Na coluna de "Opinião" do DN de hoje, João Marcelino escreve o seguinte quase em nota de rodapé:
«Em apenas três semanas, Ana Jorge revelou-se a aspirina de que o Governo necessitava para acabar com as dores de cabeça na Saúde. Bastou um discurso mais social, mais preocupado com as pessoas e menos fixado na rentabilidade do sistema. É assim que hoje tem de se fazer a política: a dizer o que as pessoas querem ouvir. Quanto ao que interessa ainda é cedo para verificar se a dois estilos correspondem outras tantas políticas. Só sabemos que corresponde o mesmo primeiro-ministro.»
Aproveito a boleia para acrescentar o seguinte: já o tinha dito e volto a acrescentar: «Não acredito» que a actual Ministra da Saúde venha a seguir as políticas economicistas (de corta, corta, corta) e do fecho indiscriminado e sem alternativas de serviços (mas com alternativas nos privados); que continue políticas restritivas que promovam a saída de médicos dos hospitais públicos para os privados; que promova o fim quase à vista dos quadros médicos hospitalares, substituindo-os por contratados com contratos individuais de trabalho em regime temporário ou quase isso (que fazem com que os médicos saiam logo que arranjem melhor salário no privado porque sabem que no público é o deserto que se desenha); que compactue com a sangria de médicos do quadro em certos Serviços a ponto de as urgências funcionarem às vezes mais à base de médicos fornecidos pelas “empresas” de prestação de serviços (médicos estes quase sempre sem nenhum conhecimento do funcionamento do resto dos serviços onde há consultas, enfermarias com doentes acamados (alguns em unidades de alto risco), unidades de exames especiais, como ecografia, colposcopia, pequena cirurgia, etc. onde esses médicos das “empresas” não actuam, pura e simplesmente: o que degrada de forma inequívoca a qualidade da assistência prestada e a segurança dos doentes.
A actual Ministra da Saúde é médica e certamente terá passado, à frente do Serviço de Pediatria do Hospital Garcia de Orta, em Almada, as passas do Algarve durante o consulado de Correia de Campos. Digo isso porque não acredito que o seu Serviço tenha sido poupado à política restritiva, puramente economicista, de Correia de Campos. E terá certamente tomado conhecimento das condições dramáticas de trabalho em que laboraram (e ainda hoje laboram) os Serviços seus vizinhos do mesmo hospital, de Ginecologia e de Obstetrícia (este então que até teve que fechar parcialmente a urgência obstétrica no Verão passado, por falta de médicos).
Repito: Não acredito que uma médica que tenha vivido tudo isto e muito mais, lá por ser agora Ministra da Saúde vá esquecer estas tristíssimas experiências e nada faça para melhorar estas situações (em todo o país ― não só em Lisboa).
E aqui abro um parêntesis para dizer o seguinte àqueles que ultimamente têm elogiado Correia de Campos por TER DIMINUIDO O AGRAVAMENTO ANUAL DO DÉFICE DA SAÚDE DE 9,2% PARA 2,9%.
Isso só por si não significa nada!
Eu próprio reduziria muitíssimo mais aquele défice se fosse ministro e me propusesse a isso:
Bastaria mandar fechar os hospitais centrais de S. José e Santa Maria, em Lisboa; o de S. João no Porto; e o da Universidade, em Coimbra, para merecer então (na óptica dos elogiadores de Correia de Campos) os maiores elogios até hoje feitos a um governante.
E se eu resolvesse então cortar toda e qualquer comparticipação nos medicamentos... seria, por certo, eleito DEUS.
É isso que é ser bom Ministro? Olha que porra!