DOENTE À FORÇA
Numa tarde de sexta-feira um médico que habitava o mesmo apartamento que um seu irmão doente psiquiátrico achou que este estava bastante descompensado e iria estragar-lhe completamente o fim de semana. Achou ainda que uma boa solução para o problema seria: levar o irmão doente à urgência do Hospital Júlio de Matos em Lisboa e pedir ao colega de serviço que desse um jeito para que o irmão fosse internado ao menos durante o sábado e o domingo.
Convenceu o irmão psicótico a acompanhá-lo ao hospital e, uma vez lá chegados, enquanto andou à procura do local onde se localizava a urgência, o irmão doente, que conhecia os cantos à casa, deslocou-se rapidamente e foi falar com o médico de serviço perante quem se apresentou como colega pedindo-lhe um favor. Disse então o verdadeiro doente ao médico: «colega, daqui a pouco aparece por aqui um irmão meu doente mental psicótico que tem a mania de se dizer médico e que me quer internar à força. Acompanhei-o até aqui porque me está a dar uma trabalheira bestial em casa e queria pedir ao colega que o internasse até que se acalmasse, pelo menos este fim de semana».
Assim, quando o irmão médico conseguiu finalmente falar com o clínico de serviço e começou por se apresentar como colega pedindo àquele que lhe internasse o irmão doente, o clínico chamou logo o enfermeiro a quem encarregou de acompanhar “este doente” à enfermaria onde ele iria passar o fim de semana internado. E não se esqueceu de dizer ao enfermeiro: «se ele estiver agitado dê-lhe um sedativo que depois eu faço a prescrição».