segunda-feira, 31 de outubro de 2011

(XI) Alors Que faire?

Prática de ACTUAÇÃO DÉCIMA PRIMEIRA:


“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895).


No cerne da ecologia das conexões entre Humanos e não-humanos:
NP:
É (efetivamente), na segunda metade do século XIX que as abordagens e os domínios (respectivos) das Ciências da Natureza e das Ciências da Cultura deixaram de ser delimitados. Esta delimitação fora conseguida (em teoria), pelo desenvolvimento dos trabalhos epistemológicos (fazendo ressaltar) as diferenças de método entre os dois campos de estudo e (na prática), pela afinação da organização compartimentada das Universidades e das Instituições de Investigação (tal como), a conhecemos (presentemente). 
De anotar (no entanto), que como em todo processo de especialização, esta divisão das competências teve efeitos positivos por ter concentrado, no seio de comunidades eruditas “savoir-faire” e automatismos de pensamento, sistemas de qualificação, meios de trabalho e dispositivos de avaliação comuns (que desmultiplicam), deste modo, as condições ideais de elaboração dos saberes. Todavia, esta divisão institucional (reforçada entre as Ciências e as Humanidades), teve (outrossim), como consequência tornar-se (muito mais difícil), a compreensão das situações de interface entre fenómenos materiais e fenómenos morais. 
Eis porque, das ciências que se fixaram como objecto as conexões entre as dimensões físicas e as dimensões culturais das atividades humanas (a Geografia, a Psicologia ou Etologia, por exemplo), se encontraram (finalmente), cindidas no interior (delas mesmas), facto que se anuncia nos defensores de uma ou de outra abordagem, cada uma (acabando), por se resolver, num divórcio (amigável), no melhor dos casos.


Posto isto, vamos abordar (então),  a questão que  se prende com o Universalismo e o Relativismo:

(1) A pesquisa de reguladores e a construção de invariantes estão de novo, na ordem do dia. Todavia, como combinar um empreendimento desta natureza, marcado com o selo do universalismo científico (com o carácter relativo do dispositivo conceptual), com a ajuda do qual exprimimos a nossa própria objectivação do Mundo? Ou (outrossim e ainda), como uma exigência de inteligibilidade antropológica aplicável à todos os Humanos pode ir (a par com) a verificação que os utensílios que empregamos nesta tarefa e constituir o produto contingente da trajetória histórica de uma única civilização? Eis porque (e por motivos óbvios), uma primeira etapa (no âmbito deste processo), consiste (precisamente), em se desembaraçar da oposição estéril e paralisante entre Universalismo e Relativismo. 
(2) Donde e daí, visto que estas duas noções constituem (de facto), mecanismos de decantação epistemológica (que transcrevem) a oposição da Natureza e da Cultura em credos incompatíveis, somos conduzido ao seguinte: 
a. À matéria e à vida, acordar-se-ão as Leis Universais
b. Às Instituições: as normas relativas. 
c. Entre os dois se situa “um pequeno jogo de bastidores”(que permite), à alguns “reduzir o relativo, invocando efeitos de determinação (que operam), por toda a parte, do mesmo modo” e à outros “lançar uma dúvida acerca da pureza dos procedimentos e das intenções na obra da produção das verdades científicas”. 
(3) Todavia (o que é facto), aos que não se satisfazem com uma tal situação, lhes é comum exprobar a cegueira ante à evidência obstinada dos factos e a propensão para dissipar na irracionalidade e no cepticismo moral. Impõe-se, no âmbito desta dinâmica (antes de mais), precisar que (de modo algum), recusamos a realidade, no atinente à atração terrestre ou à fotossíntese, tanto como contestar a enorme heterogeneidade das soluções que a Humanidade pôde fornir ao tratamento dos mortos ou à socialização das crianças. De sublinhar, que não se trata (evidentemente) da legitimidade do trabalho científico (que está em causa) e nem tão pouco da validade das explicações que (ele), elucida. Sim (efetivamente), trata-se, antes do quadro epistemológico convencionado, que muitos dos seus técnicos adoptam (espontaneamente) e da pretensão deste servir de padrão para apreciar tudo o que parece diferençar-se dele próprio. 
(4) Entretanto, se afigura (cada vez mais e mais), evidente, que a reificação das propriedades atribuídas à Natureza e à Ciência (em programas de investigação), das gnosiologias e dos sistemas de valores heterogéneos, só pode conduzir à um impasse, no âmbito do empreendimento que detém a nossa atenção, a saber a inteligência da diversidade das relações que os humanos estabelecem entre si e com o Mundo. 
(5) E, explicitando (adequadamente), temos então que:
a. No atinente à Matéria, a suspensão da apreciação quanto aos valores de verdade de tal prática ou de tal enunciado, se torna imperativo se (se) pretende (eternamente), avaliar a nossa apreensão e compreensão dos seres e das cousas (com a alna) de um protótipo transcendente. 
b. Eis porque, queremos (crer sobremaneira), que, por exemplo, uma terapia génica tem mais hipóteses de êxito que uma cura xamanística. Porém, definir a primeira como ancorada no real e no positivo e a segunda no simbólico e no imaginário, não computa a liberdade de espírito científico. 
c. De anotar (enfim), que visto que as propriedades (respectivas) destas duas técnicas de tratamento e cura, as combinações e as mediações que (elas), operam, as interações que (elas outrossim) suscitam, os cortes ontológicos que (elas) refletem e as circunstâncias do seu advento, tornam-se incomensuráveis, visto que o xamã se presta ao inquérito, numa posição derivada e em função do desvio (mais ou menos), quando for suposto exibir (em presença) dos critérios de verdade biológica e de eficácia terapêutica da Medicina moderna. 
d. Asseverar esta máxima não equivale à uma profissão de fé relativista (pois que o relativismo é possível apenas adossado, de modo, mais ou menos, aberto), no âmbito de uma ordem natural universal sobre um fundo do qual se destaca, com uma vivacidade incisiva: Uma infinidade de fórmulas culturais singulares. 
e. Donde, fazendo desaparecer (de modo assertivo), este fundo, sem negar (para tanto), a existência desta porção da realidade (que tem por missão), representar, eis porque, no âmbito desta lógica e dinâmica (respectiva), os motivos da antecena se recompõem, numa paisagem em que Natureza e Sociedade de Humanos e não-humanos (indivíduos e colectivos), já não se nos apresentam, como distribuídos entre substâncias, processos e representações, porém como expressões instituídas de relações entre entidades múltiplas cujo estatuto ontológico e a capacidade de ação variam consoante as posições que (elas) ocupam em relação às outras. 




