domingo, 23 de janeiro de 2011

PRESIDENCIAIS - OS PROTAGONISTAS

Manuel Alegre
Cá se fazem, cá se pagam. A candidatura de Alegre, há cinco anos, contra Mário Soares, foi uma sacanice inqualificável que merecia a resposta que agora teve por parte do ex-amigo traído (Soares), por interposta candidatura de Fernando Nobre, a qual resultou plenamente na vasta poda que Nobre acabou por fazer no eleitorado do Senhor poeta que um dia sonhou, qual Menino que Pregava Pregos num Caixão, que era dono absoluto, certo e vitalício das opções e do voto do milhão de portugueses que votara nele há cinco anos, e não mais se preocupou em manter a coerência política relativamente ao passado (mesmo ao passado recente em que se manifestava contra Sócrates e o governo). Agora tramou-se. Alegre já não existe.

Fernando Nobre
Um servidor. Fez um serviço pessoalmente desprestigiante, a Mário Soares, consubstanciado numa campanha manhosa e bizarra de que restará apenas a memória do servicinho prestado a Soares e a frase «Dêem-me um Tiro na Cabeça», frase esta que por certo será recordada para sempre como constituindo e representando uma ilustração acabada de que na falta de ideias até se chega a dar puns com o convencimento de que com isso se está a dizer, não só alguma coisa, como ainda, alguma coisa relevante e séria. Nobre passou já à história. Adiante.


Defensor Moura
Outro servidor. Fez um frete de todo o tamanho ao PS; mas sobretudo a José Sócrates: cumpriu com rigor e evidente eficácia uma missão que também era pessoal ― a missão específica e vital de demonstrar aos portugueses que a santidade de Cavaco era tão real como os poderes ocultos da Santa da Ladeira ―. Passou clara e efectivamente esta mensagem; tão efectivamente que hoje em dia há uma grande quantidade de portugueses já convencida de que Cavaco conhecia o calibre dos seus amigos que constituíam a quadrilha que delapidou o capital do Banco Português de Negócios e que não tinha nem tem nada de ingénuo pelo que esteve sempre consciente sobre as “aplicações das suas poupanças” pelo BPN e os resultados que daí adviriam e advieram. Este é hoje um dado que se considera adquirido e praticamente imutável. É para sempre. A aura santa ou divina de Cavaco escaqueirou-se por completo.

Francisco Lopes
Cumpria-lhe trabalhar para manter viva, reiterar e reforçar a presença do PCP no panorama político português e na memória dos portugueses, como o verdadeiro partido político dos trabalhadores e o mais consequente opositor do centrão e da direita em Portugal. Para isso tinha de: não só manter uma certa expressão da “cassete” ortodoxa que já vem de Cunhal (contra “os especuladores e o grande capital financeiro”, por exemplo), como inovar, enriquecer, polir e burilar o discurso estafado e agreste do velho PCP trazendo assim o partido ao convívio com os mais novos e menos radicais, mas contestatários ferozes da política destruidora e ladrona que o neoliberalismo instalou no Ocidente através de governos e poderes vários protectores de autênticas quadrilhas de ladrões e malfeitores de toda a espécie que exaurem os Estados dos seus recursos e lançam populações inteiras no desespero, na miséria e (pior do que isso) na desesperança quanto ao futuro, mesmo a longo prazo. Conseguiu todos esses objectivos com distinção e mérito.
(Declaração de interesse: votei nele, como, aliás, já dissera que ia fazer).

Cavaco Silva
Ganhou as eleições. MAS ficou a ser mais bem conhecido. Desde logo perdeu aquela aura angelical, quase santa, ou mesmo quase divina, que tinha, merecendo hoje menor respeito e admiração que dantes. Em resumo: Cavaco humanizou-se ― melhor, foi humanizado ― e agora é mais um no meio de muitos. Isto é bom para a democracia.

José Manuel Coelho
Queria fazê-lo e conseguiu-o: dar uma grande bofetada em Alberto João Jardim e dizer ao país inteiro que este sistema em que se governa Portugal; este regime e esta gente são uma brincadeira de mau gosto que está e vai custar muito caro a todos os cidadãos. Fê-lo recorrendo ao humor, uma arma tão ou mais eficaz que todo um exército de jornalistas e comentadores que se propusesse à mesma finalidade.

Conclusão
O mundo continua a rolar;
a crise está aqui;
os protagonistas não mudaram
e o futuro é negro.

AMÉN!