sexta-feira, 19 de setembro de 2003

PARA ESCREVER TRITEZAS DESTAS ERA MELHOR ESTAR CALADO

Quando criei este blogue pensei que viria aqui falar também da África do presente. Mas o nosso continente só tem, hoje em dia, coisas tristes de que se possa falar. Está mais infecto que o Iraque, o Médio Oriente ou o Afeganistão: guerras, assassinatos, ladroeira generalizada, miséria, doença, fome e o mais que o diabo ainda nem sequer se lembrou de inventar. Mas que já há em África.

O terceiro país mais pobre de África é hoje a Guiné-Bissau.

A Guiné-Bissau, cuja independência uma elite cabo-verdiana ajudou a conquistar e a construir, deixou já de ser um país na verdadeira acepção da palavra.

Hoje a Guiné-Bissau não passa de um espaço verde habitado. Não passa de uma reserva natural em adiantado estado de degradação. Nada do que define um país funciona nesse espaço: governo, bancos, escolas, tribunais, repartições públicas, central eléctrica, rede de comunicações. Nenhuma destas estruturas funciona verdadeiramente, hoje, na Guiné.

Deixou de haver o Estado da Guiné-Bissau poucos anos depois de os cabo-verdianos, por escolha sua ou a isso forçados e obrigados, se terem afastado do poder e da administração pública daquele território.

O certo é que a Guiné só com guineenses transformou-se em nada.

Perdeu toda a credibilidade internacional e tem passado por vexames inomináveis sem que se veja o dia em que poderá entrar no rumo certo.

Para cúmulo do descrédito teve, até há poucos dias, um presidente bêbado, doido e autoritário que passava tardes inteiras sentado à porta do palácio presidencial (em plena rua) a jogar às cartas com amigos e a “mandar bocas” aos adversários políticos que passavam por perto. Uma chacota sem paralelo em qualquer parte do mundo.

domingo, 7 de setembro de 2003

TRADUÇÃO DE PORTUGUÊS PARA PORTUGUÊS

O treinador brasileiro da selecção portuguesa, Luís Felipe Scolari, disse ontem aos jornalistas, em conferência de imprensa, após a derrota dos portugueses frente à selecção espanhola por 3-0, o seguinte:

«Fui eu que joguei mal, fui eu que errei tacticamente, tomei três golos e um banho de bola. Os jogadores fizeram o que lhes foi pedido, por isso o culpado sou eu».

Ora bem, perante esta ironia tão descarada quão sarcástica, o que é que fizeram os repórteres (da TSF pelo menos pois eu estava a ouvi-los em directo)?

Disseram aos seus ouvintes que «Scolari assumiu todas as culpas pela derrota».

Meus caros senhores repórteres e jornalistas.
Deixem que este luso-cabo-verdiano vos traduza o português do brasileiro Scolari.

O que esse homem disse foi que:

Os jogadores portugueses não cumpriram minimamente as suas obrigações profissionais;
Não fizeram o que o treinador lhes pediu que fizessem;
E foi muito bem feita terem tomado três golos e um banho de bola.

Não era Fernando Pessoa que dizia que «a ironia é própria dos seres inteligentes»?