quarta-feira, 14 de março de 2012

(XLII) Alors que faire?

 Prática de ACTUAÇÃO QUADRAGÉSIMA SEGUNDA:

Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).

Acerca da movimentação/atividade/labuta e práxis/tirocínio do tráfego de escravos:


(1)           Em meados do século XX (pretérito), um missionário de Serra Leoa, de nome: SIGISMUND KOELLE inquiriu um grupo de 177 antigos escravos, solicitando-lhes, que narrassem como tinham sido escravizados. 34% declararam ter sido “capturados na guerra”, em consequência de afrontamentos entre unidades políticas ou à razias de grande envergadura. Neste caso em concreto, está-se a referir às grandes incursões/assaltos anuais que (frequentemente), os cavaleiros da savana lançavam contra os povos de agricultores. De anotar, que KOELLE não menciona o caso de pessoas vítimas de razias organizadas pelo seu próprio soberano, “coisa corrente”, no Congo do século XVII, assim como em outras regiões, porém, 30% dos seus informadores tinham sido raptados (designadamente), entre os IGBO e outros povos sem Estado da floresta.
(2)           De salientar, que no século XVIII, os IGBO voltavam para os campos armados, após ter colocado as crianças da aldeia, numa tapada fechada à chave e vigiada. Onze por cento afirmavam (aliás), ter sido reduzidos à escravatura no fim de uma condenação em Justiça (geralmente), sobre acusações de adultério, o que leva a pensar, que os mais velhos se serviam da lei para se desembaraçar de concorrentes mais jovens. Aliás, não é por mero acaso, que o sagaz negreiro, FRANCIS MOORE, nos anos 1730, escrevia (à propósito da Gâmbia), nestes termos: “Desde que o comércio de escravos existe, todos os castigos foram mudados em escravatura. Existe uma vantagem em tais condenações, elas punem pesadamente o crime, a fim de garantir o benefício da venda do condenado”.

(3)           Na verdade (et pour cause), os fracos eram (todo particularmente), vulneráveis. Um exemplo (assaz elucidativo), ou seja: Dois homens disseram à KOELLE, que tinham sido reduzidos à escravatura porque dois membros da sua parentela tinham sido condenados pela prática de atos de bruxedo. Perto de 30% dos informadores de KOELLE já tinham sido escravos de Africanos. Eram preferidos pelos Europeus, visto que eram supostos ser mais resistentes e menos levados a fugir.
(4)           Com efeito, órfãos, viúvas, parentes pobres, ociosos/desocupados, incapazes e débeis de espírito todos tinham a sina de terminar escravos, como os que desafiavam os poderosos. Por exemplo, um homem “foi vendido por um chefe de guerra, porque recusara ceder-lhe a sua mulher”. Sete por cento tinham sido vendidos para pagar dívidas (geralmente), dívidas da família (não as suas dívidas!). Nenhum informador de KOELLE declarou ser vendido (deliberadamente), durante uma situação de fome/penúria/escassez. Todavia, a “coisa” se encontrava espalhada, visto estes períodos correspondem aos picos de exportações de escravos. Um exemplo, quão ilustrativo é este: Um navio retrocedeu com um pleno carregamento, simplesmente porque tinha sido prometido alimento!...
(5)           Na verdade, o escravo era (por conseguinte), capturado, raptado, condenado, privado de liberdade. Um princípio fundamental do tráfego entrava (então), em linha de conta: Ele (o escravo, obviamente), constituía um bem perecível/caduco! Demais, só se podia outorgar como benefício, vendendo-o antes que morra ou, no caso de pessoas capturadas (há pouco tempo), e ainda próximas dos suas residências, antes que se evadem. Os que os transportavam até aos grandes centros comerciais eram (por vezes), pequenos intermediários que se contentavam ajuntar seres humanos aos tecidos como ao gado de que faziam comércio ordinário.
(6)           Regra geral, contudo, como o observou (aliás), um mercador francês (bem informado), os escravos, mercadoria incerta, no entanto de valor eram “a questão dos reis, dos ricos e dos poderosos comerciantes, à exceção dos Negros inferiores”. Entre estes poderosos negociantes figuravam os SONINKÉ, que transportavam os capturados aquando das incursões dos cavaleiros até à costa da Senegâmbia ou da Guiné.

Continua...

Lisboa, 13 Março 2012
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).