: é o analfabetismo funcional que com isso cresce cada vez mais afastando as pessoas umas das outras e afastando Portugal do resto da Europa comunitária onde há países que cuidam muito da educação dos seus cidadãos e lhes dão boas condições para competirem no mercado global onde Portugal está inserido.
E com este desabafo “informativo” me fico.
Acabo de entrar de férias e talvez vá a Cabo Verde. Vou já escolher dois ou três livros para levar.
Fique bem. E não estranhe a falta de actividade aqui no blogue até mais ou menos 19 ou 20 de Maio próximo.
Aceite um abraço meu.