quinta-feira, 1 de dezembro de 2005

PORQUE A ETERNIDADE NÃO EXISTE



Segundo o jornal A Bola, de hoje, «Estima-se que mais de 500 mil pessoas marcarão presença no funeral de George Best, no sábado, em Belfast (Irlanda do Norte).»

É preciso dizer, mais uma vez, que se tratará de meio milhão de pessoas no funeral de um futebolista.

Aos olhos das gerações mais recentes (nascidas de setenta para cá) pode parecer um fenómeno inexplicável; mas não é.

George Best, para além de ter sido um génio a jogar futebol - talvez o primeiro futebolista verdadeiramente tecnicista e malabarista das Ilhas Britânicas (nascido na Irlanda do Norte) -, foi talvez o primeiro futebolista mundial a impor a sua liberdade individual a um clube de futebol profissional (e logo ao Manchester United).

Naquele tempo os futebolistas eram autênticas propriedades dos clubes; autênticos escravos nas mãos dos dirigentes do futebol (o Eusébio que conte a sua verdadeira história – apesar de ter sido o melhor de sempre em Portugal, conta-se que uma vez Salazar “decretou” que passasse a ser património do Estado, imagine-se).

Mas estávamos a falar de George Best.

Best não acatava as “normas de escravidão” impostas aos futebolistas de então e por isso era visto nos pubs a beber cerveja com os amigos; frequentava bares e discotecas; namorava em plena rua, à frente de todo o mundo (é preciso dizer que nessa altura isso dava pelo menos uma ida à esquadra mais próxima); e maravilhava o mundo do futebol com os seus dribles e toques geniais na bola; uma corrida serpenteante e imparável rumo às balizas adversárias; golos monumentais de recorte artístico inimitável; tudo feito sem alarde de sobranceria ou vedetismo por um atleta de cabelos compridos à Beatle e cerrada barba castrista ou comunista. Tudo nele era novo e revolucionário para o seu tempo - sobretudo para a ultra-conservadora sociedade inglesa de então.

É por tudo isso, e por Best ter sido apenas um homem como qualquer outro homem livre – é por isso - que todos os que o conhecemos lhe prestamos homenagem nesta hora que vai a enterrar este verdadeiro símbolo da Liberdade Individual e um grande, grande e inigualável artista.

Best sabia que ninguém viveria ou viverá por ele.

Por isso fez muito bem em ser ele a viver a sua própria vida.

Até sempre George Best.