É sabido que as maiorias absolutas tendem a levar ao poder absoluto; que o poder absoluto tende a levar à auto-suficiência; que a auto-suficiência, por sua vez, pode levar ao autismo e mesmo à reinvenção da realidade.
Hoje ouvi o ministro, Eng. Mário Lino, justificar mais ou menos assim a não construção de um aeroporto na Margem Sul ― cito de cor ―: não se pode construir um aeroporto na Margem Sul porque a Margem Sul não tem cidades; a Margem Sul não tem hospitais; a Margem Sul não tem gente.
Segundo os noticiários da tarde, terá ainda dito que a Margem Sul é um deserto e ninguém constrói um aeroporto num deserto.
Agora, você que me lê, considere os seguintes casos em que se aplica a lógica do senhor ministro Mário Lino e conclua por si:
1. Ninguém vai construir um aeroporto na Margem Sul porque a Margem Sul não tem cidades, não tem hospitais e não tem gente.
2. Ninguém vai construir uma cidade na Margem Sul porque a Margem Sul não tem hospitais, não tem tem gente e não tem aeroporto.
3. Ninguém vai construir um hospital na Margem Sul porque a Margem Sul não tem cidades, não tem gente e não tem aeroporto.
4. Ninguém vai morar para a Margem Sul porque a Margem Sul não tem cidades, não tem hospitais, não tem aeroporto e não tem gente.
Quase apetece perguntar: por quem me toma, hein? Por quem me toma!?
Nota para os que não conhecem Portugal: a Margem Sul é a margem sul do rio Tejo. Tem gente, tem muita gente; tem cidades, tem hotéis, tem comércio e tem hospitais.