sábado, 13 de agosto de 2005

MEMÓRIAS CONTADAS (1)

Esta foi-me contada como sendo verídica por um ex-pára-quedista:

Um destacamento do exército colonial português prendera o chefe de uma aldeia em cujas imediações eram constantes as emboscadas às tropas portuguesas na Guiné, e submetera o homem a torturas várias no intuito de extrair dele confissões sobre os “turras” dessa aldeia.

Irritado com o obstinado silêncio do velho, o comandante mandou amarrá-lo a uma árvore, privado de qualquer alimento, e mesmo de água.

De vez em quando ia lá um tropa indagar da “vontade” do ancião em falar, e, regra geral, o soldado voltava com a mesma resposta: «continua a recusar falar, comandante».

Um dia depois este mandou obrigar o velhote a ingerir sal e continuou a aguardar a quebra da resistência do prisioneiro.

Passados dois dias, finalmente já moribundo, o prisioneiro confiou a um soldado que o fora interrogar: «falo sim senhor, mas com o senhor comandante».

O comandante, triunfante, dirigiu-se ao local onde mantinha o inimigo e encontrou um farrapo humano amarrado a uma árvore, única condição que ainda mantinha em pé o velhote.

- Então! Já quer falar ou ainda não? - indagou o comandante.

- Já quero falar, já - respondeu o torturado.

- E o que é que tem para me dizer? – volveu o comandante.

- PUTA QUE O PARIU!

E o ancião recebeu o tiro da misericórdia.