TER MEDO DE ESCREVER OU DE FALAR
António Lobo Xavier disse-o ontem para quem o quis ouvir, no programa da SIC Notícias, “Quadratura do Círculo”: que tem relatos de empresas e de serviços onde o correio electrónico e a actividade “teclada” (o verbo é meu, não dele, mas sintetiza o que ele disse) do pessoal que neles trabalha são rastreados sendo que certas decisões sobre esse mesmo pessoal são tomadas tendo em conta o perfil traçado a partir dessa devassa (devassa criminosa, digo eu ― ia escrever “inominável”, certamente com o medo inconsciente de agravar ainda mais o meu perfil, cujo estará talvez a ser traçado por um serviço qualquer destinado a “fotografar” a blogosfera e a catalogar os “blogadores” segundo uma taxonomia política e doutrinariamente, senão inspirada nas, pelo menos parecida às cartilhas de Hitler e de Salazar ― ).
Mas... que se lixe! Não tive medo nos tempos do Fascismo e do Colonialismo; e não é hoje, em pleno regime cada vez mais dito democrático, que vou ter medo de escrever o que penso.
E digo daqui a Lobo Xavier: olhe que conheço pessoas que têm hoje medo de dizer o que pensam. É triste, é revoltante e é inadmissível ― é, sim senhor ― mas é uma realidade neste Portugal que há 33 anos se libertou do fascismo.
É precisa muita testosterona para se viver hoje de coluna direita em Portugal.
E é preciso não esquecer que desde sempre grandes inimigos da liberdade foram pessoas que se diziam sua defensora.
E termino esta posta citando Almeida Garrett (sublinhado meu):
«O exemplo da grande nação, e nossas proprias desgraças nos devem convencer de que sem liberdade de imprensa (e jurados para os seus processos) e sem grandes nacionaes (para a defenderem), a liberdade é chimerica; e todas as instituições, por mais livres que sejam, em vez de beneficio, são uma calamidade pública, um laço armado ao patriotismo, um novo instrumento dado á oppressão, um escudo traidor que só cobre os inimigos da liberdade, e a seus amigos só esmaga.»
Almeida Garrett,
in "Portugal na Balança da Europa".
1830