sexta-feira, 4 de novembro de 2011

KARL POPPER E OS “ESPECIALISTAS”

Neste tempo de verdades únicas, saídas únicas, caminhos únicos, soluções únicas ― em que mal ligamos a rádio ou o televisor ouvimos uma caterva de “especialistas” escolhidos a dedo pregando ao povo “inevitabilidades” e certezas, de que sobressai o autoritário «Não há outra alternativa!» ― lembrei-me de trazer-vos aqui Karl Popper.

Admito que os actuais protagonistas do poder já tenham ouvido falar deste filósofo, mas duvido que o tenham lido e muito menos ainda que o tenham estudado; mas isso é outra história. Vamos então a Karl Popper. E cito.

Hoje, o apelo à autoridade dos peritos é de algum modo desculpado pela imensidão do nosso conhecimento especializado. E é por vezes defendido por teorias filosóficas que falam de ciência e racionalidade em termos de especializações, peritos e autoridade. Mas, do meu ponto de vista, o apelo à autoridade dos peritos não deveria ser nem desculpado nem defendido. Deveria sim, pelo contrário, ser reconhecido pelo que é — uma moda intelectual — e deveria ser atacado pelo reconhecimento franco de quão pouco sabemos e de quanto esse pouco se deve a pessoas que trabalharam ao mesmo tempo em muitos campos. E dever-se-ia também combater pelo conhecimento de que a ortodoxia produzida por modas intelectuais, pela especialização e pelo apelo às autoridades, constitui a morte do conhecimento, e que o desenvolvimento do conhecimento depende inteiramente do desacordo.

Não deverá ter sido antes de 1933 ― ano em que Hitler subiu ao poder na Alemanha ― que um jovem da Caríntia, membro do Partido Nacional-socialista, que não era nem soldado nem polícia, mas que usava um uniforme do partido e andava armado, me disse: «O quê, quer discutir? Eu não discuto, disparo!». Mais de sessenta anos decorreram desde esta experiência.

O ataque do irracionalismo à argumentação tem continuado, durante estes sessenta anos, de mais de sessenta maneiras diferentes.

O futuro está em aberto. Não é predeterminado e, deste modo, não pode ser previsto - a não ser por acaso. As possibilidades contidas no futuro são infinitas. Quando digo «é nosso dever permanecermos optimistas», isto inclui não só a abertura ao futuro, mas também o facto de que todos contribuímos para ele mediante todos os nossos actos: somos todos responsáveis por aquilo que o futuro nos reserva.
É, assim, nosso dever, não profetizar o mal, mas lutar por um mundo melhor.
Fim de citação.

E a luta por um mundo melhor, no meu entender, passa actualmente e antes de mais por apoiar a juventude sacrificando-nos em seu benefício, no que nos compete inalienavelmente desmascarar todos e cada um desses soldados disfarçados de “especialistas”, que recusam argumentos alheios e... «Não discutem, disparam!» ― disparam, entre outras, esta bala irracional: «Não há alternativa!».

Nota. Os negritos e itálicos no texto são da minha responsabilidade.