terça-feira, 3 de abril de 2012

(XLIX) Alors que faire?


 Pratica de ACTUAÇÃO QUADRAGÉSIMA NONA:


Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895)

Uma pertinente Leitura da “Tese da Crioulização”:

Quiçá, em jeito de EXÓRDIO para principiar:

            Do lexema/vocábulo: CRIOULO à luz dos Dicionários:

            (I)LAROUSSE DE LA LANGUE FRANÇAISE (2002)
                        CRÉOLE: n. et adj. (Espanhol: Criollo, Português: Crioulo, 1670).
                        Personne de race blanche née dans une des anciennes colonies (Antilles, Guyane, en particulier)
                        LING: Langue provenant d’un parler de type pidgin et devenue la langue d’une communauté linguistique.
                        Ensemble des langues vernaculaires en usage aux Antilles, en Guyane, en Louisiane, etc.

            (II) DA ENCICLOPÉDIA PÚBLICO 6:
                        Crioulada: Nome feminino: Porção de crioulos
                        Crioulismo: Nome masculino: Modos, tendências, influência dos crioulos
                        CRIOULO:
n  Nome masculino. Indivíduo nascido na América e de ascendência europeia; negro nascido no Brasil
n  Por extensão: Indivíduo de raça negra
n  Adjetivo: Relativo à crioulo; originário do país onde vive; autóctone; designativo das pessoas de raça branca nascido em colónias europeias; dialecto que essas pessoas falam. (De criar).
n  Linguisticamente: Tem o nome de crioulos os dialectos coloniais de línguas novi-latinas e mesmo do inglês e do alemão ou do holandês. Os dialectos crioulos formaram-se quando o indígena começou a utilizar a língua do colonizador e a modificou, quer na fonologia ou na morfologia, quer na sintaxe ou no léxico. Os sons passaram a ser pronunciados de outra forma, alterando-se, as formas modificaram-se, alterou-se a construção e certas palavras chegaram mesmo a mudar de sentido ou conservaram o que tinham ao tempo da formação do dialecto. Ao mesmo tempo, no dialecto que se formou mantiveram-se palavras indígenas ou adaptaram-se algumas de língua estrangeira.


(III) Do DICIONÁRIO HOUAISIS da Língua Portuguesa, Tomo VI:
            CRIOULO: Adjetivo/Substantivo masculino:
                        Ant.: Diz-se de ou cria, escravo;
                        Por extensão: que ou quem nasceu escravo nos Países Sul-Americanos, por oposição à quem já chegou de África com essa destinação;
                        Que ou quem, embora descendente de europeus, nasceu nos países Hispano-Americanos e noutros originários de colonização europeia;
                        Que ou quem nasceu no Brasil (diz-se qualquer negro).
                        Linguística:
n  Diz-se de ou cada uma das Línguas mistas nascidas do contacto de um idioma europeu com línguas nativas, ou importadas e que se tornaram línguas maternas de certas comunidades socioculturais. (...).
Etimologia:
Prov.der.vern. de cria (por sua vez regr. de criar) com term.-oulo, de origem contrv., que tem sido ligada ao sufixo.-olo ou, cf. Nascentes, alt. Na fala dos negros de criadouro susceptível de criar-se bem “do latim creaturu part.fut. do verbo latim creâre “criar” (*creaouro>*creooro>*criouro>), us. para designar  “o negro nascido nas colónias”; deve ter-se difundido através dos espanhol criollo (d1595) “espanhol nascido nas colónias”; doc. No francês crollo (1598), criollo (1643) com a acp. do espanhol; acp.
Linguística (outrossim e ainda):
n  Ocorre no francês langue créole (1688) “português de morfologia simplificada falado no Senegal”.
n  Patois créole (1826) “francês simplificado e misturado com dialectos locais falado nas colónias.
n  Doc. no inglês creole (1737) “indivíduo descendente de europeus nascido nas colónias do Oeste da Ásia ou nas colónias espanholas da América”.
n  (1748) “língua europeia simplificada e mista falada nas áreas de colonização europeia”.

