Prática de Actuação Quarta:
“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895)
“Il faut qu’il y ait dans le Poeme un nombre tel qu’il empêche de compter”
Paul CLAUDEL (1868-1955)
Uma Pertinente Reflexão sobre o Húmus
Que enforma o conteúdo de verdade de:
SUBSISTÊNCIA
EXISTÊNCIA E
ESTABILIDADE/CONSISTÊNCIA:
(I)
Com efeito (por mais estranho que possa parecer), nos nossos dias de hoje, uma interrogação em compensação do teológico-político, a nova questão da crença em política não constitui um retorno ao religioso, mas o retorno do que terá sido recalcado através da “morte de Deus” e que (quiçá) só voltará (mais robusto), com a força de um espectro (se for verdadeiro),que é quando o pai for morto que (ele) se torna (mais robusto) e volta como espectro. Eis-nos (então) perante:
---A questão da consistência enquanto o que (não existindo),não pode gerar o objecto de cálculo e
--- A questão da consistência enquanto o que mantém distintos, porém (não opostos), motivo e ratio.
Donde enfim e, em suma: É a questão do que como existência virada para o consistente (que não existe) e que (neste qualidade), já se projectou (sempre) para além da sua única subsistência, compõe (com) o incalculável.
(II)
Dito de outro modo:
Só há Deus que, conquanto (não existindo), consiste. Há (outrossim), a Arte, a Justiça, as Ideias (em geral). A Justiça não existe (por certo) sobre a Terra e jamais existirá. Todavia, quem ousaria (por este facto) presumir que a sua ideia não subsiste e não merece (outrossim) ser preservada e mesmo cultivada (no seio) das jovens almas, que se educa nesse sentido (precisamente) porque a justiça não existe? Quem ousaria defender que visto que (de facto), a justiça não existe, seria preciso (por conseguinte) renunciar ao desejo de Justiça?
De sublinhar (antes de mais), que (na verdade), as ideias (em termos gerias) e não (unicamente a ideia de Justiça), as ideias (sejam quis forem), não existem: Elas apenas fazem assumir a essência.
(III)
Todavia, há (obviamente) diversas modalidades da inexistência das ideias, designadamente:
--- A ideia do triângulo não “inexiste”, ou seja não consiste, do mesmo modo que a ideia de abelha, que não consiste (do mesmo modo), que Deus, que não consiste (do mesmo modo), que o belo, ou que a virtude, que não consistem. Enfim (do mesmo modo), que o Idioma cabo-verdiano. Donde, se o Idioma cabo-verdiano não existe mais que a abelha, existe formas de falar o Idioma cabo-verdiano e abelhas em grande número. Todavia, o que distingue dois modos de falar o Idioma cabo-verdiano e duas formas de ser uma abelha é assaz dissemelhante e mesmo incomparável. Ou seja: A forma de falar o Idioma cabo-verdiano é constituída pela sua diferença idiomática em relação às outras formas, o que não é o caso da abelha em relação às outras abelhas, antes (porém) em relação aos outros insectos.
--- E quanto a Deus (ele) não existe absolutamente, o que não o impede de consistir (pelo menos) em algumas almas.
--- E no atinente ao belo (ele) se constitui (ainda) numa outra modalidade, que é o que KANT denomina o juízo reflexivo, que na nossa óptica e forma de ver, só existe por defeito, visto que a sua existência consiste neste mesmo facto que falta.
--- No que diz respeito à virtude, é necessário que (ela) seja (antes de mais) definida como elevação ou a nobreza de uma singularidade, que (precisamente), é incomparável e (nesta qualidade), jamais existe.
--- Do triângulo (enfim), dir-se-á que (ele), constitui uma idealidade matemática, que constitui um mundo (o dos matemáticos), todavia, este mundo que não existe, se encontra (no entanto), num modo de inexistência (completamente dissemelhante), da ideia de Deus: Ele fundamenta a Ciência!
--- Tal é a força das ideias, o seu poder, como asseverou FREUD. Tal é o poder do saber, do sápido, da sapiência. Tudo isto terá sido redistribuído (em profundidade) desde que Deus morreu e que os filósofos já não procuram (por conseguinte), em nada demonstrar as provas da sua existência. Uma vez, estando Deus morto, todavia, o diabo encontra-se ainda muito vivo. E como Beruf do trust (ingerindo e eliminando)m todo belief, corre o risco de arruinar a jamais o inelutável devir-industrial do Mundo.
(IV)
E para dizer (de outro modo), as ideias fazem falta. Trata-se, todavia, e (antes de mais) não diabolizar este diabo, que é (outrossim), uma força no jogo de forças que dá a força as ideias. De feito, temos necessidade (tão bem) da confiança que calcula e que supõe toda a crença, que desta diacronia em quê consiste a singularidade e que se encontra sempre tão virada para o diabelein que transporta no seu seio toda fé, a começar por esta fé em si que sustenta o singular.
Todavia, trata-se de combater a hegemonia da confiança calculante, que é autofagia e só pode engendrar o descrédito. Com efeito, se a morte de Deus, ou seja, a revelação da sua inexistência, não constitui (inevitavelmente) a anulação da questão da consistência, com o desenvolvimento do espírito do capitalismo, o devir calculável do que projectava, como existências (como singularidades), as consistências (as ideias, os saberes e os seus poderes), este devir, sem este porvir do qual não constitui (automaticamente), sinónimo, é o que tende a reduzir estas consistências em cinzas: As cinzas de subsistências inexistentes e inconsistentes. Insípidas (obviamente).
Lisboa, 23 Setembro 2011
KWAME KONDÉ