“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895)
Da pertinente questão que se prende com as Hemorragias cerebrais do Continente Africano:
(1) As políticas migratórias, no Norte, são perspicazes em reconhecer as suas necessidades em migrantes qualificados que braços para embalar os seus pimpolhos e acompanhar os mais velhos. Contudo, não se pode dizer que o rendimento cerebral dos políticos europeus da “imigração escolhida” seja (sobremaneira) competitivo.
(2) Os estudos estimam (presentemente) um incremento acentuado de migrantes educados, designadamente provenientes da África sub sariana para o Norte. A metade dos migrantes originários da Nigéria e da África do Sul e (aproximadamente) um terço dos migrantes originários do Quénia, do Gana ou da Etiópia possuem um nível de educação terciário. Todavia, muitos destes Africanos qualificados exercem nos países de acolhimento actividades não qualificadas, o que representa (à evidência) uma alocação (sub óptima) das competências à escala internacional.
(3) De sublinhar, que o impacto deste êxodo de competências no desenvolvimento dos países de origem coloca-lhes um problema enorme. Em parte nenhuma, esta “fuga de cérebros” não é mais chocante que, no âmbito do sector médico, numa época em que médicos, farmacêuticos e enfermeiras fazem (cruelmente) falta em África. De feito, o panorama não é nada brilhante (antes pelo contrário). Vejamos então a situação:
a. Enquanto em França 209 000 médicos tratam 62 milhões de habitantes, estão recenseados (apenas) 96 000 no Sul do Sara para uma população de 860 milhões de habitantes, seja um ratio de cobertura de mais de um a vinte entre a França e a África.
b. Duas vezes mais de médicos angolanos exercem em Portugal que em Angola e quase tantos clínicos senegaleses exercem em França que no Senegal.
c. No entanto (de sublinhar), que a França como o essencial dos países industrializados, continua a recrutar médicos Africanos, investindo somas importantes, no âmbito da Saúde Pública do sub continente.
O que não deixa de ser importante (sublinhar), é que este problema se amplificará, nos anos futuros, pois que a Europa tem uma necessidade (cada vez mais e mais), crescente de pessoal médico para tratar uma população idosa (cada vez) mais numerosa (todos os anos).
Perante uma solicitação crescente destas competências dos dois lados do Mediterrâneo e na ausência de medidas, visando tratar os efeitos nefastos desta fuga de cérebros, a Saúde Pública Africana, corre o risco de ser o grande perdedor de uma política do “laisser-faire”, com todo o cortejo de efeitos perversos, que se pode antecipar no domínio da propagação das epidemias e da evolução da fertilidade africana. Eis nos, ante uma recrudescência da mortalidade infantil, tendo (paradoxalmente), como consequência reprimir a baixa da natalidade.
A despeito de tudo, iniciativas pragmáticas principiam a emergir para gerir este dilema. Um exemplo, neste sentido, é a cooperação (no domínio da Saúde) entre a Grã-Bretanha e o Malawi, que consiste em incrementar a oferta de formação dos médicos e enfermeiras do país, aumentando (concomitantemente) as suas incitações para trabalhar no Malawi (designadamente), melhorando a gestão do ramo médico e, propondo complementos de salários). No entanto (e, sem embargo), a coerência tem um preço, visto que (ela) se acompanha de interdições de recrutamento de pessoal médico de proveniência do Malawi pela Grã-Bretanha, serviço privado e serviço público (somados).
E, em jeito de Remate assertivo:
(1) Modelos originais de cooperação e de permuta envidam em valorizar uma “circulação das competências”, em vez e no lugar do “êxodo das competências”. Inferindo-se da verificação das necessidades recíprocas e da existência de vantagens comparativas, o conceito de “migrações circulares” avançado por alguns especialistas das migrações internacionais abre pistas neste sentido.
(2) Donde, no âmbito desta dinâmica (ora enunciada), profissionais africanos seriam (por exemplo), formados em África ou nos países da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económicos (OCDE), trabalhariam (um tempo) no Norte antes de fazer beneficiar os seus países das suas experiências e savoir-faire.
(3) Se a história da imigração europeia incita à uma certa prudência (em presença de) cenários de migrações ditas “temporárias”, este esquema de mobilidade não contém (em si), nada de utópico, pois que é (presentemente) corrente no caso dos profissionais indianos.
(4) Com efeito, a Índia exporta (maciçamente) os seus estudantes para os Estados Unidos da América do norte e para a Grã-Bretanha e importa quadros (a meio de carreira), oriundos das melhores Universidades do Mundo e desejosos de beneficiar das oportunidades permitidas pela descolagem económica do seu país de origem e (incidentalmente), casar-se com uma Indiana que se quedou no país.
(5) Infelizmente, este esquema não é (ainda) o das permutas migratórias do mundo desenvolvido com a África sub sariana, que sofre de partidas nítidas e (frequentemente), definitivas de trabalhadores qualificados para o Norte.
Lisboa, 16 Março 2011
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).