CONTO O QUE EU VI EM CABO VERDE
Nesta viagem que agora acabou encontrei um país onde a população não vota maioritariamente no Presidente recandidato apoiado pelo partido que havia apenas três semanas ganhara de forma clara as eleições legislativas, mas vota sim, maioritariamente, no candidato apoiado pela oposição.
Isso:
numa prova clara de que, a despeito de toda a "clubização" (pretende-se que os partidos políticos sejam encarados pelos eleitores como um clube desportivo cujo emblema se apoia sempre mesmo quando não se concorda com o que lá se passa) – a despeito de toda a "clubização", dizíamos – os eleitores tiveram o discernimento suficiente para fazerem, de forma consciente, a escolha do candidato que mais garantias lhes dava;
numa prova clara de que quem reside no país não gostou da actuação que o seu Presidente tivera durante cinco anos de mandato e queria vê-lo de lá para fora não o reconduzindo no cargo.
No meu entender Pedro Pires é agora um Presidente mais fraco do que era pelo facto importante de ter saído derrotado no interior do país estando ele sentado na cadeira presidencial desde há cinco anos e beneficiando do apoio de todo um Governo legitimado nas urnas havia apenas três semanas.
É certo que a emigração o elegeu claramente (e os emigrantes não são menos cabo-verdianos que os residentes no País); mas o estigma de ter sido preterido por quem vive – digamos assim - dentro de casa com ele, de manhã à noite, todos os santos dias, é um estigma demasiadamente vincado que, no meu entender, o diminui de forma significativa para todo o mandato de cinco anos que ainda o espera.
Carlos Veiga tornou-se uma sombra demasiado grande para Pedro Pires.
E ficou demonstrado que Veiga tem capital político e apoio popular suficientes para ser um dia eleito Presidente da República.