Pratica de ACTUAÇÃO QUADRAGÉSIMA NONA:
“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895)
Uma pertinente Leitura da “Tese da Crioulização”:
Quiçá,
em jeito de EXÓRDIO para principiar:
Do lexema/vocábulo: CRIOULO
à luz dos Dicionários:
(I)LAROUSSE
DE LA LANGUE FRANÇAISE (2002)
CRÉOLE: n. et adj.
(Espanhol: Criollo, Português: Crioulo, 1670).
Personne de race blanche née dans une des anciennes colonies (Antilles, Guyane, en particulier)
LING:
Langue provenant d’un parler de type pidgin
et devenue la langue d’une communauté linguistique.
Ensemble
des langues vernaculaires en usage aux Antilles, en Guyane, en Louisiane, etc.
(II)
DA ENCICLOPÉDIA PÚBLICO 6:
Crioulada: Nome feminino: Porção
de crioulos
Crioulismo: Nome
masculino: Modos, tendências, influência dos crioulos
CRIOULO:
n
Nome masculino. Indivíduo nascido na América
e de ascendência europeia; negro nascido no Brasil
n
Por extensão: Indivíduo
de raça negra
n
Adjetivo: Relativo à
crioulo; originário do país onde vive; autóctone; designativo das pessoas de
raça branca nascido em colónias europeias; dialecto que essas pessoas falam. (De criar).
n
Linguisticamente: Tem o nome
de crioulos
os dialectos coloniais de línguas
novi-latinas e mesmo do inglês e do alemão ou do holandês. Os dialectos
crioulos formaram-se quando o indígena começou a utilizar a língua do
colonizador e a modificou, quer na fonologia
ou na morfologia, quer na sintaxe ou
no léxico. Os sons passaram a ser pronunciados de outra forma,
alterando-se, as formas modificaram-se, alterou-se a construção e certas
palavras chegaram mesmo a mudar de sentido ou conservaram o que tinham ao tempo
da formação do dialecto. Ao mesmo tempo, no dialecto que se formou mantiveram-se
palavras indígenas ou adaptaram-se algumas de língua estrangeira.
(III)
Do DICIONÁRIO HOUAISIS da Língua
Portuguesa, Tomo VI:
CRIOULO: Adjetivo/Substantivo
masculino:
Ant.: Diz-se de ou cria, escravo;
Por extensão: que ou quem
nasceu escravo nos Países Sul-Americanos, por oposição à quem já chegou de
África com essa destinação;
Que ou quem, embora
descendente de europeus, nasceu nos países Hispano-Americanos e noutros
originários de colonização europeia;
Que ou quem nasceu no
Brasil (diz-se qualquer negro).
Linguística:
n
Diz-se de ou cada uma das Línguas mistas
nascidas do contacto de um idioma europeu com línguas nativas, ou importadas e
que se tornaram línguas maternas de certas comunidades socioculturais. (...).
Etimologia:
Prov.der.vern. de
cria (por sua vez regr. de criar) com term.-oulo,
de origem contrv., que tem sido ligada ao sufixo.-olo
ou, cf. Nascentes, alt. Na fala
dos negros de criadouro susceptível
de criar-se bem “do latim creaturu
part.fut. do verbo latim creâre “criar” (*creaouro>*creooro>*criouro>), us. para designar “o negro nascido nas colónias”; deve ter-se
difundido através dos espanhol criollo (d1595)
“espanhol nascido nas colónias”; doc. No francês crollo (1598), criollo (1643)
com a acp. do espanhol; acp.
Linguística
(outrossim e ainda):
n
Ocorre no francês langue créole (1688) “português de morfologia simplificada falado
no Senegal”.
n
Patois créole (1826) “francês simplificado e
misturado com dialectos locais falado nas colónias.
n
Doc. no inglês creole (1737) “indivíduo descendente de europeus nascido nas
colónias do Oeste da Ásia ou nas colónias espanholas da América”.
n
(1748) “língua europeia simplificada e mista
falada nas áreas de colonização europeia”.
