quarta-feira, 16 de novembro de 2011

(XIV) Alors Que faire?

                        Prática de Atuação Décima Quarta:

Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895)

(1)           Visto que a Arte é o que transforma e “trans-valia” o imotivado em motivos (leia-se, sobretudo em motivos de viver e de amar, em motivos do desejo). Já agora, por exemplo, o imotivado da língua é o que a “poesia”, faz o seu motivo sublime. De feito, a sublimação é (sempre), uma tal espécie “de transformação do chumbo em ouro”. Dir-se-á (precisamente),  que a Arte já não é (tão pouco), um objecto de amor. Aliás, diz-se, identicamente (amiúde), das obras de arte contemporânea, que (elas), são “interessantes”, sem  (para tanto), asseverar amá-las...Sem comentários!...
(2)           De sublinhar (antes de mais), que este estado de facto (que é da mais elevada relevância e outrossim um fabuloso enigma), constitui (ele também), um facto do domínio do modelo do consumo acerca do que se denomina (tão pouco, como consequência), as obras de arte ou do espírito. Sim, a “cultura”, o que para o qual, já não se trata, desde lá vão, mais de três décadas, apenas reivindicar um mísero orçamento ao Estado. Pobre ambição!
(3)           Com efeito, não há processo de individuação psíquica, colectiva e técnica possível na ausência do superego e sem sublimação. De anotar (por outro), que o que constitui a possibilidade da individuação do psíquico, do colectivo e do técnico é a trans-individuação como constituição de um (nós), que deseja e em os (eu), que desejam (singularmente), todavia (uns com os outros e uns para os outros).
(4)           Eis porque (tendo em conta o arrazoado, acima exposto), uma política do espírito, que projeta a necessidade do superego, num plano dissemelhante do que sobre o da repressão, é indispensável e só pode constituir uma política da sublimação. De anotar (outrossim), que  sociedade alguma, jamais assentou sobre algo diferente que sobre este “poder de fazer Um com o Múltiplo”, o que constitui a primeira e (quiçá), a única “questão da filosofia”. É o que os “profissionais da política” confundem com a religião e que constitui apenas uma época e uma modalidade da organização, das conexões do Um e do Múltiplo. De salientar (aliás), que esta “confusão” constitui para a nossa época, a própria miséria espiritual (uma miséria quão confusa), da qual o Papa Bento XVI (ele mesmo), apenas pretende louvar os benefícios da laicidade.

