domingo, 3 de julho de 2011

O ARROZ DE PERDIZES

Do livro de José Quitério, já mostrado e falado:
A palavra para Mestre Fialho [Fialho de Almeida - escritor], ou melhor, para o mestre-cuco José Valentim [primeiro e segundo nomes de Fialho de Almeida]:

O meu arroz já por várias vezes mereceu as honras da Imprensa, e não admiro, porque ele é obra íntegra e cientificamente criada para lisonja dos mais subtis requintes gustativos.
V. quer que eu lhe mande por escrito a receita. Quando eu era médico acontecia pedirem-me também receitas por escrito; vai, não nas mandavam aviar...

[E vem então a receita do arroz de perdizes de Fialho. E continua a seguir José Quitério reintroduzindo Fialho]:

Receitado o pitéu, salte a historieta. Fialho de Almeida afirmou que este seu arroz de perdizes fez antecipar a Páscoa. Ouçamo-lo em diálogo com um amigo:

― E é então maravilhoso esse petisco?
Tão maravilhoso que uma vez antecipei a Páscoa com ele, de três dias.
― Como assim?
Estava a prepará-lo na rua da Condeça, em Sexta de Paixão, e nisto quatro argoladas na porta, de tremer. Vai a criada... era Nossa Senhora da Soledade, que saída na processão do enterro, vira de repente erguer-se do esquife o Salvador do Mundo, gritando «parem! parem!» ― mal lhe chegaram às ventas os perfumes ressurreccionais do meu arroz.
― Ressuscitou. E a respeito de subir ao céu?
Qual subiu ao céu! Jantou connosco. Sabe que sou médico. Pois muito à puridade lhe digo que foi também o único sucesso clínico na minha vida de doutor.