(A)
Com efeito (et pour cause), no âmbito de uma dimensão (mais clássica), do elóquio científico, a “Tese da Crioulização” assenta na proposição simples, segundo a qual as sociedades fundadas pelos antigos escravos resultam de mudanças
culturais. Trata-se (por
conseguinte), de culturas novas oriundas do encontro entre
universos dissemelhantes. Esta interpretação (ora enunciada), deve sobremaneira ao modelo proposto por dois antropólogos americanos, especialistas nesta temática. Estamos
a falar de: SIDNEY WILFRED MINTZ (n-1922) e RICHARD PRICE (n-1949).
(B)
O primeiro (S. W. MINTZ) é conhecido pelos
seus trabalhos
sobre o campesinato das Caraíbas, enquanto o segundo (R.
PRICE),
é uma autoridade pelas suas investigações sobre os SARAMAKA do SURINAMA.
Esta especialização centrada sobre os MARRONS
acrescenta muito (certamente), ao
crédito
da tese sobre a “Crioulização”, visto que um dos que formulam se esteia nas Sociedades que podem ser vistas como fragmentos de África autêntica. Em
todos os casos, o modelo de MINTZ e de PRICE conhece uma enorme notoriedade
favorecida por uma abordagem (geralmente),
“crioulista” das Sociedades negras das Américas e (particularmente), das Caraíbas.
(C)
Vale a pena (antes de mais), sublinhar, que se encontra (com efeito, amplamente), propalada a ideia de aproximar estas sociedades através do carácter “crioulo”. Ou seja: “nascido
no local”. Porém, na sequência do percurso migratório das gerações precedentes.
Já agora (vale a pena precisar), que
o vocábulo “crioulo” (oriundo do espanhol
criollo, ele mesmo, por seu turno, derivado do português crioulo: nativo
da localidade), foi (primeiramente)
utilizado para denominar os descendentes de colonos e (ulteriormente), veio
a designar o conjunto da população “não indígena” das colónias, mas nascido
no seio delas, “incluindo tanto os colonos europeus como os escravos
africanos”. Enfim e (sem sombra de dúvida),
o recurso
ao termo deixa (destarte), pressagiar
uma abordagem sensível à mudança induzida (concomitantemente), por esta “não autonomia” e pela adaptação
à um ambiente novo.
(D)
Devemos ter (em atenção) e ter (sempre
presente, aliás), que a hierarquia nas plantações esclavagistas
punha em jogo, as categorias do Africano, escravo (que chegou recentemente), denominado:
“Boçal”, ou “NEG Kongo”, nas Antilhas francesas e de crioulo, escravo (nascido no
local) e “socializado”, no quadro da Sociedade local. A “indigenização”
designa a adaptação dos Africanos neste ambiente, a sua “crioulização” progressiva.
(E)
De anotar, que os colonos britânicos tinham um termo especial (o seasoning)
para designar o período de “experimentação”
dos recém-chegados. Aliás, todos os
estudiosos desta problemática são (unânimes), em sublinhar a tese,
que não se pode referir à crioulização sem ter em conta este processo de
aclimatação com toda a dimensão conflitual
que (ele) encerra, em conexão com
a depreciação do modelo africano. Eis porque, alguns estudiosos, comungado com
esta ideia, chamam a atenção no facto, que o termo “crioulo” não pode ser neutro, pois que supõe já (pela história do seu uso), uma inferiorização
das culturas africanas. Donde, enfim: Reter a expressão “crioulização”,
é expor em reproduzir este esquema e em afastar (em última análise), a possibilidade de ver o projeto teórico da crioulização como “um esforço determinado para negar a inevitável centralidade do elemento Africano na Cultura antilhana”,
comungado (crítica e pedagogicamente),
com o conceituado investigador jamaicano da UNIVERSITY OF THE WEST INDIES,
CECIL
GUTZMORE (2000).
Lisboa
02 Abril 2012
KWAME
KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista
--- Cidadão
do Mundo).