domingo, 20 de janeiro de 2008

A MÁQUINA DO TEMPO

Não tenho tempo para nada. Não tenho tempo sequer para viver.

Posso passar um fim-de-semana inteirinho em casa que não tenho tempo sequer para ler o que penso (pensava) ler e reler.

Esgotei o tempo esta manhã entre: fazer e tomar o pequeno-almoço; desentupir filtros de água em vários pontos da cozinha (filtros entupidos devido a obras da EPAL no prédio); ouvir e tomar atenção, enquanto trabalhava, ao programa da Antena 2, “Preto e Branco” (em que participa o Prof. Henrique Silveira, autor do blogue Crítico Musical); fazer e colocar três postas aqui no blogue; e reler umas poucas páginas da “Correspondência entre António José Saraiva e Óscar Lopes”.

Mal comecei, e já era hora do almoço.

Para já, preciso “despachar”, lendo ou relendo, os seguintes 10 livros:
O Mundo é Plano, de Thomas Friedman; A Passo de Caranguejo, e História do Feio, ambos de Umberto Eco; A Bíblia, da Igreja Baptista; O Paradoxo do Ornitorrinco, de Pacheco Pereira; A Cidade e as Serras, de Eça de Queiroz; Breve História do Futuro, de Jacques Attali; A Era da Turbulência, de Alan Greespan; Correspondência entre António José Saraiva e Óscar Lopes; e ULISSES (mais uma vez o Ulisses), de James Joyce.

E agora pergunto: e os jornais e revistas; e os Blogues; e os filmes; e a música; e os disparates que os telejornais me trazem até a casa; onde é que arranjo tempo para isso?

Ah, é verdade: e tempo para trabalhar? Onde é que o tenho?

E serei capaz de arranjar tempo para comer, descomer, higienizar-me, passear a pé, ir às compras, a espectáculos, a festas e a algumas reuniões e eventos em que tenha que participar por dever profissional?

E poderei dar-me ao luxo de dormir?

No meio disso tudo um amigo telefona-me e pergunta:

― Então, quando é que apareces aqui por Macau?

― É pá, é para já, meu amigo! É só vestir o casaco e já apareço ― apeteceu-me dizer-lhe.

E também me apeteceu fazê-lo.

Mas isso é impossível! Requer tempo, e não há tempo, caramba!

Não se consegue por aí nenhum iPOD capaz de concentrar tudo isso e permitir-me dar conta de tudo em dois tempos? Um chip que se me implante ou um comprimido que eu tome e ponha tudo a ocorrer em mim à velocidade de trezentos mil quilómetros por segundo?...

Então! Ó engenheiro! Temos um governo tecnológico, ou isso é só fogo-de-vista?