Circula na Net esta ficha da PIDE que Cavaco Silva preencheu aos 28 anos de idade, isto é, em 1967.
Devo dizer que considero normais e naturais todas as respostas dadas por Cavaco Silva às questões colocadas naquela ficha.
Apenas no local subtitulado “observações” (OBS) é que acho ter havido um pecadilho (coisa menor) quando Cavaco Silva escreveu: «O sogro casou em segundas núpcias com F... com quem vive e com quem o declarante não priva».
Atendendo à época, às circunstâncias políticas e à idade então de Cavaco Silva, esse pecadilho é, no meu entender, perfeitamente desculpável e não configura nem de longe nem de perto uma denúncia da 2ª mulher do sogro, como os adversários políticos de Cavaco Silva pretendem que interpretemos o facto.
Falemos claro. Eu acho que Cavaco sabia que a 2ª mulher do sogro era “oficialmente” conotada pelo regime (leia-se PIDE) com «ideias subversivas». E, jovem como era (apolítico quase de certeza), Cavaco quis dizer à PIDE que não partilhava daquelas ideias. Não vejo que isso constitua a mínima razão para anatemizar o comportamento de Cavaco Silva naquele caso.
François Mitterrand «O grande resistente» anti-nazi; a grande referência do Socialismo nos anos oitenta e noventa; «O Imperador» da França em plena República; o grande referencial da Internacional Socialista em que militavam Olof Palme, Willy Brandt, Mário Soares e outros vultos políticos daqueles tempos não muito recuados ― dizia eu ― François Mitterrand nunca desmentiu cabalmente a acusação de que era alvo desde 1950, de que quando jovem colaborara com o Governo de Vichy, Governo fantoche de influência Nazi, na França ocupada pelos alemães, tendo inclusive recebido, em 1943 a “Ordre de la francisque” (uma distinção honorífica do regime de Vichy). O grande herói François Mitterrand colaborava então com um governo que cometeu em 1942 vários crimes contra refugiados judeus. E morreu sem se confessar traidor, mas os seus biógrafos consideram-no como tal.
Resultado ― Mitterrand foi perdoado pelos franceses e pela opinião pública em geral e mantém até hoje todas as suas virtudes reconhecidas e louvadas pelos franceses, a despeito ainda de se acreditar que durante os 14 anos em que foi Presidente da França teve 62 amantes (e uma filha, Mazarine, cuja mãe era menor de idade).
Porque não há homens absolutamente impolutos e divinamente virtuosos ― não se crucifique Cavaco Silva por causa da ficha da PIDE e o BPN; e Alegre por causa da publicidade do vate ao BPP e da trapalhada do cheque que não era cheque e da devolução do dinheiro por estafeta em plena era digital.
Mas que fique claro: este raciocínio não se aplica aos ladrões e bandidos que por aí andam. Alguns com quem Cavaco Silva até terá privado, certamente por desconhecimento! Mas aplica-se por inteiro a Aníbal Cavaco Silva. E só acho pena que Cavaco não responda claramente à questão sobre as acções da SLN, pois, se já o tivesse feito ninguém andaria (pre)ocupado com a conduta dele naquele caso.
