sábado, 29 de outubro de 2005
ACONTECEU O INIMAGINÁVEL
O Hospital de S. Francisco Xavier (um hospital central da capital de Portugal) fez publicar, nesta última segunda-feira, nos jornais, um anúncio pedindo «médicos especialistas em Obstetrícia/Ginecologia» para trabalharem em regime de «Contrato Individual de Trabalho na modalidade de 35 horas semanais».
Tiveram o cuidado de não dizerem quantos médicos pretendem contratar e, sobretudo, abstiveram-se de publicitar quanto pretendem pagar a cada um deles.
Mas, apesar disso, ou muito nos enganamos, ou esse anúncio vai ficar sem uma única resposta.
Este é um acontecimento inimaginável há bem poucos anos atrás em que os médicos, às vezes, chegavam ao extremo de recorrerem aos tribunais para disputarem entre si um lugar posto a concurso. E também é inimaginável que o próprio anúncio pudesse acontecer no passado.
Longe vai o tempo em que era prestigiante para um médico pertencer ao “quadro de um Hospital Central”, ou ser, simplesmente, Interno de um desses hospitais.
E o anúncio em causa é ainda menos motivador em termos de pretígio, pois, não oferece sequer um lugar de Interno, quanto mais um lugar no “quadro” daquele hospital.
É um anúncio que pretende recrutar uma espécie de empregada doméstica a prazo - um médico com contrato precário de alguns meses, renovável.
E se há médicos (há, mas poucos) que ainda aceitam esse tipo de contrato, a tendência é para que cada vez menos o façam, pois, ganha-se hoje, no privado, em uma semana de cinco dias de trabalho (sem se fazer qualquer serviço de urgência), mais do dobro do que se ganha num hospital em um mês de trabalho fazendo, ainda por cima, quatro serviços de urgência de 12 horas de duração (integrados nas tais 35 horas de que fala o anúncio), mais um de 24 horas ao fim de semana.
Como poderemos constatar dentro de pouco tempo, para nossa infelicidade, a coisa vai ficar mesmo muito preta para os lados dos hospitais, no que ao número de médicos diz respeito.
E não se pense que o solução virá do estrangeiro. Esta é uma tonteria que de vez em quando é dita por alguém; já se publicaram anúncios no estrangeiro pedindo médicos e nem por isso vieram.
Só quem nunca emigrou é que pensa que é fácil fazer desenraizar um cidadão da sua pátria para ir trabalhar a pataco noutro lado qualquer.
A COISA ESTÁ MEMSO PRETA, acreditem!