(5)           De sublinhar (antes de tudo), que os elóquios dos “profissionais da política” é, todavia, apenas a revindicação política e económica (mais consequente), da liquidação do superego e da relegação (respectiva) da parte dos acessórios místicos e de demais outros suplementos de alma (necessários à paz desta, mas para mais tarde, no reino dos Céus). E, escutando estes discursos, que nada nos promete (na verdade de diferente), mas apenas a guerra e o caos, (situação,  em que o  capitalismo perdeu o espírito), provém de uma incompreensão profunda da questão do superego (assumida como questão do Um e do Múltiplo), mais (outrossim), da sublimação e (identicamente), do que constitui a economia libidinosa e do seu lugar, no âmbito da economia geral (em particular), na época em que as tecnologias do espírito constituem a nova questão ecológica.
(6)           Demais (e para tanto), a questão não é de ironizar os homens políticos, pegando no que constitui a maior fraqueza dos seus elóquios, seja qual for (aliás), a vergonha que (eles), nos inspira, visto que o que é ignorado em geral pela teoria da economia libidinosa é o papel da técnica (isto é outrossim), nossa época, da indústria.
(7)           De facto, existe (para além), da miséria económica que destrói a subsistência (se priva dela os que se encontram nesta miséria) e, para além da miséria simbólica (que destrói as existências), desindividualizando) os indivíduos psíquicos privados do seu narcisismo primordial e do sentimento de existir, existe (identicamente), uma miséria espiritual que desindividualiza os indivíduos colectivos e sociais e que destrói as consistências pelas quais (eles), se co-individualizam e se constituem, prosseguindo e cultivando os motivos e as razões que formam estas consistências enquanto objetos do desejo do que não existe. E lutar contra este estado de facto, supõe pensar o papel das retenções terciárias hypomnésicas. Ou seja: Pensar a técnica, no âmbito da constituição (não unicamente), destas consistências , mas sobremaneira do desejo (ele mesmo), enquanto  o e (originalmente o e (originalmente), conjuntivo da individuação psíquica, colectiva e técnica.
(8)           No entanto, o que é facto, é que as novas formas de hypomnémata se encontram (presentemente), inteiramente nas mãos do populismo industrial e a juventude (constituindo alvo privilegiado do marketing), encontra-se (aliás, especialmente), sensível e (ipso facto) vulnerável aos poderes destas formas de hypomnémata. Apenas, uma política do espírito própria à estas formas, pode constituir um motivo e uma causa para a juventude, visto que (unicamente), práticas dos hypomnémata e das organizações sociais de tais práticas, puderam constituir, desde  a noite dos tempos, uma “espiritualidade”. Posto isto, se afigura relevante, sublinhar, que uma verdadeira causa para a juventude não é o suplemento de alma, mas sim (efetivamente), o próprio futuro de uma Sociedade, de uma Civilização e de uma Cultura. E é isto que deve constituir o objeto de cultos. E, de um modo (dialecticamente assertivo e avisado), a Juventude do século XXI tem direito algo dissemelhante que a polícia!...Sim (efetivamente), ela tem direito à um futuro prenhe de devir. Sim (efetivamente), à um futuro terrestre, porém (assumidamente), espiritual. Ou seja: Um futuro, o mais elevado e promissor possível, evidentemente!
(9)           Na verdade e (sem sombra de dúvida), a Juventude e, por extensão óbvia, as suas causas e a sua elevação constituem temas, que na época do “espírito perdido” do capitalismo e das “sociedades incontroláveis”, não necessitam, como impõem revisitar a questão do superego, que foi tão (frequentemente), agitada (em torno de 1968), ano do “levantamento da Juventude”, cujo pensamento (hoje em dia ainda), muito aproximado, abriu a avenida a verdadeiros naufrágios sociopolíticos. Combateu-se de facto o superego como se combateu o capitalismo, julgando (deste modo), estar a combater (na verdade) o capitalismo. De anotar (antes de mais), que o capitalismo que (presentemente), se preocupa (salvar), de preferência da sua inevitável autodestruição, terminará (entretanto), por desaparecer e se encontrar substituído por uma nova organização económica. Dito (de outro modo): Apenas como uma forma histórica, recente da civilização. No entanto (em contrapartida), o superego constitui a condição de toda a individuação, assumindo-se como um autêntico mecanismo da conjunção das individuações psíquica, colectiva e técnica. Ou seja: Eis-nos ante a verdadeira e autêntica TRANSINDIVIDUAÇÃO!...
(10)         De feito, o capitalismo, como organização da economia libidinosa (que disso explora a energia),  ao ponto de a destruir (o que é uma questão de ecologia do espírito, entendida como forma sublimada da libido), é coagido chegar à destruição do superego. Demais (e por outro), de sublinhar, que o paradoxo e o imenso erro histórico (mas outrossim e sobretudo teórico), está vinculado ao facto, que o capitalismo (que foi identificado à burguesia), era (antes de tudo), o que fora definido pela afirmação de valores, remetendo (eles mesmos), enquanto quadro moral e justificação, à “um direito da propriedade sacralizado”.
(11)         E (em jeito de) Remate pertinente e oportuno, se nos afigura, assaz adequado, expender o seguinte:
a.     Na verdade (et pour cause), se o capital justificou (com efeito), a sua posição por esta moral burguesa, puritana e repressiva, colocando o superego ao serviço de valores familiares e patriarcais, reprimindo (em particular), a sexualidade feminina, culminando o seu deletério percurso, na afirmação da propriedade como fundamento de todo direito.
b.    De anotar, que aqui, todo direito se assume, como o todo, em nome do amor de Deus (Deus o Pai), e mais, outrossim, do seu Filho (Jesus Cristo, figura do Deus de amor). E (por outro), de salientar, que (atualmente), o capitalismo clivado entre capitalismo industrial (que assenta no domínio das técnicas e das tecnologias) e o capitalismo financeiro (que ele próprio, não necessita de nenhum saber), organiza o desencadeamento pulsional, ao mesmo tempo, que (ele), legitima a expropriação, sob mil formas.
c.     Finalmente, vale a pena sublinhar (com ênfase), que, já não se trata (meramente), de expropriar (neste caso, em concreto), os trabalhadores, artesãos, operários, camponeses, etc. mas (identicamente), designadamente: Os proprietários dos “meios de produção, facto que constitui um novo episódio, no âmbito do confronto entre o capital e o trabalho.

Lisboa, 15 Novembro 2011
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista---Cidadão do Mundo).