E já agora e (em tempo:
Visto que a estabilização em quadros de pensamento e de ação da nossa prática do mundo (o que se poderia denominar: A “MUNDIAÇÃO”), se edifica em primeiro plano na nossa capacidade em detectar qualidades nos existentes e em inferir como consequência os vínculos/elos que estes últimos são susceptíveis de manter e as ações das quais são capazes, o nosso entendimento, nesta matéria, se configura mais consequente, por razões óbvias.
Uma Nota oportuna. Ou seja: O termo/expressão “MUNDIAÇÃO” que aqui utilizamos numa acepção dissemelhante da sua essência primordial é “um modo de traduzir o termo inglês “WORLDING”, forjado por autores pós-modernos e pós-coloniais com o fim de designar uma construção social e hegemónica da realidade encarada na óptica dos Ocidentais”. 


E, prosseguindo, o nosso Estudo, se nos impõe consignar (antes de mais), que não há (por conseguinte), quase nada a opor, como fá-lo (aliás), a Epistemologia modernista: Um mundo único e verídico, composto de todos os objetos e fenómenos (potencialmente), conhecíveis, aos mundos múltiplos e relativos que cada um de nós forja, no âmbito da sua experiência subjetiva do seu próprio e peculiar quotidiano existencial. 
Aliás é mais verosímil admitir (que o que existe fora do nosso corpo e em interface com ele), se apresenta sob espécies de um conjunto finito de qualidades e de relações (que podem), não ser atualizadas pelos humanos, consoante as circunstâncias e conforme as opções ontológicas que os guiam, não como uma totalidade completa e autónoma pendente (leia-se, outrossim à espera de), poder ser representada e explicada segundo diversos pontos de vista. 


Com efeito:
--- Nem protótipos platónicos (preparados para serem) capturados, mais ou menos (completamente), pelas nossas faculdades
--- Nem puras construções sociais (que dariam sentido e forma) à uma matéria prima bruta, aos objetos materiais e imateriais do nosso ambiente,  se resumem à uma pilha de qualidades, em que algumas são detectadas e outras ignoradas
--- A variedade de formas de “MUNDIAÇÃO” e a garantia que se possa estudá-la (cientificamente), decorria então do facto que a atualização diferencial das qualidades e das relações não se opera (ao acaso, irrefletidamente), porém que (ela) é guiada por inferências elementares quanto à atribuição das qualidades aos objetos (Humanos como não-humanos, reais como imaginários) e quanto aos tipos de elos/vínculos que unem estas qualidades
--- Eis porque (enfim e, em suma): Um empirismo modesto edificado sobre este género de Princípio basta para assegurar a possibilidade do trabalho antropológico, à saber descrever e sistematizar com a maior neutralidade cultural possível as dissemelhantes formas cujos organismos (um tanto ou quanto particulares), habitam  o Mundo, identificam nele (tal ou tal propriedade para o seu uso) e contribuem na sua transformação (urdindo com ele) e entre si: vínculos/elos constantes ou ocasionais (assaz diversos), todavia, não ilimitados (obviamente). 


Lisboa, 23 Outubro 2011
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).