sábado, 8 de abril de 2006

QUEM PODE, PODE

A memória costuma ser curta mas creio que ainda há quem se lembra no que deu o episódio caricato da fúria de Alberto João Jardim contra a presença dos chineses na Madeira: o embaixador chinês foi de imediato até ao Funchal, pôs em sentido os responsáveis do Governo Regional da Madeira e mandou calar Alberto João.

O qual, ao contrário do que sempre fora seu hábito, meteu o rabo entre as pernas e nunca mais falou dos chineses.

É, de facto, preciso ter muita força e poder para mandar calar um troglodita como Jardim que nunca por nunca nenhum Presidente da República e nenhum chefe do seu partido, o PSD, conseguiu fazer calar. Enfrentou-os sempre, a todos, e continuou sempre a dizer bacoradas sobre bacoradas desafiando-os sem pudor ou contenção.

Vem isto a propósito da “rusga” que as autoridades sanitárias fizeram há bem poucos dias aos restaurantes chineses em Portugal. Pelo que foi noticiado, 14 deles foram de imediato encerrados por falta de higiene. Mas o pior, para os chineses, terá sido a passagem das filmagens que se fizeram sem autorização dos proprietários dos restaurantes, filmagens que a SIC (e aqui há um mistério a desvendar: porquê só a SIC teve conhecimento da “rusga”; e quem a avisou?) realizou no interior dos mesmos e apresentou pornograficamente ao público mostrando o desmazelo reinante nas cozinhas desses restaurantes.

Quem como nós viveu na China e conhece bem a mentalidade, a susceptibilidade e o sentido da honra dos chineses, sabe bem o quão funda foi a ofensa que nesse caso lhes foi feita. Acabaram de fazer aos chineses aquilo que eles menos gostam na vida: fizeram, com a “rusga” e a sua divulgação pornográfica, que os chineses “perdessem a cara”.

E quem faz “perder a cara” a um chinês, faz-lhe a maior das ofensas. E compra a maior das guerras.

Para já a SIC foi obrigada, há dois dias, a convidar o responsável pela ASAE (A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica) - entidade que executou a “rusga” e encerrou 14 restaurantes - a prestar declarações ao telejornal daquela estação de televisão, tendo-se o mesmo desculpado com o argumento de que «não fiscalizamos apenas restaurantes chineses, mas também padarias e pastelarias portuguesas». Só não explicou porque é que quando fiscalizam as tais padarias e pastelarias não levam atrás as câmaras da SIC para mostrar a coisa ao grande público. Nessas declarações o mesmo responsável da ASAE terá confirmado ter aceitado um convite para almoçar com o embaixador chinês em Lisboa.

E agora, o mesmo homem que fora à Madeira mandar calar Alberto João vai dizer mais ou menos isto ao responsável da ASAE quando almoçarem:

- Para começar, acabou-se a perseguição aos comerciantes chineses. E independentemente do que vierem a fazer para reparar os prejuízos que acabam de provocar aos proprietários dos restaurantes (a afluência aos mesmos caiu 50% na sequência da “rusga” da semana passada), o Governo de Pequim decidiu já suspender a apreciação de “X” projectos empresariais portugueses na China, e pondera o cancelamento de encomendas, no valor de “Y” milhões de euros, que tínhamos feito à indústria portuguesa.

Para além disso exigimos que organizem um programa de reabilitação da imagem dos restaurantes e do comércio chinês em Portugal.

Transmita isso aos seus superiores e passe muito bem.


Aposto que dentro de pouco tempo vamos ter os meios de comunicação a louvar e a publicitar "gratuitamente" (alguém há-de pagar) os restaurantes chineses.

Havemos de ver se sim ou não.

É que... quem pode, pode mesmo!