(A)          Com efeito (et pour cause), no âmbito de uma dimensão (mais clássica), do elóquio científico, a “Tese da Crioulização” assenta na proposição simples, segundo a qual as sociedades fundadas pelos antigos escravos resultam de mudanças culturais. Trata-se (por conseguinte), de culturas novas oriundas do encontro entre universos dissemelhantes. Esta interpretação (ora enunciada), deve sobremaneira ao modelo proposto por dois antropólogos americanos, especialistas nesta temática. Estamos a falar de: SIDNEY WILFRED MINTZ (n-1922) e RICHARD PRICE (n-1949).
(B)          O primeiro (S. W. MINTZ) é conhecido pelos seus trabalhos sobre o campesinato das Caraíbas, enquanto o segundo (R. PRICE), é uma autoridade pelas suas investigações sobre os SARAMAKA do SURINAMA. Esta especialização centrada sobre os MARRONS acrescenta muito (certamente), ao crédito da tese sobre a “Crioulização”, visto que um dos que formulam se esteia nas Sociedades que podem ser vistas como fragmentos de África autêntica. Em todos os casos, o modelo de MINTZ e de PRICE conhece uma enorme notoriedade favorecida por uma abordagem (geralmente), “crioulista” das Sociedades negras das Américas e (particularmente), das Caraíbas.
(C)          Vale a pena (antes de mais), sublinhar, que se encontra (com efeito, amplamente), propalada a ideia de aproximar estas sociedades através do carácter “crioulo”. Ou seja: “nascido no local”. Porém, na sequência do percurso migratório das gerações precedentes. Já agora (vale a pena precisar), que o vocábulo “crioulo” (oriundo do espanhol criollo, ele mesmo, por seu turno, derivado do português crioulo: nativo da localidade), foi (primeiramente) utilizado para denominar os descendentes de colonos e (ulteriormente), veio a designar o conjunto da população “não indígena” das colónias, mas nascido no seio delas, “incluindo tanto os colonos europeus como os escravos africanos”. Enfim e (sem sombra de dúvida), o recurso ao termo deixa (destarte), pressagiar uma abordagem sensível à mudança induzida (concomitantemente), por esta “não autonomia” e pela adaptação à um ambiente novo.
(D)          Devemos ter (em atenção) e ter (sempre presente, aliás), que a hierarquia nas plantações esclavagistas punha em jogo, as categorias do Africano, escravo (que chegou recentemente), denominado: “Boçal”, ou “NEG Kongo”, nas Antilhas francesas e de crioulo, escravo (nascido no local) e “socializado”, no quadro da Sociedade local. A “indigenização” designa a adaptação dos Africanos neste ambiente, a sua “crioulização” progressiva.
(E)          De anotar, que os colonos britânicos tinham um termo especial (o seasoning) para designar o período de “experimentação” dos recém-chegados. Aliás, todos os estudiosos desta problemática são (unânimes), em sublinhar a tese, que não se pode referir à crioulização sem ter em conta este processo de aclimatação com toda a dimensão conflitual que (ele) encerra, em conexão com a depreciação do modelo africano. Eis porque, alguns estudiosos, comungado com esta ideia, chamam a atenção no facto, que o termo “crioulo” não pode ser neutro, pois que supõe já (pela história do seu uso), uma inferiorização das culturas africanas. Donde, enfim: Reter a expressão “crioulização”, é expor em reproduzir este esquema e em afastar (em última análise), a possibilidade de ver o projeto teórico da crioulização como um esforço determinado para negar a inevitável centralidade do elemento Africano na Cultura antilhana”, comungado (crítica e pedagogicamente), com o conceituado investigador jamaicano da UNIVERSITY OF THE WEST INDIES, CECIL GUTZMORE (2000).

Lisboa 02 Abril 2012
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).